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Após onda de fogos do CV, PMs do Acre são acusados de torturar estudante homossexual

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O bairro da Lagoa, localizado na cidade de Cruzeiro do Sul, região do Vale do Juruá, foi um dos locais em que supostos integrantes de organizações criminosas fizeram uma queima de fogos na noite dessa quinta-feira, 21, para anunciar que estariam ‘tomando’ o comando da área. Após esse episódio, outra situação – tão tensa quanto esta, fora presenciada por moradores desse bairro cruzeirense, mais precisamente na região conhecida como “trapiche”.


O estudante J.P.S, de 23 anos, afirma ter sido torturado por quatro policiais militares durante uma operação militar de resposta à queima de fogos feita pelos supostos membros de facção. O jovem alega ser inocente e isento de qualquer envolvimento com o crime, mas que mesmo assim, tem sido vítima de ações truculentas da Polícia Militar em Cruzeiro do Sul.

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“Foi por volta das 23h15. A PM fez como se fosse uma operação nos bairros de Cruzeiro do Sul. Equipes do Grupamento de Intervenções Rápidas e Ostensivas (Giro) entraram no bairro onde eu moro [bairro da Lagoa] e vieram na minha casa”, conta J.P.S. Ele relata que atualmente mora sozinho numa casa alugada e que, anteriormente, era ocupada por pessoas que “não eram boas peças”.


“Eles [PMs] bateram na minha porta, chutando para arrombar, e acordei atordoado. Perguntei quem era e eles falaram que era a PM e se eu não abrisse a porta eles iriam arrombar”, detalha. O jovem destaca que, como não deve nada na Justiça, abriu a porta. “Eles não esperaram nem eu terminar de abrir a porta, quando tirei a corrente do cadeado, já meteram o pé e deram um tapa na minha cara, e continuaram me espancando”.


Questionado, o rapaz garantiu que esta foi a primeira vez que policiais invadiram o local em que mora, mas que já presenciou atitudes semelhantes em residências vizinhas e até mesmo na casa de sua irmã. “Já entraram na casa da minha irmã. Para eles [policiais], quem mora nessa região são todos bandido”, sugere.


A agressão possivelmente sofrida por J.P.S pode não ter sido a única. Um áudio encaminhado por outra moradora, que não quis se identificar, garante que outras residências também foram invadidas pela polícia. “Saíram arrombando todas as casas. Aqui moram pessoas de bem também, crianças. Tenho quatro filhos menores e eles chegam aqui e metem o pé mesmo [na porta]. Não querem saber se têm crianças, só querem saber de maltratar e de bater. Estamos procurando uma melhoria quanto a isso, porque esse aqui é um bairro esquecido”, lamenta a mulher.


“Não sou confundido, eles fazem isso porque sou homossexual”

J.P.S diz não entender o motivo das agressões. Em contato com três vizinhos, todos relataram ao ac24horas que o jovem é “uma pessoa de bem”. Atualmente, frequenta cursos no Senac e no IPB, em Cruzeiro do Sul. Desempregado, o rapaz de 23 anos garante que teve de trancar a faculdade, mas que ainda sobrevive em função do recebimento de um benefício social.


“Eles [policiais] não me confundem. Eles me conhecem, sabem que não faço nada de errado, que não sou do crime. Eles fazem isso pelo simples fato de eu ser homossexual. Muitas vezes já me bateram, esta não foi a primeira vez, mas não vou esconder uma coisa que eu sou”, relata. O estudante conta que durante a sessão de tortura, os policiais colocaram um saco em sua cabeça para sufocá-lo.


“Em seguida um dos policias me enforcou até eu desmaiar. Me bateram com um terçado, ainda tenho os hematomas. Cada um estava com uma arma maior que a outra apontando para mim. Os vizinhos ouviram as pancadas”, diz. Ele atesta que não possui passagem pela polícia e nunca foi preso. “Nunca fui pego com nada porque não mexo com essas coisas. Eu não sei o porquê dessa rixa deles comigo”.


Após buscar atendimento médico, a vítima procurou o Ministério Público do Estado no município nessa sexta-feira, 22. “Também registrei Boletim de Ocorrências e fiz exame de corpo de delito no Instituto Médico Legal (IML). Vejo isso como uma tentativa de homicídio, pois eles apontaram arma para mim e me ameaçaram de morte. Espero que a justiça seja feita, estou até com medo de andar na rua”, explica.


O jovem comenta que até entende a ação policial de querer acabar com a criminalidade na região, “mas isso já está ultrapassando os limites. Não podem fazer isso. Vou procurar meus direitos sim, porque me senti constrangido e ameaçado, agiram com preconceito comigo”. Uma vizinha completou a situação relatando que, no bairro, todos estão temerosos com essas ações que vem sendo realizadas pela polícia.


“Temos medo deles [polícia] entrarem aqui e matar a gente que somos de bem [sic]. Queremos que os agentes façam seus trabalhos com honestidade, pois eles não têm o direito de entrar na casa de ninguém sem uma ordem judicial ou querer que a gente assuma coisas que não somos e nem usamos”, diz uma moradora.

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O que diz a Polícia Militar

O ac24horas falou com o Major Evandro, de Cruzeiro do Sul, que está fazendo curso fora do Estado. Ele diz que, formalmente, ainda não tem conhecimento do ocorrido. “Se chegar, a denúncia será verificada em procedimento específico, caso haja fundamentos. Porém, já adianto que nossos policiais trabalham dentro da legalidade e os criminosos usam muitas facetas para afastar o policiamento de suas áreas de atuação”, garante.


O Comandante-Geral da Polícia Militar do Acre, Coronel Ulysses Araújo, afirmou que se realmente aconteceu algo dessa natureza, o caminho que J.P.S seguiu é o correto, de procurar o Ministério Público e fazer um Boletim de Ocorrências. “Quanto à posição da Polícia Militar, é aguardar um registro formal junto a Corregedoria, que irá apurar a veracidade ou não dos fatos”, disse.


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