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Obrigado, meu velho amigo

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Março de 2003. Um dia chuvoso. Cheguei à Rádio Difusora Acreana numa bicicleta velha com a cara e a coragem à procura de trabalho. Levava no guidão e no coração o sonho de ser repórter. Muito tímido perguntei à recepcionista: “Quem do Departamento de Jornalismo pode me atender?” A moça da recepção respondeu: “Ilson Nascimento”. Ela me conduziu pelo pequeno corredor da emissora à sala à esquerda. A porta estava fechada. Reunião rápida de pauta. A recepcionista abriu a porta e saiu, pois tinha alguém lhe chamando. Eu, sem saber o que fazer, trêmulo, fiquei na porta imaginando estar incomodando o editor e os repórteres. Crio coragem e pergunto ao senhor de camisa branca e calça jeans:
“O senhor é o seu Ilson Nascimento?”


“Sim, meu amigo. No que posso lhe ajudar?”, disse ele numa generosidade peculiar.
“Quero fazer um estágio”, respondi.
“Você tem gravador?”, perguntou Ilson.
“Não, mas consigo”, disse.
“Você estuda?”, voltou a perguntar.
“Sim”, confirmei.
“Você pode vir amanhã?”
“Sim, Seu Ilson, posso.”

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Oito anos de convivência. Do dia 28 de março de 2003 ao mês de fevereiro de 2011, o “Senhor Wilson, o Seu Ilson, o Maninha, o Velhinho” foi o meu mais importante incentivador no rádio. Foi um pai, um amigo, um irmão, um exemplo, o mais exemplar servidor público que conheci.


Ilson chegava ao prédio da Difusora, na Benjamin Constant, às 5h todos os dias, antes de o Jornal Difusora ir ao ar, às 6h, e saia às 19h. Por vezes passava em minha casa na Nova Estação, às 4h30. “Esse menino tem futuro”, dizia ele sempre sorrindo.


Vi o Ilson chorar por compaixão a uma criança numa manhã de segunda-feira. Mas vi nele incontáveis sorrisos, cordialidade e generosidade.


Seu pecado era dizer “sim” ainda que carregando um eventual prejuízo nas costas. Não sabia dizer “não”. Por isso era difícil negar qualquer pedido feito por ele, até mesmo uma pauta num dia de domingo à tarde ou uma cobertura jornalística num feriado qualquer. Afinal, era o Seu Ilson quem estava pedindo. E sempre agradecia com um marcante: “Obrigado, meu amigo velho”.


Obrigado, Seu Ilson. Obrigado, meu amigo velho!


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