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Artigo do economista Marcilio Oliveira: no Acre, a carne é forte e o governo do Estado também não é?

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*Marcilio Oliveira


Ninguém nega que o sistema de produção agropecuária no Brasil é dos mais organizados que existe. O Estado do Acre, embora ocupe posição intermediária no ranking dos estados produtores brasileiros de carne bovina, é um dos que apresenta maior potencial para expandir a produção. A primeira razão para acreditarmos nessa possibilidade é a solidez e o compromisso das Instituições que representam o Setor, entre as quais, se destacam a Federação da Agricultura e Pecuária do Estado do Acre – FAEA e a Federação das Indústrias do Estado do Acre – FIEAC. Cabe mencionar também o relevo da EMBRAPA/ACRE que possibilita que os investimentos realizados pelos empresários sejam alocados em áreas consideradas chaves para melhorar a competitividade dos produtos agropecuários acreano.

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Notadamente, a tecnologia rural, aperfeiçoamento das técnicas pesquisas em melhoramento genético do rebanho e coordenação da cadeia produtiva que inicia no campo e termina no consumidor final.


A segunda razão é compreendida pelo empenho e dedicação do governo do estado que nas últimas duas décadas buscou incessantemente aprimorar o controle e a vigilância das doenças afetas ao rebanho bovino. Tudo isso fez com que a produção agropecuária acreana tenha saído da condição de competitividade moderada para altamente competitiva e conquistado o exigente mercado interno e externo.


De fato, é difícil imaginar, entretanto, que uma forma de produção tão adequada ao crescimento econômico do Brasil e do estado do Acre, responsável por gerar quatro milhões de empregos, sofra algum prejuízo, em razão da “Operação Carne Fraca” deflagrada pela respeitadíssima Polícia Federal. Evidentemente, que todas as repercussões negativas levantam uma série de incertezas e interrogações por parte dos empresários e dos trabalhadores da cadeia agropecuária. Principalmente, os que dizem respeito a uma eventual redução do consumo da carne bovina e se esta implicará na redução da atividade econômica, que convenhamos, já vinha sendo bastante afetada pela crise atual.


Por outro lado, existem razões teóricas, frequentemente comprovadas pela prática e pela experiência histórica que ob portus – expressão em latim que significa ventos favoráveis – o segmento irá permanecer firme e forte. Pressupõe, igualmente que com tão rápidas observações, os leitores se convençam que não haverá impactos na produção de carne no estado do Acre. Procura-se apenas chamar a atenção para o fato de que a carne bovina, além de ser um dos componentes da dieta alimentar de maior preferência dos acreanos, possui demanda inelástica ao consumo. Isto é, tratando-se de economia, umas das maneiras de aferir a sensibilidade da demanda e variações nos preços é a elasticidade-preço da demanda. Por esta lógica, significa dizer que variações percentuais da quantidade demandada são menores que a variação nos preços. Ademais, admitindo coeteris paribus, a demanda do mercado que é a soma de todas as demandas individuais tende ao equilíbrio. Isso não diz tudo de imediato, mas indica que quanto mais essencial for o bem, menor deverá ser sua elasticidade-preço. Assim, em tais circunstâncias, ainda que ocorra uma eventual redução no consumo, a tendência é que os preços permaneçam estáveis. Em síntese, por esta lógica não haveria decréscimos nas receitas dos empresários e muito menos na arrecadação do Estado.


Além disso, embora não seja possível adivinhar o que ocorrerá no mercado, mas à medida que olhamos para os outros setores – avicultura, suinocultura e piscicultura – que seriam bens substitutos naturais ao consumo da carne bovina, dá para antecipar algumas conclusões. Segundo a Associação Brasileira de Proteína Animal – ABPA, a demanda pelos produtos oriundos do setor da avicultura no Brasil, apesar se posicionar muito próximo ao da carne bovina, o consumo Per Capita de carne de frango em 2014, foi de 42,78 (kg/hab/ano), sendo que 67% da produção são destinadas ao mercado interno. Porém, historicamente a carne de frango não possui tanta preferência do consumidor quanto à carne bovina. Portanto, sob forte suspeição como está não pode ser considerada como um bem rival.


Por sua vez, a suinocultura mesmo em ascendência o consumo dessa proteína no Brasil, em 2014, segundo a ABPA, foi de apenas 14,6 (kg/hab/ano). Finalmente, resta-nos examinar o setor da piscicultura. No caso particular do Acre, apesar do esforço institucional para tornar o pescado um produto competitivo, as plantas industriais existentes ainda está na fase de maturação e a produção é incipiente para atender o amplo mercado interno. Além disso, não há dados oficiais que possam sugerir que este setor receba grande aderência dos consumidores acreanos.


Há ainda quem procure ressaltar a peculiaridade do mercado agrícola na oferta de produtos naturais para atender a demanda dos vegetarianos e veganos. Contudo, os dados também são imprecisos para indicar que este grupo de consumidores desbancará a hegemonia da carne bovina.


Nessa perspectiva de análise, o que está a exigir uma reflexão mais aprofundada, certamente, não é se “a carne é fraca” ou “se é forte”, o que é nítido e digno de aplauso foi o comportamento institucional do governo acreano, seguindo o exemplo do governo brasileiro, tratou a questão de forma rápida, decisiva e com muita responsabilidade. Isto pode para parecer muito abstrato, mas é muito próximo ao que assegura o Professor Bresser Pereira: “para que o governo seja forte não é necessário ser grande, mas não poderá ser pequeno porque se o for não terá os meios necessários para garantir essa legitimidade”.


Enfim, em tempos de crises (econômica, política e moral) tenta-se atingir os setores que são estratégicos para gerar emprego, promover o crescimento econômico e por boa parte da arrecadação do Estado. A boa notícia, entretanto, é que no Acre, a carne não é somente forte, é, sobretudo, o principal sustentáculo da economia do estado, da qual todos nós dependemos.


Autor: Marcilio Lima de Oliveira – Economista e Mestre em Desenvolvimento Econômico, Regional e Meio Ambiente.


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