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Discurso de Paulo Wadt coloca governo do Acre no “olho do furacão” e pode comprometer projeto do agronegócio

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Avanço de focos ativos entre julho e a primeira quinzena de agosto é assustador, salto é de 272 para 1.181 registros feitos pelo INPE. Autoridades ambientais investigam grilagem de terras com oferta de madeiras de lei em abundância para extração ilegal.


A migração de pecuaristas e produtores de soja do vizinho estado de Rondônia, atraídos para o Acre pelo discurso de “rondonização” do secretário de produção Paulo Wadt está na mira dos Ministérios Públicos Federal e Estadual e das autoridades ligadas ao meio ambiente. Intensas reuniões acontecem desde o final de semana para análise de imagens de satélites que mostram o aumento do desmatamento e grilagem de terras.

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Um engenheiro florestal que pediu para não ter seu nome identificado revelou para o ac24horas o risco de ocorrer no estado a devastação de Rondônia, quando pecuaristas e grileiros migraram do Vale do Guaporé e do Cone Sul para os distritos de Porto Velho, fugindo de prisões, multas e processos, promovendo novas grilagens na tentativa de domínio de território.


Recentemente, o secretário de agricultura e produção do Acre, Paulo Wadt, foi acusado pela deputada federal Mara Rocha (PSDB-AC) de agir como corretor de imóveis para grandes empresários de soja de Rondônia. Ontem, o secretário de meio ambiente, Israel Milani, e o diretor-presidente do Imac, André Hassem, foram convocados para uma reunião no Ministério Público Federal. A pauta vem sendo mantida em sigilo.


Pressionado por organismos internacionais, Cameli deixou de recomendar “uma enxada” para os servidores do IMAC que perseguisse quem produz.

“O MPF não quer permitir que o Acre se transforme em uma Rondônia onde esses líderes do agronegócio bovino e os madeireiros agiram impunemente saindo ilesos das operações de desmatamento, com deslocamentos para outras regiões da Amazônia”, disse o engenheiro florestal.


Na primeira quinzena de julho, o site de notícias The Intercept, que ficou famoso após publicar conversas entre o então juiz Sérgio Moro e procuradores da Lava Jato, classificou o governador do Acre, Gladson Cameli como o “barão da soja de segunda geração”.


O Intercept Brasil ressalta que Gladson Cameli é uma ameaça para os ecossistemas da Amazônia acreana, ao tentar importar o modelo de Rondônia para ser implantado aqui. A reportagem revela que até mesmo a Reserva Extrativista Chico Mendes tem sido alvo de desmate, problema que tem se intensificado nos últimos anos.


Caravanas anunciaram integração de políticas de desenvolvimento entre os estados vizinhos

O governo do Acre investiu em duas caravanas em Rondônia, uma delas para participar da Rondônia Rural Show. No mês de julho, foi a vez de o governo do Acre recepcionar o governador Marcos Rocha na Expoacre 2019. O staff rondoniense teve direito a um gabinete institucional em local de destaque no galpão institucional. Rocha foi homenageado com a Ordem Estrela do Acre, a mais alta condecoração dada pelo Palácio Rio Branco.


Governador de Rondônia Marcos Rocha foi condecorado com a Ordem da Estrela do Acre durante sua participação na Expoacre 2019 e o fechamento de acordos bilaterais.

Na feira, o avanço da obra da ponte sobre o rio Madeira, que liga os estados, esforços para destravar a economia com a melhoria de rodovias, o alfandegamento para favorecer o intercâmbio comercial com países vizinhos foram pautas prioritárias. Elogiando o presidente Jair Bolsonaro, Rocha chegou a denunciar a saída ilegal de riquezas minerais da Amazônia. Ele afirmou que os governos do Norte sabem cuidar das suas florestas.


Mas na prática não é bem assim. No estado vizinho, o percentual de destruição saiu de 2% há 30 anos, para 28,5% esse ano. Ao apresentar a sua nova coletânea de dez mapas temáticos da Amazônia Legal, o IBGE divulgou dados que mostram o estado de Rondônia, que, há menos de 30 anos tinha menos de dois por cento de sua área desmatada, como o campeão da devastação na região. Hoje, Rondônia tem o maior percentual de destruição: 28, 5% em relação ao seu território.

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Autoridades ligadas ao meio ambiente temem que o incentivo governamental para migração, assim como aconteceu em Rondônia, provoque descontrole no desmatamento.


Agronegócio e sustentabilidade são bandeiras ainda não claras na gestão Cameli

O Acre foi o primeiro governo subnacional do mundo a instituir e consolidar uma política de Redd+ e receber doações por compensação de serviços ambientais prestados, o Programa Global Redd Early Movers (REM), que é financiado pelo Banco Alemão KfW e é referência para outros estados brasileiros e países de como construir políticas públicas inclusivas de baixo carbono.


Referência nacional e internacional pela sua política pública de preservação ambiental aliada ao desenvolvimento sustentável, esse modelo econômico foi colocado em xeque desde a campanha eleitoral de 2018 pelo atual governador Gladson Cameli, que defendeu em ampla campanha de marketing eleitoral, o incentivo ao agronegócio como saída econômica.


Criado em 2008, o GCF atua no estímulo e fortalecimento de programas jurisdicionais que promovam um desenvolvimento rural com baixas emissões de carbono ao mesmo tempo em que garante a redução do desmatamento e degradação florestal (Redd+).


Um núcleo duro da gestão Gladson Cameli chegou a inviabilizar durante seis meses o trabalho do Instituto de Mudanças Climáticas (IMC), o órgão perdeu sua autonomia. Esse foi o primeiro objeto de desconfiança internacional com relação a política ambiental. A autonomia do IMC só foi resgatada após viagem internacional de Cameli para Cutuca, no Oeste da Colômbia. Na pauta, a política de proteção das florestas e do clima.


Porém, nem tudo pactuado pela caravana ambiental acreana parece estar sendo cumprido. Mapa de queimadas divulgado pelo INPE que a reportagem teve acesso, mostra que de 272 focos ativos em julho, foram 1.181 focos registrados na primeira quinzena de agosto. O número, um pouco menor do que foi registrado no mesmo período de 2018, um total de 1.368, é assustador. O que preocupa as autoridades é que parte das chamas provocadas esse ano tem participação de grileiros.


Em Rondônia, o percentual de destruição saiu de 2% há 30 anos, para 28,5% esse ano. O estado tem o maior percentual de destruição: 28,5% em relação ao seu território.

A oferta de madeira em abundância sem o controle de mecanismos legais é o principal atrativo para infratores. Com o aumento da pressão internacional o governador Gladson Cameli recuou no discurso mais agressivo, deixou de recomendar “uma enxada” para os servidores do Instituto de Meio Ambiente do Acre (Imac) que perseguisse quem produz.


“É preciso seguir as regras ambientais e o que diz o Código Florestal” disse Cameli em entrevista coletiva no Palácio Rio Branco.


Cameli só não conseguiu segurar o seu secretário Paulo Wadt que continua falando em rondonização, parece copiar para o Acre, projeto responsável pela quinta maior emissão de gases de efeito estufa no Brasil, segundo levantamento pelo Observatório do Clima.


Hoje deve ser publicado o decreto de situação de emergência no setor ambiental, uma exigência do Comitê de Gestão que envolve 40 instituições estaduais, federais e ONGs. Fotos de satélite devem ser enviadas pela SEMA para os órgãos controladores. Ações conjuntas vão vasculhar infratores das leis ambientais.


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