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Estatísticas e seus erros com verniz científico

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Quando o objetivo é causar sensacionalismo e pânico, o melhor instrumento é espalhar hipóteses e projeções sem critérios, mas vestidos da fantasia de ciência. A estratégia é antiga e eficiente: inventam-se autoridades científicas para emplacar teses falsas ou exageradas que alimentem o medo na população. Por outro lado, fazer previsões acertadas depende do nível de conhecimento sobre o objeto para delimitar o maior número de variáveis que interferem no problema.


Foi publicada no site ac24horas, hoje, uma tabela simples de simulação de óbitos por Covid-19 em função da proporção da população contaminada produzida por alunos de economia da UFAC participantes do Programa de Educação Tutorial (PET). Na tabela, estudantes usaram uma taxa de mortalidade dos casos confirmados nacionalmente (5,5%) e aplicaram o número para o Brasil e o Acre em suposições crescentes de casos confirmados de até 60% da população: concluem, então, que haverá quase sete milhões de mortes no país e mais de 29 mil mortes pelo vírus no estado. Os números causam pânico e as conclusões espúrias alimentam o medo.

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No Brasil, até o dia 13 de abril foram contabilizados 23.753 casos confirmados por exames de coronavírus e, infelizmente, 1.355 mortes ou 5,7% dos confirmados. No Acre, segundo o Ministério da Saúde, foram confirmados 90 casos e 3 mortes ou 3,4% dos confirmados. Os dados reais acima não permitem os estudantes inferirem arbitrariamente 5,5% de mortes de casos confirmados para o Brasil a serem projetados para o Acre. As taxas de mortalidade se diferenciam, e muito, entre países e estados federados.


Ademais, não há testes em massa, portanto não sabemos quantos já estão infectados. Evidentemente, novos dados mudariam por completo as atuais taxas de mortes dos casos confirmados. Só isso bastaria para refutar por completo a tabela pânico de alguns alunos da UFAC. Consideramos o caso como um exercício estudantil que ao ser publicado tomou ares de ciência sem ser. Na realidade, estamos no escuro sobre o percentual de infestação das populações. Não há possibilidade de testar todos os brasileiros para termos a certeza de quantos já foram infectados.


Os números e as proporções são diferentes entre os países. Nos Estados Unidos foram confirmados 587.357 casos com 23 649 mortes ou 4% dos confirmados. Na Espanha, os dados mostraram 172.655 casos confirmados com 18.150 mortes ou 10,5% dos casos. Na Itália, houve a confirmação de 159.516 casos com 20.465 ou 12,8%. Há variações drásticas na taxa: Alemanha houve a confirmação de 130.400 com 3.217 mortes ou 2,5%; em França, houve 98.076 casos confirmados com 14.967 mortes ou 15,3%.



A variação tão drástica dos números proporcionais de mortes dos casos confirmados indica a imprecisão pela baixa cobertura da população por testes. Na Coreia do Sul, foram 10.564 confirmados e 222 mortes ou 2,1%, no Japão 7.645 e 109 mortes ou 1,4% e no México, para citar exemplos variados e com políticas de saúde variadas, houve a confirmação de 5.014 casos confirmados com 332 fatalidades ou 6,6%.


No Brasil, as diferenças de mortalidade entre os estados e a cobertura por exames são ainda maiores. Vale a pena citar alguns: Amazonas 5,6% de mortes dos casos confirmados, Roraima 2,6%, Rondônia 4,7%, Pará 4,5%, Amapá 2,4%, Ceará 5,2%, Rio Grande do Norte 4,7%, Minas Gerais 3%, São Paulo 6,8%, Rio de Janeiro 5,8% e Paraná 4,3% de mortes dos casos confirmados.


O fato indica que há uma miríade de fatores que interagem e contribuem para o comportamento do vírus e da moléstia. A qualidade de previsão dos modelos matemáticos e econométricos se dá justamente na identificação e composição entre os principais fatores interferentes. O fenômeno é multifatorial e não haverá previsões sérias com o uso de variáveis simples: entram na determinação das projeções variáveis complexas não meramente biológicas tais como o clima do local, a composição etária da população, a interferência de doenças pré-existentes, o apoio dos serviços médicos, a cobertura com exames e o uso de tratamentos eficazes, dentre inúmeras outras variáveis.


Induzir pânico em nada ajuda o país e os acreanos a enfrentarem a crise gerada em parte pelo vírus originado na China e em parte pelo massacrante noticiário sensacionalista. Não acreditem em tudo que é falado em nome da ciência. A tabela pânico dos alunos jamais poderia ter deixado o status de exercício estudantil e deveria ter sofrido críticas construtivas do professor orientador, aquele que calibra, corrige e aponta a metodologia científica a ser adotada. Lamentável a contribuição dos estudantes para aumentar a mitologia e o medo entre a população vulnerável a falsas hipóteses.




 

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Por Márcio Bittar – senador do Acre (MDB). 


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