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O cérebro humano 

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É provável que haja unanimidade, por parte dos profissionais e estudiosos da educação, no assentimento de que o cérebro é o centro da aprendizagem. Esse órgão, mais ainda, parece ser reconhecido como de fundamentalidade tal que, sem ele, naturalmente, não haveria e nem haverá aprendizado. Por outro lado, e de forma aparentemente incompreensível, quase todos os profissionais e estudiosos da educação estão dentre os que menos conhecem a estrutura e o funcionamento do cérebro. Os currículos de formação dos profissionais da educação tocam de maneira extremamente superficial sobre o órgão, de maneira que os conhecimentos que auferem podem ser considerados completamente inúteis, para não dizer inexistentes. Os profissionais da educação, pelo contrário, devem ter tanto ou mais conhecimento sobre o cérebro do que os neurologistas, por exemplo. Com o intuito de colaborar com a edificação da nova educação, este ensaio tem como objetivo explicar, de forma panorâmica, como acontece a aprendizagem.

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Estruturalmente, no tocante ao processo de aprendizagem, o cérebro está organizado em três partes, cuja dinâmica relacional explica a maior parte do aprendizado do ser humano: córtex, hipocampo e cerebelo. Operacionalmente, a aprendizagem se faz acontecer a partir das interligações que essas unidades constroem e mantêm entre si, produzindo o aprendizado de curto ou de longo prazo. Isso quer dizer que, de acordo com a forma através da qual cada uma dessas regiões cerebrais se relaciona com a outra, haverá diferentes formas de armazenamento daquilo que foi compreendido. Daí advém a primeira diferença essencial que se deve ter para que se compreenda a dinâmica relacional dessas regiões cerebrais. Essas dinâmicas são as mesmas, tanto para o armazenamento do entendimento quanto de habilidades.


A dinâmica pode ser sintetizada assim: primeiro é necessário que se compreenda ou domine o que se quer conhecer, entenda-se a sua lógica ou seu manuseio, de forma que o entendimento ou habilidade adquirida é o estágio inicial do processo de aprendizagem; depois, é fundamental que o entendimento ou habilidade seja repetida, exercitados várias vezes; em seguida, é necessário que o entendimento seja transportado para outra região, o que configura esse transporte como a segunda etapa do estágio que, de acordo com a forma através da qual é feito, levará o entendimento para o local de armazenamento final; e a última etapa é o armazenamento propriamente dito, feito na região cerebral específica.


Do ponto de vista cerebral, a aquisição do entendimento ou da habilidade é requisito essencial para que aconteça a primeira etapa, que é feita no hipocampo, região do cérebro onde são inscritas e registradas as aprendizagens temporárias. Como são temporárias, essas aprendizagens precisam ser repetidas, exercitadas, de forma analógica como se faz quando se quer rabiscar em uma pedra de granito, que é extremamente dura. Quanto mais complexa a aprendizagem que se pretende alcançar, mais e mais é necessário que seja repetida e exercitada. Se isso não for feito, as aprendizagens armazenadas temporariamente no hipocampo se perderão, como são perdidas as informações que não são salvas nas memórias permanentes dos computadores.


Mas o hipocampo é o repositório temporário. Isso quer dizer que o que está ali depositado precisa ser transportado para algum lugar, que o armazenará de forma definitiva. A forma que o cérebro encontrou para fazer esse transporte é o sono. É preciso dormir para que a aprendizagem se efetive, para que ela aconteça. E esse transporte tem como destino final o cerebelo ou o córtex, onde será feito o armazenamento definitivo. Vale alinhavar, como será demonstrado no futuro, que só vai ser transportado aquilo que foi entendido ou que o cérebro considerar mais interessante, o que explica o armazenamento de aprendizagens que não queríamos que fossem armazenadas.


O cerebelo é um local de armazenamento definitivo da aprendizagem. Vamos utilizar uma metáfora para que isso possa ser adequadamente compreendido. Armazenar alguma coisa no cerebelo é como escrever frases em metais extremamente duros, como o aço. Os instrumentos utilizados têm que ser extremamente eficientes para que produzam a eficácia desejada, que é fazer o registro. A razão disso é que não é fácil fazer registros no cerebelo. Novas conexões cerebrais precisam ser produzidas e de uma forma tão intensa que a dureza e a resistência dessa região possa ser rompida.


No córtex, por outro lado, que é também região de armazenamento de aprendizagens permanentes, o processo é diferente, o que não significa que seja menos árduo. A inscrição no cerebelo se faz diretamente, enquanto que a inscrição no córtex se faz com insistência, indiretamente. Para inscrever no córtex são necessárias inúmeras repetições, inúmeros exercícios, muito esforço, enfim. A cada repetição a aprendizagem é distribuída para diferentes regiões do córtex, uma vez que essa região ocupa praticamente todo o cérebro, diferentemente do hipocampo e do cerebelo, que são regiões menores. A ciência tem mostrado que o esforço e a repetição são atributos do amor, de maneira que inscrever no córtex é registrar amor.


A aprendizagem registrada no cerebelo ocupa um pequeno espaço do cérebro, enquanto o espaço disponível para registro no córtex é imensamente maior. Mas, para que isso seja feito, é necessário que se saiba com precisão como proceder. A antiga educação faz a maior parte dos registros no hipocampo e quase nenhuma aprendizagem é produzida; a nova educação sabe como fazer os registros no cerebelo e no córtex, por isso produz aprendizagem de longo prazo. Indo um pouco além, o aprendizado registrado de forma localizada, no cerebelo, é perdido com as doenças degenerativas, como o Alzheimer, enquanto o registro no córtex, se perdido, se recompõe. Estudos há, até, que mostram que os casos de gênios de nascença são recuperações de registros feitos no córtex do corpo espiritual, que todos os seres têm. Os que fazem registros no hipocampo e no cerebelo terão que reaprender tudo de novo, a cada renascimento.




 


 

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Daniel Silva é PhD, professor e pesquisador do Instituto Federal do Amazonas (IFAM) e escreve às sextas-feiras no ac24horas. 


 


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