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Expoacre 2019, um divisor de águas

Valterlucio Bessa Campelo


“Diferente das edições anteriores, a 46º edição da Expoacre vai funcionar também durante o dia”. Este é o lead da matéria de 17/07 que pode ser vista na página do governo www.agencia.ac.gov.br fazendo, obviamente, uma chamada para a nossa exposição anual de produtos agropecuários a se realizar entre os dias 27 de julho a 4 de agosto.
Como assim?, perguntaria, incrédulo, qualquer estranho ao saber que a Expoacre não se realizava durante o dia. Quem, além de bares, restaurantes, casas de show e congêneres deixa para realizar negócios durante à noite? Quem prefere examinar e adquirir um animais, máquinas agrícolas, safra de grãos ou assinar um contrato de financiamento na penumbra? Ninguém, responderia o senso comum.


A não ser que a Expoacre não fosse, como sugere a sigla, realmente uma feira de produtos e máquinas, mas um grande arraial popular para diversão dos acreanos e, contrariamente ao slogan, um momento propício para difusão e consolidação de uma política de interdição da exploração agropecuária e de afirmação do modelo “florestanista”.


A combinação de grandes shows artísticos com “novidades ecológicas viáveis”, sob a fumaça de exposição agropecuária, funcionaria como elemento eficiente de desconstrução do discurso produtivista. Uma plateia inebriada, que aplaude o cantor sertanejo do momento num show noturno, não tem olhos apurados para perceber a real dimensão da “Exposição Agropecuária”. Esperto, não?


Pode ser, mas o governo recém instalado promete mudar o rumo da prosa. Na matéria citada anteriormente e em todas as entrevistas dadas por todos os dirigentes do setor produtivo, se anuncia que serão mostrados os caminhos e potencialidades do agronegócio, a aposta econômica do novo governo. Stands diversos, produtos, máquinas, equipamentos, cursos e palestras de viés agropecuário serão oferecidos ao público durante o dia, dando início ao que pode ser considerado como primeiro grande momento de explicitação da perspectiva desenvolvimentista abraçada pelo Governador Gladson Cameli.


Com a presença de outros governadores de estados da região norte, Gladson pretende emitir um sinal claro de aliança pelo desenvolvimento de base agropecuária, trazendo para o centro de suas ações o estímulo à expansão econômica via produção rural. Neste contexto, o Acre do futuro estará mais para Rondônia do que para a Finlândia.


Uma virada assim exige, entretanto, algum tempo para se fazer perceber nos dados reais de produção e renda. A economia rural não responde com a mesma rapidez de outros setores aos estímulos governamentais. Aquisição de terras e maquinário, conversão de áreas, infraestrutura de transporte, armazenamento e beneficiamento, inovação tecnológica, oferta de insumos etc., requerem mais que a sinalização política oferecida pelo governo. A tomada de decisão de investir no setor, nos níveis projetados, pressupõe elevado grau de confiança na perenidade das políticas públicas e segurança jurídica, especialmente no que tange aos controles ambientais.


Vivemos então, no Estado, um momento singular. O de afirmação do produtivismo vencedor nas eleições passadas e negação do preservacionismo vigente nos últimos vinte anos. Os passos seguintes é que serão cruciais. Que ações efetivas o governo prepara para sustentar e fazer evoluir esta nova perspectiva de desenvolvimento?


No que tange ao agronegócio, está em estudo ou já em curso uma série de estímulos que visam garantir condições mínimas para sua expansão. Destravamento normativo, soluções sanitárias, recuperação de infraestrutura, oferta de crédito, remoção de gargalos negociais, redução de impostos etc., fazem parte da agenda governamental. Paralelamente, seguem os primeiros passos para a constituição de um espaço sub-regional e interestadual, formado por recortes territoriais do Amazonas, Acre e Rondônia, que sob a sigla AMACRO deverá atrair investimentos federais estratégicos no sentido de expandir e consolidar uma economia de base agropecuária.


Em relação à agricultura familiar, essencial para o Acre e aliada fundamental da perspectiva de crescimento do PIB primário, está em marcha a reinstitucionalização da EMATER-AC que pretende oferecer uma ATER de resultados, o reaparelhamento e recuperação da CAGEACRE incluindo aí novas funções, a parceria com o INCRA visando a solução fundiária definitiva de assentamentos, o aprofundamento da defesa sanitária animal e vegetal, a realização de concurso público, novas interfaces com organismos federais e universidade etc., o que viria constituir uma nova governança do desenvolvimento rural acreano.


Pode-se, pois, deduzir que a Expoacre 2019 tende a representar um divisor de águas, um ponto de inflexão na trajetória do Acre como alvo de políticas públicas de promoção de suas potencialidades. É necessário, contudo, que não se perca de vista o devido compromisso com a parcimônia e eficiência dos espaços de produção. Modernamente, não há sentido no embrutecimento do campo ou na dilaceração do tecido cultural amazônico.
No mais, palmas também para Marília Mendonça.



Valterlucio Bessa Campelo escreve todas as sextas-feiras no ac24horas.