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A Funtac ainda existe

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Roberto Feres*


Foi em 1985, ali pela metade do ano, que peguei um voo para o sul sentado ao lado do professor João “Madeira” Hellmeister, que eu conhecia mais como o pai do Luiz, meu colega de turma da engenharia. Ele voltava de Rio Branco entusiasmado com a inauguração do Laboratório de Tecnológico de Madeiras – LATEMAC que se espelhava no seu LaMEM na USP de São Carlos.

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O laboratório consolidava um projeto da então Secretaria de Indústria e Comércio, quando alguns engenheiros do estado fizeram uma especialização com a equipe do o professor João, se capacitando em técnicas para a pesquisa das madeiras locais e sua utilização, principalmente, na construção civil.


O crescimento rápido das atividades do Laboratório permitiu que, logo no início de seu governo, ainda em 1987, Flaviano Melo fundasse a Fundação de Tecnologia do Acre – Funtac e aprovasse o projeto Antimari junto à Organização Internacional de Madeiras Tropicais – ITTO.


Em pouquíssimo tempo a Fundação tinha projetos bancados por inúmeras entidades nacionais e internacionais, voltados para a produção madeireira, cerâmica, construção civil, tecnologia de estradas, sensoriamento remoto etc.


Parcerias com a Cohab, Sanacre e Deracre permitiram o desenvolvimento de soluções para a habitação popular, saneamento e construção de estradas com tecnologia que valorizava os materiais locais, ao mesmo tempo que capacitava as empresas no aprimoramento dos processos de produção.


Nessa época eu fazia parte da direção da Cohab, que desenvolvia um arrojado programa habitacional, e a parceria com a Funtac se dava em diversos momentos, desde o projeto da infraestrutura e das casas, passando pela capacitação dos fornecedores (madeireiras, cerâmicas e construtoras), até a fiscalização das obras, realizando o controle tecnológico dos materiais e dos serviços.


Para a viabilização de projetos, como o das casas de madeira que foram construídas nos conjuntos habitacionais Universitário e Adalberto Sena, os estudos iniciaram verificando como se poderia aproveitar melhor as sobras de madeiras nobre, como o mogno, o cedro e o angelim, que eram queimadas em olarias, fornos de padaria ou viravam carvão. A partir disso foi desenvolvido o projeto que beneficiava essa madeira para a construção das casas.


Com o apoio do antigo Banacre, que também foi um grande parceiro naquela época, as madeireiras melhoraram as técnicas de preservação e secagem das madeiras e passaram a produzir painéis que eram utilizados na montagem das casas. Toda essa tecnologia dava a garantia de qualidade e durabilidade para as construções que eram exigidas para que fossem construídas com os recursos do Sistema Financeiro da Habitação, geridos pela Caixa Econômica Federal.


Da mesma forma o Banco financiava capital de giro para as cerâmicas anteciparem a produção de tijolos para que o mercado não inflacionasse na época das obras e a Funtac certificava a qualidade dos produtos estocados.


Naquela época os laboratórios da Funtac eram referência nacional em diversas áreas, mas em especial o laboratório de solos e pavimentação realizava um excelente trabalho para a localização de jazidas, cada vez mais escassas com o enorme consumo de laterita (piçarra) para a pavimentação e utilização como agregado. Realizava também todo o controle laboratorial das obras de pavimentação dos conjuntos habitacionais e estradas construídos então. Graças a esse trabalho, muitas ruas pavimentadas em tijolo, feitas entre 1987 e 1990, ainda estão em boas condições hoje em dia no Xavier Maia, Universitário e Adalberto Sena.


O grande nome por trás do sucesso da Funtac é o engenheiro Gilberto Siqueira que esteve à frente de tudo desde a especialização, com Maria Alice e Sebastião Menegazzo, na USP de São Carlos. Muita gente fez parte disso. Com o Gil, os engenheiros Sérgio Nakamura e Jorge Viana compuseram a primeira diretoria da Funtac. Magna, Jarude, Dixon, Calixto, Afonso, Henrique, Adir, Aurélio, Anna, Flores, Patrick, Cícera e tantos outros deram à Fundação, em poucos anos, a projeção que teve no desenvolvimento do Acre daquela época.

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Mas a partir dos anos 90 a Fundação foi perdendo fôlego. No governo Edmundo-Romildo era estigmatizada como berço petista e foi deixada de lado. No governo Orleir foi esquecida, talvez porque fiscalizar qualidade das obras e desenvolver tecnologia ambiental já tivessem deixado de ser prioridades dos governos locais. Nos governos petistas foi tocar fábrica de preservativos e transferiu diversas de suas atividades para outros órgãos, como o Imac e o Instituto de Mudanças Climáticas.


Alguns dos principais laboratórios foram sucateados com o tempo. A burocracia parece ter sufocado o idealismo nesses trinta e poucos anos.


A dúvida que fica é se, na enorme necessidade que o Acre tem hoje de recuperar sua economia e incrementar tecnologia nos processos produtivos, há ainda espaço para que aquela Funtac do final dos anos 80 volte a cumprir o papel que fazia tão bem? Minha opinião é que, com as pessoas certas à frente, esse órgão fará toda a diferença ao governo de Gladson Cameli.


*Roberto Feres escreve às terças.


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