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No Juruá, Ministério Público do Acre já alcançou mais de 400 jovens com música e cidadania

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O Conservatório de Música do Juruá, em parceria com o Exército Brasileiro, foi inaugurado em 2016 e os alunos têm aula de instrumentos musicais e de canto três vezes por semana. Professores e manutenção das instalações físicas são garantidos pelo Ministério Público e parceiros: Tribunal de Justiça, Governo do Estado e Prefeituras de Cruzeiro do Sul e Marechal Thaumaturgo. Na porta do Conservatório de Música do Juruá, a inscrição “Musicalizando Pessoas com Amor e Com Carinho” resume um pouco da história do lugar. Onde, inicialmente, moravam religiosos e, depois, abandonado por muitos anos, foi ocupado por usuários de drogas, agora ressoam músicas, do pop ao clássico. Os jovens que vivem na região, que é rota do tráfico, onde as policias civil e militar apreenderam 324 quilos de cocaína e maconha nos últimos 30 dias, executam óperas em latim.


Não é só música. É cidadania que o Ministério Público do Acre garante aos jovens de Cruzeiro do Sul, por meio do Conservatório de Música do Juruá. São aulas de canto e de instrumentos, tênis de mesa e xadrez. Mas a ação do Ministério Público vai além da musicalidade. Abre mentes e portas para crianças e adolescentes da região mais rica em biodiversidade da Amazônia, fronteira com o Peru, rota de tráfico e sem grandes oportunidades de cultura, lazer e erudição musical.

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Em dois anos, o Conservatório já alcançou 400 jovens de famílias pobres de Cruzeiro do Sul, que se tornaram talentosos músicos e cantores do Coral. A música os levou longe: tocaram em Brasília para o Presidente Jair Bolsonaro, para os ministros do Superior Tribunal de Justiça e em outras casas do poder central. Até o fim do ano, a agenda do grupo está lotada, com apresentações em Rio Branco e Cruzeiro do Sul e gravação de um clip gravado em frente à Catedral Nossa Senhora da Glória.


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As transformações na vida de cada um desses jovens atestam que a música, as viagens, o compartilhamento, o suporte do Ministério Público resultou no afastamento de alguns deles da situação de vulnerabilidade ao mundo do crime, na inclusão social, na elevação da autoestima, no fortalecimento de vínculos familiares e em geração emprego e renda.


As histórias que eles e os pais têm para contar são fortes e numerosas. Incluem riscos, dificuldades, sonhos e superação. Na casa pobre da periferia de Cruzeiro do Sul, a mãe da jovem Joicicleide, de 16 anos, Jecina Lima da Silva – que tem outros três filhos -, conta emocionada o que houve na vida da adolescente desde que ela começou a frequentar as aulas de canto no coral do Conservatório. “O Ministério Público tirou minha filha de perto do crime e salvou a vida dela. A Joici chegava da aula e ia para uma casa ali em cima onde funciona uma boca de fumo. Fui buscar ela lá várias vezes e um dia ela levou um ‘bacu’ da polícia. Eu já levei a Joici no promotor e no juiz de menores e nada dava jeito. Aí um dia ela viu uma apresentação do Conservatório, foi lá e começou a cantar. Agora ela chega da aula e vai a pé, mais de uma hora de caminhada, para o Conservatório. Eu nunca imaginei ela saindo de Cruzeiro e ela foi para Brasília cantar para o Presidente da República”.


Joici conta que já presenciou o uso de drogas, mas não chegou a usar. “Eu não gostei do cheiro da maconha e fiquei enjoada. Mas agora isso parece tão distante de mim. Meu foco agora é outro: eu só penso em progredir na música. Quero ser cantora”.


Na casa das irmãs Evelim e Jeniffer, o Conservatório de Música é aplaudido pela mãe e pelos avós das meninas, pessoas simples, de pouco estudo, que ouvem, felizes e orgulhosos, as meninas cantando ópera em casa. Ex-seringueiros e agricultores, acostumados ao som do rádio, que levava notícias e músicas até os seringais e colônias no Alto Juruá, onde seu João Manoel Brito, 95 anos, matava onças, não sabiam o que era uma soprano, até que a neta Evelim, de 14 anos, disse que tinha uma dessas vozes raras e preciosas no meio da música . “É lindo ouvir minhas netas cantarem . Me lembra os mistérios da floresta. Parece que eu volto no tempo e escuto os pássaros e até os esturros das onças na floresta, porque em 1940 tinha era onça mesmo ali no Alto Juruá”.


A outra neta de seu Manoel e dona Maria, Jeniffer, a mais nova, com 11 anos, conta que cantar a livrou de uma sensação de pânico, que a levava a quase desmaiar, que sentia ao estar em público. “Eu não tenho mais vergonha, canto e esqueço qualquer dificuldade. A música me deixou uma mais segura e isso é muito importante quando eu tiver que falar em público e procurar emprego”.


O pai de Weverton Costa, o Jamilson Souza, que é vigia e pedreiro, conta que o garoto de 14 anos, ficava a maior parte do tempo nos jogos e redes sociais no computador, sem muita interação familiar, situação que mudou com o violino que ele toca no Conservatório e em casa. “Meu filho está mais presente na família e a música veio como um elo para nós. Ele se comunica, se interessa em mostrar as novidades que aprende e eu, que sempre trabalhei duro, ouço o som delicado do violino e vejo a concentração dele nesse mundo da música, fico esperançoso em um futuro melhor para ele ligado à música”.


Da tribo indígena Puyanawa, Eriton Gondim, é fã de Bethovem, toca violino, quer ser maestro e sonha em formar um coral dentro de sua aldeia, com seu povo: música clássica na floresta. Ele se apresentou para o Presidente da República em Brasília, com o cocar indígena e sentiu orgulho em representar toda a população indígena acreana.


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“Todos vieram falar comigo e me dar os parabéns depois das apresentações. Eu quero fortalecer a tradição de meu povo com a música, que é universal, não tem de branco ou de índio. À medida em que vou aprendendo, vou ensinando para os primos e amigos e sonho em ter uma orquestra com a diversidade de índios e não índios. Sonho com música clássica na floresta”, conta o garoto, que ganhou da mãe um violino no valor de R$ 470.


Eronildes Puyanawa, que vende salgados no Balneário Igarapé Perto, o mais tradicional ponto turístico de Cruzeiro do Sul, conta que comprar o violino para o filho foi uma alegria. “Meu filho nunca teve vergonha de ser índio e o Presidente o parabenizou pelo talento com a música e por representar a Amazônia. Ele ficou ainda mais orgulhoso de nosso povo. Eu mostrei para todo mundo as fotos”.


A música abriu não só as mentes, mas também, portas. Ex-alunos do Conservatório estagiam no Ministério Público e também contaram com contratações e aprovação em concurso público, graças ao Conservatório.


Adriano Viana, de 24 anos, é um ex-aluno e recentemente foi contratado pela Fundação de Cultura do governo do Estado do Acre como professor de música em escolas públicas de Cruzeiro do Sul. Ele acaba de ser aprovado em concurso público como cabo músico do Exército Brasileiro, graças ao que aprendeu no Conservatório de Música do Juruá. Será empossado em dezembro com salário de R$ 3.800.” Eu sou de família pobre e sei o valor de tudo o que vivi desde que entrei no Conservatório até aqui. Nesse meio tempo eu casei, virei pai e agora passei em um concurso público. Vou viver de música como sempre sonhei. Esse projeto do Ministério Público me levou muito mais longe do que imaginei e sou muito agradecido”.


O Juruá é rota do tráfico internacional e ganhou Grupo Especializado da Fronteira

É neste cenário, que o Conservatório de Música do Juruá, se firma como ferramenta de transformação na vida de jovens acreanos.


O Rio Juruá nasce no Peru, país vizinho, segundo maior produtor de cocaína do mundo, perdendo apenas para a Colômbia. É pelas águas do manancial, de outros menores e trilhas na mata, que chega a maior parte da droga que passa pela região, com destino para vários lugares do planeta. No dia 25 de outubro, o recém instalado Grupo Especializado de Fronteira – Gefron e a Polícia Militar de Cruzeiro do Sul, apreenderam 290 quilos de entorpecentes no Juruá, sendo metade de maconha e metade, cocaína. Na última terça feira, a Polícia Civil de Cruzeiro do Sul apreendeu 24 quilos de cocaína e maconha em um ônibus de passageiros na Variante, saída para a BR-364.



O ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, que oficializou em Cruzeiro do Sul, no último dia 18, a criação do Gefron e do Programa Vigia no Juruá, ressalta que as apreensões de drogas devem aumentar na região. “ Este ano já apreendemos 80 toneladas de drogas e agora com os Grupos de Fronteira, esses números vão aumentar. Precisamos seguir essa linha de identificar, isolar e condenar as lideranças e confiscar os bens. Enviamos aqui para o Acre recentemente, um helicóptero apreendido em uma grande operação da Polícia Federal e que agora é usado no combate ao crime organizado no Estado do Acre. Então a população vai sentir a diferença das ações tomadas agora nessa região de fronteira”, destacou o ministro.


Como operador das Leis, o idealizador e criador do Conservatório de Música do Juruá, promotor Iverson Bueno, conhece essa realidade do crime de tráfico no dia a dia de seu oficio e sabe, como ninguém, da importância das oportunidades para a construção de um futuro diferente para os jovens. Além de mentes e portas, o Conservatório do Juruá, abrirá também espaço em outras cidades acreanas.


O promotor afirma que a credibilidade do Ministério público dá respaldo ao Conservatório, o que possibilitará a expansão do projeto para outros municípios.


“Nossa intenção no começo era tirar os jovens da ociosidade e agora eles estão cantando ópera em latim e aprendendo a ler partituras, que é a linguagem universal da música. E muitos mais: esses jovens evoluíram mental e pscicologicamente, como pessoas e cidadãos. E como o projeto se tornou referência no estado, vamos abrir sub-sedes em outras cidades do interior, como Marechal Thaumaturgo, Porto Walter, aqui no Juruá, e na região do Alto Acre que, como aqui em Cruzeiro, deverão contar com importantes parcerias”, citou.


Em um novo formato do Ministério Público, o Conservatório de Música do Juruá ficará sob gestão da Procuradoria Geral de Justiça do MPAC e não mais da promotoria de Cruzeiro do Sul.


O promotor, que é tido como um paizão dos alunos do Conservatório, diz que o objetivo de fazer da música instrumento de mudança na vida dos alunos, é cumprido aos poucos, com a inserção social deles e conquistas do grupo. O Teatro dos Nauas, em Cruzeiro do Sul, passará a ser usado pelo Conservatório, em uma parceria com o governo do Estado, por meio da Fundação Elias Mansur.


“As conquistas são coletivas e individuais. O conservatório está impactando e melhorando vidas. E eles estão fazendo algo incrível aqui, alcançando uma nova visão do todo, vencendo seus medos, se organizando para a vida profissional. Estamos preparando esses jovens para o futuro. Além da música, jogos que despertam o raciocínio lógico, como xadrez e tênis de mesa e oratória agregam ainda mais oportunidades para eles. São treinados agora para que deem palestras, sobre o Ministério Público, Meio Ambiente e outros temas relevantes. Para isso, damos o suporte necessário e eles já demostraram sua capacidade. Nas nossas apresentações de fim de ano, vamos apresentar ópera com coral, orquestra e banda e vamos executar alguns clássicos como Aleluia e Nessun Dorma e vamos seguir levando música para a vida das pessoas e avanços pessoais e profissionais para esses jovens, que sabem aproveitar as oportunidades com entusiasmo e talento”.


“O Ministério Público tirou minha filha de perto do crime e salvou a vida dela. A Joici chegava da aula e ia para uma casa ali em cima onde funciona uma boca de fumo. Fui buscar ela lá várias vezes e um dia ela levou um ‘bacu’ da polícia. Eu já levei a Joici no promotor e no juiz de menores e nada dava jeito. Aí um dia ela viu uma apresentação do Conservatório, foi lá e começou a cantar. Agora ela chega da aula e vai a pé, mais de uma hora de caminhada, para o Conservatório. Eu nunca imaginei ela saindo de Cruzeiro e ela foi para Brasília cantar para o Presidente da República”, disse dona Jecina.

Joicicleide e a mãe Jecina – Foto: Sandra Assunção

“Eu não gostei do cheiro da maconha e fiquei enjoada. Mas agora isso parece tão distante de mim. Meu foco agora é outro: eu só penso em progredir na música. Quero ser cantora”, relatou Joici.

Jennifer e Evelin com a sua família – Foto: Sandra Assunção

“Eu não tenho mais vergonha, canto e esqueço qualquer dificuldade. A música me deixou uma pessoa mais segura e isso é muito importante quando eu tiver que falar em público e procurar emprego”.

Adriano Viana – Foto: Sandra Assunção

“Eu sou de família pobre e sei o valor de tudo o que vivi desde que entrei no Conservatório até aqui. Nesse meio tempo eu casei, virei pai e agora passei em um Concurso Publico. Vou viver de música como sempre sonhei. Esse projeto do Ministério Público me levou muito mais longe do que imaginei e sou muito agradecido”.

Jamilson Souza e o filho Weverton – Foto: Sandra Assunção

“Meu filho está mais presente na família e a música veio como um elo para nós. Ele se comunica, se interessa em mostrar as novidades que aprende e eu, que sempre trabalhei duro, ouço o som delicado do violino e vejo a concentração dele nesse mundo da música, fico esperançoso em um futuro melhor para ele ligado à música”.

Eriton Gondim e sua mãe – Foto: Sandra Assunção

“Eu quero fortalecer a tradição de meu povo com a música, que é universal, não tem de branco ou de índio. À medida que vou aprendendo, vou ensinando para os primos e amigos e sonho em ter uma orquestra com a diversidade de índios e não índios. Sonho com música clássica na floresta”.

Promotor Iverson Bueno ao lado do presidente Jair Bolsonaro e do maestro do Exército Brasileiro, Alexandre Sérgio – Foto: Reprodução

“As conquistas são coletivas e individuais. O conservatório está impactando e melhorando vidas. E eles estão fazendo algo incrível aqui, alcançando uma nova visão do todo, vencendo seus medos, se organizando para a vida profissional. Estamos preparando esses jovens para o futuro. Além da música, jogos que despertam o raciocínio lógico, como xadrez e tênis de mesa e oratória agregam ainda mais oportunidades para eles”.

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