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Cadê minha boneca? Falta de representatividade racial nos brinquedos chama a atenção

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Mais do que falar sobre valores e ensinar, a demonstração da diversidade é crucial, pontua psicóloga


A infância é a fase de descobertas, criação do imaginário e o momento em que a criança começa a entender seu espaço e se reconhecer como parte da sociedade. Nesse contexto, a brincadeira pode não ser tão inocente quanto se pensa quando a representatividade não contempla a todos. Quer um exemplo desta realidade? Passe a notar a quantidade de bonecas pretas nas lojas brasileiras. 

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Apenas 6% de todas as bonecas fabricadas no Brasil são negras, segundo pesquisa da campanha “Cadê Nossa Boneca?”, divulgada neste mês pela organização social Avante. Isso significa que a cada 100 modelos de bonecas produzidos pela indústria brasileira de brinquedos, apenas 6 representam pessoas negras.


A cantora e advogada Dinha Dórea, 34, mãe do Francisco, de 10 anos, teve a sua primeira Barbie negra trazida dos Estados Unidos, já que no Brasil a sua mãe não conseguia encontrar. “Ela veio toda vestida de roupa africana e eu não me sentia representada, até mesmo porque não sou africana. Depois de um tempo consegui uma Barbie negra, mas também não foi comprada no Brasil”, conta.


As festas de aniversário da Dinha eram temáticas, de chapeuzinho vermelho, cinderela, mas negras. “Minha mãe ia no buffet e pedia para as personagens serem pintadas de preta. Sempre foi assim, ela falava que eu era a princesa dela”, relembra.


Na escola do seu filho Francisco, a advogada já percebe que a abordagem da temática racial está mais presente. “Já teve palestras, conversas com pais e sempre é necessário ter mais”, afirma.


Ao contrário dela, a comunicóloga Caroline dos Santos não viveu a representatividade na sua infância e cresceu se questionando. “Eu tinha Barbies, Pollies, mas elas não representavam de forma alguma a minha pele, então eu não conseguia me ver nas bonecas. Enquanto muitas outras meninas chamavam as bonecas de filhas ou irmãs, eu chamava de colega porque eu sabia que ela não fazia parte do meu círculo por não se parecer comigo”.



Carol conta que a falta dessa abertura na infância trouxe consequências para a sua vida adulta. “Impactou a longo prazo, em todas as minhas escolhas. Adulta é que percebo como fez falta não ter essa abertura, esses brinquedos”, reflete.


Para a psicóloga e publicitária Mylene Alves, uma das idealizadoras da campanha “Cadê nossa boneca?”, a representatividade na infância é algo essencial, pois nesse período tem-se a formação da nossa identidade.  Conforme explica a profissional, a representatividade no ato de brincar na primeira infância deve propiciar que a criança descubra o que é a sociedade que ela compõe. “A boneca, no caso, é um exemplo que representa os seres humanos, as pessoas. Idealmente, o contexto do brincar está inserido na sociedade brasileira que hoje contém 56% da população autodeclarada negra. É inadmissível, portanto, que essas bonecas não correspondam à sociedade”, destaca.


A psicóloga pontua que na escola mais do que falar sobre valores e ensinar, a demonstração é crucial. “A força das atividades lúdicas deve fazer parte do ensino. Ter ferramentas que possam simular esse processo de forma mais concreta é ainda mais importante. Acredito que a boneca negra se encaixe como importante ferramenta no contexto do brincar, na comunidade que as crianças fazem parte”, afirma Mylene.


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A falta dessa construção representativa na infância reflete também na vida adulta e no mercado de trabalho, ainda muito carente de ações de inclusão afirmativa. Em setembro deste ano, a rede varejista Magazine Luiza anunciou seu programa de Trainee exclusivo para pessoas negras. A iniciativa virou alvo de polêmica e ação judicial, mas a rede se pronunciou dizendo: 


“Estamos absolutamente tranquilos quanto a legalidade do nosso Programa de Trainees 2021. Inclusive, ações afirmativas e de inclusão no mercado profissional, de pessoas discriminadas há gerações, fazem parte de uma nota técnica de 2018 do Ministério Público do Trabalho”, escreveu a Magazine Luiza em sua rede social.


A psicóloga Mylene Alves vê a atitude da rede varejista como forma de inclusão afirmativa. “É uma questão de percepção e entendimento do racismo estrutural que faz com que negros e negras no país não tenham a capacidade de se sentir aptos a concorrer a uma vaga. O programa mudou não por marketing, mas porque entendendo que não havia diversidade suficiente na empresa, algum fator para a entrada de mais negros era necessário.”


Fonte: Agência Educa Mais Brasil


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