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O “aquecimento global” ainda não queimou o bom senso

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Valterlucio Bessa Campelo


“A verdade sobre as mudanças climáticas é matizada: é real e, a longo prazo, será um problema, mas seu impacto é menor do que poderíamos acreditar. No entanto, estamos muito ansiosos para acreditar que o problema é muito pior do que a ciência mostra e – inversamente – que nossas soluções são muito mais fáceis do que a realidade exige.”


A afirmação acima é do diretor do Copenhagen Consensus Center, Bjorn Lomborg, um conhecido cientista (estatístico) sueco que causou furor no início do século com seu livro “O Ecologista Cético”, em que questionou os fundamentos do pânico causado pelo prognóstico de aquecimento global iminente e a eficácia das medidas propostas, anunciadas e adotadas pelos países, no sentido de mitigar as emissões dos gases de efeito estufa na atmosfera, notadamente o CO². Os ecologistas radicais do mundo todo lhe quiseram tirar o couro por levar ao descrédito a gritaria aquecimentista. Foi como se em um momento de histeria coletiva, alguém com autoridade assentada nos números quebrasse o clima com um alerta “menos, minha gente, menos”.


Em artigo mais recente (2018), publicado pelo New York Post, referindo ao Acordo de Paris, ele tasca “O acordo fraudulento de Paris, que é o mais próximo que temos de um esquema global, conseguirá, na melhor das hipóteses, apenas 1% do que seria necessário para manter os aumentos de temperatura abaixo de 2 ° C, segundo a ONU. Vai custar entre US $ 1 trilhão e US $ 2 trilhões por ano. É dinheiro que não pode ser gasto melhorando a nutrição, a saúde ou a educação.


Lição “massinha 2” da economia, recursos escassos implicam prioridades. Estamos vivendo um momento peculiar no que se refere à questão ambiental, e isto tem a ver conosco aqui nos confins da Amazônia. Durante décadas, o Brasil esteve a reboque de falsos consensos e de uma avassaladora propaganda neles baseada. Aderimos ou ficamos à frente de tudo que se pode chamar de fórum ambientalista. Temos dados vergonhosos em níveis de pobreza, moradia, educação, segurança, saúde, saneamento básico, poluição de rios, inovação tecnológica, liberdade econômica… mas nos dizem nas TV’s que, para nosso orgulho, “temos uma legislação avançadíssima e somos protagonistas nas questões ambientais globais”. Me vejo como um peru passeando no quintal, fazendo glu glu alegremente em véspera de Natal.


Excluindo a artilharia pesada de criminosos e acumpliciados contra a Lavajato, o assunto dos últimos dias tem sido a demissão do diretor do Instituto Nacional de Pesquisa Espaciais, o Físico Ricardo Galvão, por insistir em declarações alarmistas relacionadas ao desmatamento da Amazônia, cujas repercussões foram tidas (e são), pelo governo, como danosas à imagem brasileira no exterior. Como Bjorn Lomborg ao detonar o Acordo de Paris, vamos aos dados. Estes, fornecidos pelo eminente pesquisador da EMBRAPA, Dr. Evaristo de Miranda.


O Brasil possui 49,8% de todo seu território apenas em áreas protegidas e preservadas, o que equivale à superfície total de 28 países da Europa. A soma Unidades de Conservação + Terras Indígenas + Vegetação Nativa em Terras Devolutas e Não Cadastradas alcança nada menos que 66,3% do território brasileiro, ficando 3,5% para cidades e infraestrutura e sobrando apenas 30,2% para o uso agropecuário possível. O mesmo cálculo para os EUA, nosso principal concorrente na produção de alimentos, resulta espantoso – eles dispõem de nada menos que 74,3% do território com liberdade de uso agropecuário, sem contar que por lá as áreas protegidas já são naturalmente aquelas de baixa aptidão agrícola.


Então, é o seguinte. Eles entram no jogo da produção de alimentos e matéria-prima com mais que o dobro do território potencialmente agricultável e, via alarmismo climático, nos proíbem de expandir a exploração da nossa metade. Chamem o VAR!
Ora, o que o Presidente Bolsonaro está bem fazendo, certamente muitíssimo articulado com o pensamento do General Augusto Heleno e outros conhecedores da verdadeira realidade amazônica, é reposicionar o Brasil em duas frentes. A primeira, interna, visa dissolver a crença entre os próprios brasileiros de que estamos devastando a Amazônia, embora muita gente lucre e faça carreira política, acadêmica e jornalística dizendo o contrário. Se, para isto, cabeças coroadas precisarem rolar e houver enfrentamento com a mídia amestrada e a ciência militante, paciência.


A segunda frente é externa, afinal, somos “protagonistas” nessa área, não é mesmo? O mundo precisa entender que a despeito de reconhecermos a importância da Amazônia em termos globais, mais como estoque de recursos do que como refrigerador, temos problemas urgentes a resolver e não estamos dispostos a seguir as receitas prontas da Palmirinha norueguesa. Sob nova direção, o nosso cardápio de geração de riqueza inclui a Amazônia e seu potencial energético, agrícola e mineral.


O Acre é um bom exemplo dessa necessidade de superação. Por anos e anos perseguiu o vínculo ideal entre James Lovelock e Chico Mendes, mas apresenta quase 90 mil famílias no Bolsa-família, sendo que das trinta cidades brasileiras com maior dependência do programa, cinco são acreanas, embora só tenhamos 22 municípios. Decididamente, a Noruega não é aqui.


Em vista do quadro resultante de visões globalistas, “politicamente corretas” e submissas a interesses incertos, o cientista Bjorn Lomborg nos ensina que antes de saber se está quente, é preciso ter um emprego, um teto, energia, água limpa, um comida na mesa, uma boa escola, acesso aos serviços de saúde pública, paz… coisas simples que os trilhões de dólares destinados a diminuir o CO² da atmosfera não asseguram.


Portanto, não se trata de negacionismo irresponsável como costumam acusar os devotos da “igreja universal do aquecimento global antropogênico”, mas de estimar honestamente os níveis e os impactos das externalidades ambientais dos processos produtivos, cessar a gritaria e, parcimoniosamente, como exige-se de qualquer consumo prudente, explorar os recursos da Amazônia, primordialmente, em benefício dos brasileiros e de suas necessidades básicas, sabendo que, do contrário, estaremos tão somente a reboque de promessas de recursos e de uma sustentabilidade que não nos alcançam.



Valterlucio Bessa Campelo é Engº Agrº, Mestre em Economia Rural e escreve todas as sextas-feiras no ac24horas.