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Teoria da Ferradura

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Ao fazer parte da narrativa, impõe-se- me relatar as impressões na primeira pessoa do singular.


Me comunico pelas redes sociais para opinar sobre assuntos que me agradam e debatê-los com outras visões diferentes. Sou um tanto frugal em exposições pessoais, especialmente de intimidades, e é bem contida minha curiosidade sobre as dos outros.

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Pois bem. Dissinto do PT local e nacional e da Frente Popular do Acre desde o início dos anos 90, do século passado. Essa divergência evoluiu de uma etapa mais amena – éramos, então, nominados, os Deputados Estaduais Said Filho, Adalberto Ferreira e eu, como a “ banda sadia do PMDB “, na Assembleia Legislativa do Acre- até um grau mais radical quando o “ establisment “ petista local  passou a me ver como o “ inimigo público número um “. Os efeitos pessoais, familiares, emocionais, civis e patrimoniais dessa “ distinção “ indesejada foram para mim bastante fortes, quase devastadores. Enfrentar o colossal poderio da Frente Popular àquela época era insensato, insano e sacrílego. Vi necessidade e o fiz.


Paguei, e continuo a pagar ainda agora, solitariamente, um preço sideral pelo atrevimento. Hoje, não, a situação mudou; hoje, opor-se ao PT e satélites é feito sorver um maná dos céus, deleitar-se com iguarias, é como mastigar água; a relação tornou-se quase civilizada.


Sem mandato, seis anos atrás, empreendi o último grande movimento contra a oligarquia dos Vianas no Acre: fiquei 37 dias em jejum defronte o Palácio do Planalto, na Praça dos Três Poderes, em Brasília ( alguns chamam impropriamente de greve de fome, mas o certo é greve de comida ). Minha reivindicação foi simples: a exigência de respeito ao referendo realizado no Acre, em 2010, no qual a maioria dos acreanos votou pelo retorno de seu antigo horário.


Apenas para refrescar a memória de alguns: os Vianas haviam negociado com Felipe Daou, o potentado da Rede Amazônica de Radio e Televisão, do Amazonas, o adiantamento de nosso relógio em uma hora, para emparelhar nosso horário com o da cidade de Manaus. Ele queria gerir todas suas potestades em tempo real, de Manaus, que iam do Acre ao oeste do Pará.



O referendo ocorreu com as eleições de 2010 e não havia tido consequência prática em meados de 2013. Não por falta de ação. Neste interregno, vários parlamentares, especialmente o Deputado Flaviano Melo, elaboraram toda sorte de movimentos para fazê-lo respeitar, mas sempre esbarravam na muralha da má vontade democrática do Governo Dilma Roussef, aliada íntima da oligarquia dos Vianas.


Minha greve de fome, a maior já feita no Brasil, e nas condições mais adversas conhecidas em eventos semelhantes, atingiu plenamente seu objetivo. Tivemos respeitados, três anos depois depois da consulta, os termos do referendo realizado aqui e tomamos nosso horário de volta, da posse bastarda de mãos criminosas ( já me passou pela cabeça, em vertigem, a ideia de relatar esse e outros eventos da política acreana).


A potência e o poderio de censurar a notícia desta ação foram  avassaladores. Nacionalmente, a Rede Globo comandou outras emissoras e  seus sindicatos e associações pelo pacto do silêncio, verdadeira “ omertà “ napolitana, e localmente o jejum foi noticiada tão somente pelo ac24Horas e Jornal e TV Rio Branco. Os demais órgãos da imprensa acreana calaram-se em reverente silêncio sepulcral…Volvendo às redes sociais e suas tecnologias. Elas foram  essenciais para não condenar minha atitude e sacrifício ao mais cruel dos anonimatos; sem elas, por certo, o evento ganharia as brumas do esquecimento e da própria inexistência.


Nas abordagens do aprendizado, apreciei  quando um sobrinho criou por conta e risco um perfil para mim no Facebook e ensinou- me os passos iniciais de utilização do aplicativo.


Afeito ao debate, acabei por utilizar as redes opinando sobre política e economia, campos do saber que me fascinam. Estas duas disciplinas, a meu ver, auxiliam muito a se fazer uma leitura mais próxima do funcionamento do mundo da vida real e da múltipla e caótica desarmonia, contradição, criação, destruição, envelhecimento, potência, morte, ato, nascimento, transformação, anulação e  vida que caracterizam os infinitos universos sociais.

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Em minhas postagens ao longo dos últimos anos não poupei de críticas as tendências autoritárias e antidemocráticas do PT e da chamada extrema esquerda. Fi-las a partir de uma posição democrática, colada ao culto do ideário do Estado Democrático e de Direito.


É lógico que seria bisonho de minha parte  imaginar que as opiniões expostas não seriam contrastadas, contraditadas, negadas e  diminuídas por quem pensa diferente de mim ou por quem se sentiu atingido e delas diverge. Colhi bons debates, as mais das vezes, mas recebi, também, agressões e ofensas gratuitas e desnecessárias.


A era PT criou a anomalia do “ apartheid “ político no Brasil e no Acre, em especial. O Nós x Eles foi o signo maligno dessa visão de mundo doentia e autoritária, geradora de tantas sequelas anti-humanistas.


Enquanto confrontou e venceu o PSDB nacional varias vezes, enquanto impôs sua hegemonia nacional e local, o PT mimetizou a visão real desse mal.


No entanto, depois que perdeu o poder para sua criatura, o reacionário Jair Bolsonaro, o PT foi incapaz de esconder a feiúra da visão de mundo que legou aos olhos dos desalentados brasileiros. O PT trouxera ao mundo o  seu antípoda siamês, a outra face da moeda autoritária: o PT criou Jair Bolsonaro, o ovo da serpente co-irmã.


Qual a legenda da “ Nova Política “ bolsonariana? Eles x Nós; apenas a troca de sinais; o outro lado da infernal ferradura, onde os extremos se aproximam e trocam olhares lascivos.


Depois que o Presidente da República, Jair Bolsonaro, assumiu o poder no Brasil, nos últimos trinta dias, postei algumas opiniões sobre a performance da expertise de Bolsonaro e equipe sobre os problemas que precisam resolver no Brasil, sobre escolhas erradas e não escolhas, sobre leituras fantasmagóricas da realidade e sobre a decepção e angústia que tomaram de conta de legiões de brasileiros. Pra quê! O mundo veio abaixo. O “ ânimus agressivo “ e o “ ânimus offendendi “ das milícias virtuais bolsonaristas mostraram  suas garras afiadas e furibundas.


Por amarga ironia, as  principais acusações, modais, que me fizeram, dentre outras pessoais, foram de: “ PETISTA ! “ ; “ COMUNISTA ! “.


Percebi, não sem apreensão, que os democratas feito eu estamos em trágica minoria. Não sei se nossa quantidade aumentará, diminuirá ( ainda mais ) ou estagnará. O que sei é que os tempos são tempestuosos para a democracia e que teremos  penosas travessias a fazer em mar revolto e pleno de escolhos.


Preparemos os remos, as velas e o leme…


E façamos coro com o triúnviro romano, Pompeu, com o poeta italiano, Petrarca ( não é petralha ) e com o maior poeta da modernidade, o português Fernando Pessoa:” Navegar é preciso, viver não é preciso “.


*João Correia, ex-deputado federal pelo MDB


 


 


 


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