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Enfrentando a distração 

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A distração é a principal inimiga da atenção. Metaforicamente falando, a distração faz com que a atenção fuja por entre os nossos sentidos, agindo como se fosse um ímã a atrair tudo aquilo de que precisamos para focar com adequação aquilo que queremos aprender. Antes de tudo, contudo, é necessário esclarecer que a distração é um fenômeno comum a todos, principalmente porque representa uma forma do cérebro tentar se esquivar daquilo que queremos que ele aprenda – é como o cavalo que não quer seguir o caminho que lhe apontamos. No entanto, com algumas técnicas e precauções é possível que enfrentemos com sucesso a distração, principalmente na sala de aula e nos nossos ambientes de estudos. Neste sentido, este ensaio tem como objetivo mostrar alguns procedimentos que podem ser úteis durante o processo de aprendizagem para lidar e vencer a distração.


Quem ainda não sentiu a experiência de ter que prestar atenção no que o professor está falando, mas o rostinho encantador da colega do lado é tão angelical que nossa visão prefere se voltar para ela do que para a aula? Ou aquele colega gozador, que por mais chato que seja consegue prender nossa atenção? E o que dizer do trejeito engraçado do professor, que não nos deixa parar de rir, ainda que interiormente? Quantas vezes a vontade de que o tempo passasse depressa para que pudéssemos encontrar os amigos depois da aula nos incomodou tanto que perdemos a noção do que se passou na aula?

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Os inimigos da atenção são numerosos e estão em todo lugar. Estão nos colegas, no ambiente de estudo, nos instrutores, dentro de nós e principalmente nos nossos pensamentos e sentimentos. Para vencer a todos eles, o mais recomendado é focar o processo de aprendizagem e não o aprendizado, que se consolidará apenas muito no futuro, principalmente quando o que se pretende aprender é complexo e doloroso, como é o caso de matemática, ciência e linguagem. A primeira recomendação é essa: concentração no que vai ser aprendido naquele dia, naquela hora, naquela aula. Mais especificamente, tente se concentrar na busca pela resposta à seguinte pergunta: qual é a lógica disso que estamos estudando? E logo em seguida, para que serve isso, como vou usar isso e onde vou usar?


Bons professores, na verdade, começam as aulas contextualizando o assunto. Mostram inúmeras situações do dia a dia que só poderemos compreender com adequação se entendermos a lógica que ele vai apresentar naquela aula ou série de aulas. Mas bons professores dessa forma são raríssimos ainda, o que nos coloca na obrigação de fazer perguntas para que a aula tenha essa lógica: a) mostrar a lógica do assunto, b) como o assunto é usado e c) para que finalidades pode ser utilizado. A busca por essas respostas vai fazer o seu cérebro se concentrar em cada sílaba do que o professor falar ou escrever. É provável que essas três coisas se transformem em mais importantes, naqueles momentos, do que a rostinho bonitinho da colega ou as piadas dos demais.


Se isso não for suficiente, tente se sentar na primeira fileira de carteiras, de preferência próximo ao professor. Essa estratégia permite maior captação do som da fala do mestre, que vai abafar um pouco as conversas paralelas dos colegas e até mesmo a desrespeitosa mania de um tocar o outro para chamar a atenção. Para os mais insistentes, tente negociar com eles lhe deixarem tranquilos para que você aprenda o assunto e depois lhes ensine. O que importa é que você consiga uma forma de neutralizar os efeitos dos outros sobre sua atenção.


Dois grandes fatores distratores são a necessidade de ir ao banheiro e tomar água. Faça isso sempre antes da aula, lembrando que é sempre possível ficar duas horas sem precisar fazer essas necessidades, desde que haja precaução neste sentido. Também é necessário que todos os materiais e equipamentos didáticos de que você precise estejam disponíveis. Um lápis sem ponta ou caneta que não funciona é tão cruel com a atenção quanto o calor da sala de aula e a voz incompreensível do professor fanho e gago. Tenha a garantia, portanto, de que todos os recursos estejam ali e em condições adequadas de uso. As condições ambientais, por último, como calor/frio, barulhos da rua, ventos e similares, precisam ser negociadas com a direção da instituição. Celular, finalmente, pode ser tanto amigo quanto inimigo mortal da atenção. Neste caso a regra é: se não for usar para entender a lógica da coisa, seu funcionamento e seu uso, desligue-o completamente.


Nos seus locais de estudos particulares provavelmente você terá mais condições de controlar os distratores ambientais. Você pode abaixar o volume da televisão ou do som (o mais recomendável é desligar), pedir para que ninguém o incomode ou trancar seu quarto, desligar o celular e assim por diante. Naturalmente que, se essas coisas não lhe incomodam, você pode se considerar como potencialmente imbatível na atenção. Quem tem dificuldade de aprendizagem se distrai com facilidade com barulho, o que significa que precisam enfrentar e vencer essas dificuldades para que outras portas de comunicação com o cérebro possam ser acionadas e utilizadas.


Se, ainda assim, seu poder de concentração tender para a procrastinação, utilize a técnica pomodoro. Essa técnica consiste em se desafiar a ficar durante 25 a 30 minutos com atenção focada no assunto que você quer aprender. Para isso, use um cronômetro para registrar o tempo. Assim que for dada a largada, force a concentração e se mantenha assim durante esse curto espaço de tempo. Depois relaxe. Dê-se um tempo. Faça coisas que considera agradáveis. Depois enfrente novamente a distração por mais 25 a 30 minutos de concentração no estudo. Repita o procedimento até obter o aprendizado pretendido.


A distração pode ser vencida. Ela representa uma forma de negação do cérebro em focar aquilo que queremos. Ela se fortalece com os distratores pessoais, grupais, ambientais e psicológicos. Para cada um deles há pelo menos uma forma de superação. Conheça-as e utilize-as. Ao fazer isso você estará ensinando a seu cérebro que o que você quer aprender é tão interessante quanto qualquer outro interesse dele.




 


 

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Daniel Silva é PhD, professor, pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM)e escreve todas às sextas-feiras no ac24horas.  


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