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Investigações apontam ação de grupos milicianos no AC e AM

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Em áreas urbanas ou rurais, um modelo de negócios amparado em violência, grilagem e taxas elevadas de lucro se expande pelo Brasil. Explorando a insegurança e a desordem fundiária, milicianos não só matam por dinheiro como também investem na ocupação de terrenos, públicos ou privados, para expandir atividades agropecuárias ou construir imóveis em zonas com potencial de valorização. O GLOBO identificou, em pelo menos 12 estados, ações das forças de segurança para desarticular a atuação dos grupos paramilitares.


As investigações mostram que os diferentes núcleos criminosos atuam de forma semelhante: empresários financiam a exploração de negócios irregulares, em especial a grilagem de terra, e se aliam a policiais,responsáveis por ameaças, extorsões e até homicídios. Na outra ponta,servidores de prefeituras e funcionários de cartórios são cooptados para regularizarem ocupações comandadas por milicianos, com o uso de documentos falsos.

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No oeste do Amazonas, no município de Boca do Acre (AM), pecuaristas contrataram policiais militares para desmatar terras preservadas e afugentar posseiros. Um dos PMs, conhecido na cidade como “Morte”, é suspeito de ter atirado no olho de um agricultor que “descumpriu” a ordem de não se deslocar à noite em direção ao território que estava sendo desmatado. Sempre armados, os milicianos circulam pela região com rádios e outros equipamentos da Polícia Militar, mesmo fora de serviço.


A investigação do Ministério Público Federal na Operação Ojuara, que apura a atuação da milícia em Boca do Acre, mostrou que um “novilho de 400 kg” ou um depósito de R$ 360 pagam policiais ligados ao grupo.


— A presença dos policias fardados, com armamento ostensivo, já serve para intimidar as pessoas. Policiais foram cooptados por esse esquema de invasão, ocupação e desmatamento de terras públicas — explica o procurador da República Rafael Rocha.


Em Brasília, grileiros e policiais militares se uniram para lotear terrenos na comunidade Sol Nascente , em Ceilândia. A investigação constatou que, além das ameaças, moradores chegaram a ser retirados à força de suas casas nas áreas onde a milícia viu lotes com potencial econômico.


Quem não foi expulso passou a pagar taxa pela suposta valorização da região após a chegada da milícia. Não houve nem mesmo o interesse de forjar documentos para “legalizar” os terrenos.


O Ministério Público do Distrito Federal e Territórios (MP-DFT) investiga ainda se os milicianos também atuavam na construção de imóveis. Em nota, o órgão informou que os moradores que “se recusavam a pagar essa “valorização”, estipulada pela organização criminosa, eram expulsos dos lotes, antes da revenda. Ao todo, dez pessoas foram denunciadas à Justiça, sendo sete policiais militares.


Potencial turístico

Áreas com potencial turístico também entraram no radar dos milicianos. No litoral do Piauí , um esquema na região do município de Luís Correia envolveu também servidores do cartório local para “formalizar” as invasões.


Uma das denúncias feita pelo Ministério Público do estado narra que um dos empreendimentos à beira-mar — em terras da União — incorporou cerca de 2.800 m² de área pública. Investigadores contam que servidores da prefeitura que se recusavam a conceder as licenças necessárias para as construções eram ameaçados, assim como posseiros que ocupavam lotes que eram de interesse do grupo. Em uma gravação telefônica interceptada, dois réus conversam sobre a contratação de policiais para derrubar as cercas de uma área que seria anexada.


Em junho, quando a operação foi deflagrada, o promotor Rômulo Cordão, então coordenador da investigação, afirmou que ficou evidenciada a “existência de uma milícia”, já que moradores foram expulsos com uso da “força policial”.


Além de Amazonas, Piauí e do Distrito Federal, outros nova estados já registraram investigações sobre milícias: Acre, Pará, Pernambuco, Rio Grande do Norte, Maranhão, Alagoas, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Sul . No Rio, as milícias têm forte presença na exploração imobiliária, especialmente na Zona Oeste. Há duas semanas, O GLOBO mostrou que a atuação criminosa se expandiu para o interior do Parque Estadual Costa do Sol, na Região dos Lagos.


— Os milicianos atuam principalmente em áreas com a realidade fundiária confusa e com menos fiscalização. É um mercado lucrativo e há uma demanda social imensa. Os grupos vendem a imagem de que estão oferecendo uma solução — analisa o sociólogo José Cláudio Souza, que estuda o tema há duas décadas.


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