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Mesmo morto Orleir Cameli ainda “incomoda” alguns políticos do Acre

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Tive a oportunidade de ter inúmeras conversas com o governador Orleir Cameli nos tempos que morei em Cruzeiro do Sul. Ele foi um homem comum com virtudes e defeitos, mas tinha uma autocrítica bastante aguçada sobre os tempos em que foi governador do Estado (1994-98). Não gosto de revelar as coisas que ele me falava sobre alguns personagens da política acreana. Mas ele tinha consciência dos falsos aliados interesseiros e dos adversários que se faziam de amigos para conseguirem alguma vantagem. Muito antes de falecer, em maio de 2013, Orleir não queria mais saber de política. Desde que deixou o Governo cuidava dos seus negócios e eventualmente comentava uma situação ou outra da gestão de Cruzeiro do Sul, do Acre ou do Brasil. Mas fazia isso como um cidadão comum sem a menor pretensão de voltar a concorrer a algum cargo público eletivo. No entanto, continuava a ser temido pelos seus adversários que se faziam de amigos. Um dia uma importante figura do PT me perguntou se o Orleir ainda tinha alguma pretensão política. Respondi imediatamente que isso nem passava pela cabeça dele baseado no que a gente conversava. A reação de alívio foi imediata e nunca esquecerei a frase que ouvi em seguida: “É melhor mesmo. Ele que cuide de ser empresário e deixe a política com a gente”. Mas mesmo assim Orleir nunca deixou de ser temido, nem depois de morto. Eu não vivi no Acre no tempo em que ele foi governador, mas ouvi muitos elogios e críticas à sua gestão. Mas então eu pergunto: Se o Governo do Orleir foi tão ruim, como alguns apregoam, por que existia tanto temor que ele voltasse a se candidatar? Talvez por ser um Galego determinado das barrancas do Juruá que ganhou uma eleição improvável mesmo estando, na época, num pequeno partido sem a menor expressão. Ou porque provou ser possível construir estradas no Acre contando praticamente apenas com os parcos recursos próprios do Estado. Se não tivesse deixado um legado de realizações não seria temido pelos seus adversários, certo? Mesmo porque muitos governadores passaram pelo Palácio Rio Branco e caíram totalmente no ostracismo. Existe um ditado que diz que ninguém joga pedras em árvores que não dão frutos. Orleir não passou desapercebido nos quatro anos que governou o Acre. E pelo jeito ainda representa uma ameaça para muita gente mesmo não estando entre nós no plano material.


Erro de foco
Na minha avaliação, criticar a gestão do Orleir, concluída há mais de 20 anos, para atacar o seu sobrinho Gladson Cameli (PP) é um erro. Estão confundindo as bolas. Apesar do parentesco, cada um é cada um, com seus defeitos e virtudes. O Gladson já foi deputado federal duas vezes e agora é senador. Se os seus adversários quiserem que procurem os defeitos do parlamentar que é pré-candidato ao Governo. Contraponham suas propostas nos debates que acontecerão durante a campanha. Agora, deixem o Orleir descansar em paz. Ele não está aqui para se defender e isso me parece uma covardia.

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Profecia
O Orleir não só não queria mais saber de política como não incentivava ninguém da sua família a trilhar esse caminho. Ele temia que se algum dos seus parentes se aventurasse numa eleição sofreria a mesma “perseguição” que ele sempre dizia ter sofrido na pele. Orleir era sabedor, por experiência própria, do “jogo sujo” que envolve o poder político. Ele não se julgava um santo e enfrentou com coragem vários processos durante e depois do seu Governo. Pagou com a perturbação da sua paz os erros que eventualmente cometeu. Mas isso ficou no passado e Orleir não pode mais enfrentar os seus detratores nos tribunais. A não ser que levem o Tribunal para uma mesa espírita e todos sabemos que isso não é possível.


Missão
Orleir depois de se decepcionar com a política chegou à conclusão que a sua missão era ser empresário. Queria gerar empregos na inciativa privada para as pessoas num Estado dependente de uma economia do contracheque dos empregos públicos. E isso Orleir conseguiu realizar dando oportunidade para muita gente prosperar trabalhando nas suas empresas.


Sob a sombra
Mesmo fora da política Orleir ajudou muita gente a chegar ao poder de acordo com aquilo que ele entendia ser melhor para o Acre no momento. Se ele estava certo ou errado nas escolhas está além do nosso julgamento porque era uma expressão do seu entendimento, uma coisa pessoal. Agora, alguns desses beneficiados parecem estar agindo sob o manto da escuridão instando ataques contra a sua memória. Isso é um erro que terá o efeito contrário do que se espera.


Recordar é viver
Nos anos em que trabalhei na Juruá FM tive a oportunidade de fazer várias entrevistas ao vivo com o Orleir. Posso afirmar que o tempo que ele passava no estúdio parava Cruzeiro do Sul e todo o Vale do Juruá. O povo da região adorava ouvi-lo. Eu costumava brincar com Orleir ao convidá-lo para um novo bate-papo na rádio com o argumento: “Seu Orleir a nossa audiência está baixa vai lá conversar comigo no estúdio”. Ele se abria em sorrisos, mas só aparecia mesmo quando achava que tinha alguma coisa para refletir com as pessoas.


Admirado
Essas entrevistas eram provas do carinho que o povo do Juruá tinha pelo Orleir. Quantas vezes abri o microfone através do telefone para os ouvintes participarem ao vivo. Nunca aconteceu de alguém entrar no ar e agredi-lo. O espaço estava aberto e algum “desafeto” poderia simplesmente ligar e ataca-lo porque não tinha nenhum tipo de filtro para as ligações que chegavam. Eu atendia o telefone ao vivo e deixava o ouvinte falar diretamente com ele e com toda a audiência.


Despedida
Tive a oportunidade de fazer a última entrevista dada pelo Orleir alguns meses antes do seu falecimento. Foi na TV Juruá quando ele retornou de São Paulo depois de uma cirurgia nos intestinos. Apesar de açodado pela doença, o Galego, não tinha perdido nem um pouco do seu carisma ao se comunicar com o povo que sempre despertou o temor dos seus falsos amigos e adversários. No seu velório eu já não trabalhava no Sistema Juruá de Rádio e Televisão, mas fui convidado pelos seus filhos a fazer a cobertura jornalística daquele momento de comoção para Cruzeiro do Sul e todo o Acre. Me lembro bem de todos os personagens da política que ali estiveram naquele dia 8 de maio de 2013 na Catedral de Nossa Senhora da Glória. Alguns, me parece, fingiram estar emocionados, mas hoje penso que estavam aliviados de não terem mais que enfrentar o Orleir num debate. Porque com todos os seus erros e acertos na vida Orleir representou uma expressão de mudança para os paradigmas do Acre. Levou o seu Governo para o interior e ajudou a desenvolver muitos municípios que estavam completamente isolados na dependência total dos desígnios dos burocratas da Capital.


“Deixem que os mortos enterrem seus mortos”
Pego uma carona na frase de Jesus Cristo dos seus Evangelhos para sugerir que a campanha para governador do Acre se ocupe dos vivos. Que se faça um debate saudável e propositivo para resolver os sérios problemas que o Estado enfrenta atualmente como a criminalidade e a falta de empregos para os nossos jovens. Que os candidatos apresentem suas propostas, conversem com o povo nas ruas, nos rios, nos seringais e tentem convencer os eleitores daquilo que pensam ser o melhor para o Estado. Quanto ao Orleir Cameli apenas deixem que a história faça o seu próprio julgamento. Porque quando a gente aponta o dedo para alguém os nossos quatro outros dedos estão apontando para nós mesmos.


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