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O mundo é uma sopa de letrinhas e quem manda no mundo é um péssimo cozinheiro. Na área ambiental, o brodo de DETER, PRODES, NOAA, MODIS, REDD+, CAR, virou carvão de CPTEC e INPE.


Propositalmente, ou não, misturou-se informações de alerta para a fiscalização com dados de crescimento da área desmatada. Baixou o espírito do Chacrinha, que “veio para confundir e não para explicar”.

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Os olhos do mundo se voltaram para a Amazônia em chamas. Vendeu-se um aquecimento global que determinará a extinção da Groenlândia e o derretimento total do Ártico. Acenou-se por interesses que afrontam a soberania nacional sobre nossa pobre floresta rica. Contra-acenou-se com bravatas ufanistóides. Demonizou-se ONGs, todas dentro do mesmo balaio dos oportunistas. Nem dois meses se passaram e tudo está igual como era antes. Ou quase.


Não que cada preocupação dessas seja infundada. Um mínimo de verdade que contenham vende mais notícia e faz mais reboliço que o olhar com lupa sobre o mapa dos que pensam e determinam o rumo da economia.


Os donos do mundo olham para o mapa na parede e para os gráficos na tela de seus computadores generalizando informações essenciais. Chamam de Amazônia algo que ocupa 60% do Brasil, mas abstraem que na área pintada de verde do mapa existem diferenças climáticas e florestais significativas entre Roraima e Amazonas ou entre o Acre e Rondônia, ou ainda que no Mato Grosso há três biomas completamente distintos, floresta, cerrado e pantanal. E, principalmente, parecem desconsiderar que existem muitos milhões de pessoas habitando esse território imenso.


O mundo olha para a Amazônia com os olhos do dono do mundo, mas o Brasil também olha para a Amazônia com os mesmos olhos, só, talvez, como quem tem um fundo de quintal mal cuidado, mas que protege como propriedade sua para que ninguém reclame o usucapião.


A lógica de proteção está completamente invertida. Se interessa preservar floresta e mananciais é, antes de mais ninguém a quem vive na região. Somos nós que habitamos esses quinze graus abaixo e acima do Equador onde sentimos diretamente os impactos climáticos. Nós que sofremos com a fumaça das queimadas, com a falta de água nos verões mais secos e com as inundações nos invernos mais rigorosos.


Antes dos tais rios voadores secarem e transformarem nosso sudeste num deserto estéril, já não teremos água por aqui para nossa própria sobrevivência.


Antes que os efeitos do desmatamento gerem dois ou três graus de aquecimento na Europa, teremos um novo Kalahari na América do Sul.


Olhar os mapas com lupa importa em enxergar a dimensão humana e as circunstâncias que determinam os processos de degradação ambiental. É entender que não basta instituir proibições de uso da terra e formalidades de licenciamento a uma população sem quaisquer condições de se submeter às regras do estado, seja pela irregularidade da situação fundiária, seja pela total descapitalização para se adaptar a técnicas modernas e mais eficientes de manejo dos solos.


É preciso entender porque a Resex Chico Mendes é hoje uma peneira de pastos de gado, quando olhada nas imagens de satélite, ou os mecanismos que promovem o corte seletivo de floresta nas terras indígenas. Há um processo histórico na ocupação das terras pela população tradicional, e até mesmo pelos que sucumbiram aos apelos setentistas de colonização, que é sistematicamente ignorado pelos que olham para o mapa como um mosaico de florestas e terras nuas.


As ações urgentes dos organismos governamentais precisam se voltar para a questão fundiária, de regularização da propriedade da terra, e da efetividade (e não somente formalidade) da proteção dos recursos naturais.


Fala-se hoje que as facções criminosas tomaram conta de diversas áreas do meio rural, do Acre ao Pará, e o fizeram porque encontraram um ambiente que o estado desconhece. Quem planeja nosso país olha sem enxergar seus principais detalhes e cria regras que não funcionam com quem não tem a menor condição de cumpri-las.




Roberto Feres escreve às terças-feiras no ac24horas


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