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Após prisão por venda de casas, Rossandra Melo se torna empresária bem sucedida no ramo de confeitaria do Acre

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Ao abrir as grades da carceragem do presídio feminino dentro da Unidade Penitenciária Francisco de Oliveira Conde (FOC) em Rio Branco, a passagem de Rossandra Melo, dava a Operação Lares, no dia 13 de julho de 2016, mais um capítulo nebuloso. A investigação perdia o mais vistoso prisioneiro. Presa na segunda fase de inquirição junto com outros servidores públicos, acusados pela venda e distribuição ilegal de casas do Programa Minha Casa, Minha Vida, prática de crimes de estelionato, tráfico de influência e associação criminosa, nenhum dos encarcerados desse processo carregou a estirpe de Rossandra.


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Ela foi responsável pela delação dos principais envolvidos no esquema milionário que pode ter desviado, segundo a Polícia Civil, um milhão de reais. Relatou sem esconder o rosto e com uma riqueza de detalhes inquestionável, em depoimentos gravados – no processo em curso na segunda Vara Criminal do Tribunal de Justiça do Estado do Acre – a participação de comparsas, envolvendo desde nomes dos considerados “peixes pequenos” aos da alta cúpula do governo de Sebastião Viana, que, segundo a delatora, sabia de tudo o que aconteceu no esquema classificado pela Justiça como “verdadeiro balcão de negócios”, criado dentro da Secretaria de Habitação e Interesse Social (Sehab).


Inserida nas negociações como uma espécie de “corretora dos imóveis”, responsável pela arrecadação dos recursos pagos a partir da venda das casas, Rossandra chegou a confirmar para o delegado titular da investigação, Roberth Alencar – conforme depoimento gravado na sede da Policia Civil – que abriu a Confeitaria Josefina, sua principal ocupação fora do trabalho sujo na suposta quadrilha da Sehab, com o lucro das vendas de casas do programa de habitação do governo federal.


Dos envolvidos presos, Rossandra foi quem mais permaneceu atrás das grades. Não por falta da contratação de uma boa banca de advogados. Defendida inicialmente pelo criminalista Carlos Vinicius, no curso do inquérito, a empresária chegou a trocar de defesa, e saiu da prisão, através de habeas corpus impetrado pelo advogado Armyson Lee, que não é mais seu atual defensor, pelo menos essa foi uma das poucas coisas reveladas à reportagem por Rossandra.


O Juiz Titular da 2ª Vara Criminal, Gilberto Matos de Araújo, na decisão que decretou a prisão de Rossandra e seus comparsas, chegou a dizer que o caso parecia “ser apenas a ponta do ‘iceberg’, e não é de se descartar a possibilidade de pessoas do alto escalão do governo serem alçadas, à medida que as investigações se aprofundem”.



O magistrado tinha razão, foi a partir dos relatos de Rossandra Melo que se chegou a nomes do staff do Palácio Rio Branco, como a Dama de Prata, Chefe da Civil do governador Sebastião Viana, Márcia Regina e seu esposo, o médico Julinho, e ainda, o ex-secretário de habitação Rostênio Souza, por supostas participações na fraude. Denúncias até hoje não comprovadas.


Alegando dificuldades financeiras, a Confeitaria Josefina, de sua propriedade, foi fechada. Os funcionários demitidos. Mais tarde, a empresária acrescentou, através de seu defensor, não ter dinheiro para pagar a fiança arbitrada inicialmente pelo Tribunal de Justiça do Acre, no valor de R$ 100 mil, reduzida para R$ 30 mil. Rossandra só aceitou pagar R$ 10 mil, último pedido da defesa de reconsideração de valor, aceito pela Comarca. Enfim, a sonhada liberdade acontecia após 78 dias.



Da prisão preventiva para comercialização de chocolates importados da Bélgica

Com ajuda de pessoas próximas que se disponibilizaram a colaborar com informações, a reportagem passou a acompanhar os passos de Rossandra, desde a sua saída do presídio feminino da FOC, em Rio Branco até a surpreendente ascensão empresarial.


Passados praticamente dois anos, sem nenhuma condenação, sem liberdade vigiada, a ex-presidiária passou a esbanjar um novo status, bem diferente daquela mulher que, segundo informações apuradas, sofreu de depressão após ter sua imagem publicada nacionalmente, fechar o seu principal ramo de negócios, a Confeitaria Josefina, e ficar atrás das grades, debilitada.

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Como ela própria relatou pelas redes sociais, sua empresa, mesmo na forte crise instalada nos últimos dois anos, saiu do vermelho para um crescimento assustador. “2017 foi o ano do recomeço”, detalha Rossandra no facebook.


Tal velocidade não teve a apuração dos crimes contra ela e seus comparsas, apontados pela investigação concluída pela Polícia Civil do Acre. O processo declinou por decisão judicial para investigação da Policia Federal.


Mas o cárcere privado parece ter sido o condão de recuperação da empresária que chegou ao fundo do poço. Embora impedida por decisão do juiz Gilberto Matos de Araújo de se ausentar da Comarca por mais de sete dias, nos últimos meses, a empresária não poupou check-in pelas redes sociais, mostrando ou tentando repassar à sociedade, uma rotina normal e nada modesta depois que saiu da cadeia.


Segundo o que o ac24horas apurou, foi em São Paulo que Rossandra negociou a importação para comercialização na reabertura da Confeitaria Josefina, de chocolate Belga – conhecido internacionalmente – por ser produzido com 35% de cacau puro. Um dos melhores do mundo.



Para comprovar a negociação do produto importado, a reportagem visitou as duas lojas abertas por Rossandra Lima em Rio Branco, sendo uma delas no Via Verde Shopping. A primeira, na Galeria Bessa, no bairro da Floresta, zona central da capital, onde com a suposta proposta de encomendar doces para um aniversário, fomos muito bem atendidos pela gerente que confirmou: “trabalhamos com o chocolate Callebaut (de fabricação Belga), esse é nosso diferencial”, disse a funcionária, cujo nome a reportagem vai preservar.


A Loja da Galeria Bessa tem decoração de fino acabamento. Os quadros, lâmpadas e acessórios também foram importados. Totalmente climatizada, foi o primeiro espaço aberto após o escândalo envolvendo a marca Josefina. Para fugir do fantasma, amigos de Rossandra que colaboraram com as informações, afirmaram que a empresária preferiu retirar o ponto comercial do bairro Bosque, onde começou a trabalhar no ramo antes de se tornar réu confessa.



A estratégia parece ter dado certo. Clientela de luxo costuma provar dos chocolates, balas, salgadinhos, guloseimas e doces importados. Alguns clientes, como a publicitária Mirla Miranda, fazem questão de divulgar a confeitaria como “a delícia do momento”, disse Mirla em uma de suas postagens compartilhada por Rosandra nas redes sociais.


Na segunda loja aberta em novembro do ano passado, no Via Verde Shopping, passam a clientela ainda mais refinada. Secretários de estado, damas do staff governamental e do Poder Judiciário, costumam se reunir para experimentar as novidades chamadas por Rossandra como “pacotinhos de amor”.



O negócio é tão promissor, que na primeira postagem do ano, Rossandra anuncia mais novidades. Com hashtag “qualidadejosefina”, a empresaria anunciou super produtos para 2018, “tudo muito gostoso e surpreendente”, escreveu.


Surpreendente mesmo…

O status de Rossandra Melo começou a ser observado e questionado pelas redes sociais. O jornalista Wesley Moraes, foi um dos que primeiro classificou o crescimento da empresária envolvida na Operação Lares como “Bolo Podre”. Em alguns comentários, internautas satirizam o caso comparando-o à letra da música das cantoras Simone e Simaria: “quando o mel é bom, a abelha sempre volta”.


A delatora que chegou a ser ameaçada durante o curso das investigações, fala muito da família. Nas postagens que faz em sua página de facebook, que funcionou durante os últimos meses como uma espécie de diário para muitos desabafos, ela prestigia os 10 funcionários das duas lojas, entre eles, irmãos de sangue.


O que ela nunca revelou em nenhuma de suas publicidades, foi como conseguiu se recuperar financeiramente tão rápido, uma vez que, em julho de 2016, se declarou falida e sem dinheiro para pagar a fiança que garantiria a sua liberdade.


“Deus guardou e me cuidou principalmente nos momentos mais difíceis”, diz a empresária, talvez, lembrando das horas de cárcere privado. “Me mantive forte, dedicada à vida, à família e ao trabalho”, acrescenta Rossandra, falando do sonho chamado Josefina.


“Crescemos e formamos um time de ‘excelência’ e ‘campeão’, que apesar de todas as dificuldades lutou bravamente e, juntos, escrevemos mais capítulos de minha história de vida, dessa grande família”, revela.


Quem se beneficiou do esquema ainda é um mistério não desvendado pelos órgãos de controle

Até hoje, a Policia Civil, o Ministério Público Estadual, a Policia Federal, o Ministério Público Federal, não esclareceram à sociedade, como foi utilizado cerca de um milhão de reais desviado no esquema que, de acordo delação de Rossandra Melo, tinha dinheiro distribuído até dentro do banheiro da Secretaria de Habitação e Interesse Social do Estado do Acre.



O Juiz de Direito Gilberto Matos chegou a reclamar da morosidade nas investigações quando o caso ainda tramitava na Polícia Judiciária Estadual. A reportagem do ac24horas, teve autorização da Justiça para ter acesso aos áudios gravados com os depoimentos de todos os envolvidos no processo. A série de reportagens sobre o caso, ajudou a esclarecer como a suposta quadrilha foi montada dentro do governo do Acre.


Já nos autos nº 0003421-35.2016.8.01.0001, o juiz titular determinou, atendendo solicitação da autoridade policial, a quebra de sigilo telefônico dos investigados, bem como a quebra de sigilo de dados bancários dos mesmos, visando angariar o completo extrato de movimentações relativo a quaisquer operações ocorridas no interstício entre 01 de agosto de 2014 a 31 de dezembro de 2015, sobre as contas correntes e poupanças, em seis instituições bancárias.


Ainda no âmbito da “Operação Lares”, nos autos nº 0002894-83.2016.8.01.0001, o magistrado determinou também o sequestro de bens móveis dos investigados, que correspondem a um automóvel Honda Fit, uma motocicleta Honda, um automóvel Renaut Duster e um automóvel Chevrolet Ônix.


Aleac criou CPI para revelar nomes de políticos acusados no decorrer das investigações

Por duas vezes, o Ministério Público Estadual tentou evitar, através de recursos, que as investigações do caso declinassem para o Ministério Público Federal e a Policia Federal. A última alegação foi derrubada pela Câmara Criminal do Tribunal de Justiça, os membros seguiram o voto do relator, desembargador Pedro Ranzi.


Diante das idas e vindas do processo e a morosidade no andamento das investigações, deputados de oposição conseguiram as assinaturas necessárias para a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito, na tentativa de fazer andar as acusações, principalmente, as que pesam contra secretários de estado e figuras do primeiro escalão do atual governo.


A Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) criada na Assembleia Legislativa do Estado do Acre só foi aberta, após mandado de segurança impetrado pelos deputados do bloco de oposição, acatado por unanimidade pelo Tribunal de Justiça, com parecer favorável do procurador de Justiça, Cosmo Lima de Souza, do Ministério Público Estadual.


O bloco de sustentação do Sebastião Viana, numa tentativa de ganhar tempo, derrubou, ilegalmente, no voto em plenário, a instalação da CPI. Os desembargadores atestaram a inconstitucionalidade da votação que derrubou o requerimento no plenário da Casa e acataram a tese dos deputados de oposição que alegavam o descumprimento do regimento interno da Assembleia Legislativa do Estado do Acre e da Constituição do Estado que diz que a instalação da comissão deve ser imediata após o requerimento alcançar o número de assinaturas necessárias.


Instalada em maio do ano passado, a Comissão tem como presidente o deputado petista Lourival Marques, composta ainda do vice-presidente, deputado Jenilson Leite (PCdoB) e como relator, o deputado Raimundinho da Saúde (Podemos), todos da bancada de apoio ao governo. Como membros titulares, dois deputados de oposição: os deputados Gehlen Diniz (PP) e Eliane Sinhasique (PMDB).


Até o recesso parlamentar iniciado em dezembro do ano passado, nenhum resultado positivo foi apresentado pelos parlamentares que, até junho do ano passado, sequer tiveram acesso as informações do inquérito policial.


O OUTRO LADO:


Rossandra, a mulher que não escondeu o rosto e que gravou horas de delação para a Polícia Judiciária, não demonstrou nenhum interesse em falar a fórmula do sucesso da marca Josefina, pós-cadeia.


Após uma tentativa frustrada de conversa pessoal com Rossandra em uma de suas lojas, contatos telefônicos e pelo WhatsApp ocorreram de forma respeitosa. Mas na última quarta-feira (10), Rossandra fechou qualquer possibilidade de gravar entrevista. Ela não tem “nada a declarar” com relação ao crescimento da empresa.


Pelo WhatsApp Rossandra revelou que o advogado Armyson Lee, não está mais lhe representando. Em seguida, desejou um Feliz 2018 e uma boa noite à reportagem.


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