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Carta de uma escrivinhadora atordoada diante de notícias esperadas

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“Não te espantes quando o mundo amanhecer irreconhecível. Para melhor ou pior, isso acontece muitas vezes por ano. “Quem sou eu no mundo?” Essa indagação perplexa é o lugar comum de cada história de gente. Quantas vezes mais decifrastes essa charada, tão entranhada em ti mesma como os teus ossos, mais forte ficarás”


Para Maria da Graça – Paulo Mendes Campos

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Há tempos a frase “para (ainda tem acento? Ana Cristina disse que não tem, então vai sem…) o mundo que eu quero descer, deixou de ter valia. Era uma frase de efeito.  Quase tão forte quando a clássica “parem as máquinas”, sonho de consumo de todo jornalista que eu tive o privilégio de usar nos primórdios da carreira. Não é mais. No mundo acelerado em que vivemos, o breaking  news  já não vem pelo plantão do Jornal Nacional e sim por um tuítada. O mundo desaba em 140 caracteres. Às vezes menos. Nem adianta querer parar a roda da vida pra descer. Não tem como. Hard News da manhã é notícia de “ternontonte” às 14h.


Ou por acaso você lembra que na terça-feira pela manhã o país parou para assistir o médico Sérgio Côrtes, homem forte de Sérgio Cabral, ser preso sob acusação de afundar a saúde do Rio de Janeiro em um mar de lama  e um rombo estimado de R$ 300 milhões? Pois é? Mas foi ontem, pessoas! Ontem!



Notícia velha, Charlene!


Parece ser do ano passado, mas era a notícia do dia de ontem. Até o menino do Estadão vazar a lista do ministro Fachin. E o mundo desabou quando o juiz mandou tirar o sigilo das delações do príncipe e do seu séquito e a foto da entrega dos HD’s – solicitados em março – entregues no STF aos jornalistas com o material produzido a partir das delações tomou conta do país e, não por acaso, ilustra esse texto.


Enquanto escrevo, o assunto é a família Bahia Odebrecht e a delação do fim do mundo. Na TV, nos sites, os vídeos das delações de Emílio (pai) e Marcelo (filho) Odebrecht são o assunto da hora. É tanta informação, tanto zero, tanto milhão, que nem Silvio Santos dá conta. Salta aos olhos a precisão de Odebrecht, o filho, na riqueza dos detalhes. Uma amiga de humor escarlate disse em um grupo de Whats: esse Marcelo nunca fumou maconha! Ô biXim de memória boa!!


Daqui da estação do fim do mundo onde moro, olho tudo ao meu redor e percebo que não posso pedir para parar o mundo e pedir pra descer. Também não há como bancar a Alice no País das Maravilhas.  Eu tento…


– Terra chamando, Charlene!!


– Houston, temos problemas!!


– Acorda, Alice! Esse país não é teu!

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Não é mesmo. Nunca foi. Jamais será. Sou realmente estrangeira nessa terra. Daí lembro de fragmentos de Alice de um blog que costumava ler antigamente, que começa assim: “O senhor poderia me dizer qual caminho devo tomar para sair daqui? Para onde você quer ir?, respondeu o Gato. Não me importo muito para onde…, retrucou Alice. Então não importa o caminho que você escolha… “Mas eu não quero ficar entre gente maluca, Alice retrucou. Oh, você não tem saída, disse o Gato, Eu sou louco. Você é louca. Como você sabe que eu sou louca?, perguntou Alice. Você deve ser, ou então não teria vindo para cá.” Entendeu ou quer que eu desenhe? Miau…


Volto a Paulo Mendes Campos, na carta à filha Maria da Graça, para expressar minha perplexidade diante de tanta informação – para não ser devorada – que preciso, mas não queria ter:


“A sozinhez (esquece essa palavra feia que inventei agora sem querer) é inevitável. Foi o que Alice falou no fundo do poço: “Estou tão cansada de estar aqui sozinha!” O importante é que conseguiu sair de lá, abrindo a porta. A porta do poço! Só as criaturas humanas (nem mesmo os grandes macacos e os cães amestrados) conseguem abrir uma porta bem fechada, e vice versa, isto é, fechar uma porta bem aberta. Somos todos tão bobos, Maria…. Maria, há uma sabedoria social ou de bolso; nem toda sabedoria tem de ser grave. A gente vive errando em relação ao próximo e o jeito é pedir desculpas sete vezes ao dia: “Oh, I beg your pardon!”. Pois viver é falar de corda em casa de enforcado. Por isso te digo, para a tua sabedoria de bolso: se gostas de gato, experimenta o ponto de vista do rato”.


Nessa confusão – ou conjunção – de coisas, teses, crimes, informações, delações, apropriações, já não sei quem é o rato, o gato, a rainha de copas ou o gato de botas. Mundo, louco mundo, esse em que vivemos. Não sei quem é jacaré ou crocodilo. Mas sei que na linha do tempo da vida, os personagens estão todos fragmentados, como no filme e, para além de reality show, vivemos o Big Brother da vida real brasileira. Não tem mais graças assistir séries na Netflix.  No outono das folhas ao vento de 2017, o que tá valendo é o show de Trumam. Esse é o show da vida.


É pro Fantástico???


Não, minha senhora. É vida real. Isso é Brasil.


Bom dia, boa tarde, boa noite, leitor.


Durma bem, se você puder.


Na sexta espero que possamos voltar à programação normal.


Carinhos meus,


Charlene – me sentindo D. Maria, a Louca


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