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Bambu é alternativa de renda na produção familiar, diz pesquisa

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Pesquisas realizadas pela Embrapa e instituições parcerias mostram que é possível manejar bambus nativos e fazer da planta uma opção de renda na agricultura familiar. Com técnicas de colheita adequadas o vegetal rebrota com facilidade e pode produzir por muito tempo. O trabalho tem o objetivo de comprovar o potencial econômico e viabilizar o aproveitamento desse recurso natural, abundante no estado do Acre.


Junto com moradores da Reserva Extrativista Chico Mendes, município de Assis Brasil (AC), os pesquisadores atuaram na definição de um sistema de produção para a cultura, durante seis anos. Além de possibilitar o manejo de reservas nativas, as pesquisas, realizadas em parceria com a Fundação de Tecnologia do Acre (Funtac), Serviço Brasileiro de Apoio às Micro e Pequenas Empresa (Sebrae) e Universidade Federal do Acre (Ufac), contribuíram para desmistificar o vegetal, antes considerado indesejado por sua capacidade de se espalhar rapidamente.

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“Para demonstrar as potencialidades do bambu aos agricultores instalamos um experimento na comunidade Bambuzal e testamos técnicas de seleção, corte e colheita da planta, além de métodos de tratamento e processamento, para garantir qualidade à madeira. Paralelamente, identificamos alternativas sustentáveis de aproveitamento da madeira na propriedade e compradores potenciais para a produção. Aos poucos, eles perceberam que o bambu é uma cultura promissora, com muitas possibilidades econômicas”, conta o pesquisador da Embrapa Acre Elias Miranda.


Planta rebrota por mais de 30 anos Perene, de rápido crescimento (algumas espécies crescem até 20 centímetros por dia) e fácil regeneração, o bambu pode produzir por mais de 30 anos, sem a necessidade de replantio.


Conforme Miranda, uma das principais particularidades do manejo dessa gramínea é a colheita seletiva, com retirada anual de colmos maduros. Em bambuzais nativos deve ser colhida metade das plantas por touceira. Em cultivos plantados, a partir dos cinco anos é possível colher de 20% a 50% dos colmos com potencial econômico, dependendo da espécie e finalidade de uso.


O pesquisador explica, ainda, que a extração regular, com base em orientações técnicas, ajuda a planejar a produção, facilita a colheita e permite o surgimento de novas plantas, aspecto que garante a manutenção do bambuzal e sustentabilidade à atividade. “Conhecer o comportamento reprodutivo do bambu é importante para orientar empreendimentos comerciais, seja em reservas nativas ou áreas cultivadas. Como se trata de uma planta ainda em fase de domesticação, existe um longo caminho até desvendar plenamente a sua biologia”, afirma Miranda.


De praga a fonte de renda


Na propriedade do agricultor Assis Oliveira, a família investiu na comercialização de colmos (varas) e esterilhas (pranchas aplainadas utilizadas para a confecção de painéis) tratadas na comunidade. “O aprendizado prático ajudou a transformar em fonte de renda uma planta vista como praga. Em três anos faturamos 80 mil reais com a venda desses produtos. Uma pena não ter despertado antes para o valor do bambu”, conta Oliveira.


Os resultados motivaram outros produtores rurais a investir no bambu como atividade produtiva, entre eles Francisco da Silva, morador do Assentamento Bandeirante, município de Porto Acre, que há dois anos tem o apoio de pesquisadores da Embrapa e Funtac no manejo da planta. “Aprendi a realizar a colheita na floresta e tratar a madeira. Hoje atendo encomendas de empresas de Rio Branco e São Paulo. Cada vara de quatro metros custa entre oito e 12 reais, de acordo com o diâmetro. A meta agora é investir no cultivo de bambu consorciado com açaí”, diz.


Mais de 250 espécies no Brasil


De acordo com a Lista de Espécies da Flora Brasileira existem 258 espécies de bambu no País, distribuídas em 35 gêneros e encontradas nos diferentes biomas brasileiros. Essa diversidade, correspondente a cerca de 20% do total dos bambus no mundo, favorece a realização de pesquisas para o melhoramento genético da planta e conservação da espécie, o que é feito pela Embrapa desde 2013, em parceria com a Universidade de Brasília (UnB). Um dos enfoques desses estudos é a produção de mudas, a partir de materiais genéticos de interesse comercial coletados em localidades da Amazônia e Cerrados.


Entre os resultados dos estudos está a definição de protocolos para a produção de mudas em laboratório, por propagação in vitro, com uso de biorreatores. O método, de acordo com o pesquisador da Embrapa Recursos Genéticos e Biotecnologia (Brasília/DF) Jonny Everson Pereira, permite multiplicar as plantas de forma semi-industrial e proporciona agilidade ao processo “Isso garante a oferta de mudas de qualidade, em larga escala, e reduz tempo e custos com mão-de-obra”, enfatiza.

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Mapa do bambu


A maior reserva natural de bambu do planeta, localizada no sudoeste da Amazônia Legal, abrange cerca de 180 mil quilômetros quadrados de florestas com a presença da planta, que se iniciam na Cordilheira dos Andes, nos territórios peruano e boliviano, e se estendem até o estado do Acre e parte do Amazonas. Essa imensa mancha verde cobre cerca de 40% das florestas acreanas, o equivalente a 4,5 milhões de hectares com bambus nativos, conforme
dados do Zoneamento Ecológico-Econômico (ZEE) do estado. Para conhecer de perto esse recurso natural, desde 2009 um grupo de pesquisadores realiza o mapeamento de diversos municípios.



O trabalho pioneiro revelou maior concentração de bambus com potencial econômico nos municípios de Assis Brasil, Manoel Urbano, Xapuri e Sena Madureira, situados a leste do Estado.


“Os conhecimentos sobre as espécies, quantitativo e localização espacial das reservas nativas serviram como subsídio para a criação do Plano Estadual de Desenvolvimento do Bambu, política pública que reúne diretrizes para o uso sustentável desse recurso natural, regras para o cultivo e prevê investimentos para a geração de tecnologias para a cultura”, afirma Aldemar Maciel, técnico do Sebrae.


Mercado em expansão


Presente em diversas partes do mundo, o bambu é utilizado para diferentes finalidades – da produção de brotos comestíveis à execução de projetos inovadores em arquitetura e engenharia. Segundo dados da Rede Internacional de Bambu e Rattã (Inbar), entidade que reúne mais de 43 países em iniciativas voltadas para o uso desses vegetais, incluindo o Brasil, o mercado mundial do bambu movimenta cerca de 60 bilhões de dólares ao ano.


Conforme explica o presidente da Associação Brasileira de Produtores de Bambu (Aprobambu), Guilherme Korte, diversos estados investem no cultivo de bambu, principalmente o Maranhão que já conta com 22 mil hectares da planta, destinados à produção de biomassa para geração de energia para o setor industrial, principalmente cervejarias e cerâmicas. Ele considera que as pesquisas são essenciais para direcionar investimentos para suprir a demanda crescente por bambu no mercado interno e de outros países.


“O Brasil possui imensas reservas naturais com espécies de Guadua tão resistentes, leves e flexíveis quanto a madeira convencional, que podem ser aproveitadas, além de um clima propício para o cultivo da planta em todas as regiões, inclusive como alternativa para recuperação de áreas degradadas. O caráter renovável e os usos múltiplos fazem do bambu uma excelente alternativa de produção para agricultores familiares e uma opção de negócio sustentável para a região, com benefícios econômicos, sociais e ambientais”, destaca.


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