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Em entrevista ao ac24horas, Osmir Lima revela decepção com Sebastião Viana e mágoa de Flaviano; Pai de Osmir Neto, ele também fala da dor de ter o filho preso: “Ele é uma pessoa amargurada”

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Ray Melo, Luciano Tavares e Marcos Venícios 

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Aos 71 anos, o deputado constituinte Osmir Lima (sem partido) é reconhecido no Estado por sua habilidade política e capacidade intelectual de articulações de bastidores que resultaram em grandes vitórias. Um exemplo foi o Movimento Democrático Acreano (MDA) que impôs uma derrota ao Partido dos Trabalhadores (PT) no auge da popularidade da Frente Popular no Acre. Osmir Lima recebeu a equipe de ac24horas em sua residência no condômino Ipê, local que reside há 30 anos. Apesar de ostentar um relógio de uma famosa marca no pulso e de não abri mão de boas roupas, Lima se orgulha da vida simples que diz levar e de poder andar sempre de chinelo. Apesar de ter ocupado diversos cargos políticos importantes ao longo de sua trajetória na vida pública, Lima declara que o único patrimônio que possui é a casa onde reside. Ele mostra com orgulho, em uma coluna de sua área de lazer, o escudo do Botafogo, time de coração que ironicamente divide espaço com o escudo do Flamengo, afixado pelos filhos.


OSMIR_03A cachaça continua fazendo parte da vida de Osmir, mas não é aquela que passarinho não bebe. Lima confessa que a política é sua cachaça, que apesar das muitas decepções não consegue largar desta dependência, apesar dos apelos de sua família. Há 55 anos na vida pública, ele começou cedo pelo antigo PSD, aos 16 anos, período conturbado no país, véspera do golpe de 64. Mas sua primeira atividade antes de virar político foi a de locutor de rádio pela extinta Difusora Acreana de Cruzeiro do Sul (Voz dos Nauas). Que mais tarde teve seus equipamentos levados para a cidade de Sena Madureira e foi fechada. “O rádio era o único meio de comunicação, muito ouvida. Todo mundo ouvia no interior tinha seu radinho. Eu apresentava um programa de mensagens e a oração da Ave Maria. Eu tinha um livro de orações de rádio. Aí eu lia até o fim. Quando chegava no fim eu começava de novo porque ninguém se lembrava mais. Nossa família é católica. Nós acreditamos em Deus. Achamos que Deus é sem dúvida nenhuma a razão de ser. E respeito quem pensa diferente.”


Das histórias do rádio, ele lembra de várias. Uma delas conta em tom de brincadeira. A mãe de Cesar Messias, hoje deputado federal, também tia do ex-governador Orleir Cameli, ordenava a eles que se ajoelhassem e orassem durante a transmissão da oração da Ave Maria pelo rádio, que era recitada por Osmir Lima. “O Cristóvam Correia (conselheiro do TCE), irmão do César, o Cesar Messias e o próprio Orleir todas a vezes que eu estava rezando na rádio a mãe deles mandava eles ajoelharem e rezar. Eu sempre brinco com eles que eles deram certo na vida hoje porque se concentraram muito nas minhas orações”, brinca Osmir.


Tinha ainda a história das ouvintes que se apaixonavam pelo radialista Osmir e mandavam cartas românticas, mas se decepcionavam quando o conheciam porque no imaginário pensavam se tratar de um homem alto, bonito e rico. Tudo ao contrário: “O rádio era conhecido como a casa do pobre alegre. O salário atrasava seis meses e sabe como a gente sobrevivia? Com vale. Tinha vale. A gente tirava e assinava um recibo pra descontar quando saísse o salário”, comenta Osmir Lima, ao relembrar que a política que ele considera como sua cachaça, também o afastou do Acre, em plena ditadura militar, quando as manifestações políticas eram consideradas atos subversivos. Osmir Lima fala ainda da conturbada relação com o presidente do PMDB, Flaviano Melo, com o governador Sebastião Viana e com Carioca, o articulador político do PT. Abaixo, os principais trechos da entrevista:


Decepção com Sebastião Viana e a mágoa de Flaviano Melo


Um assunto que movimentou os bastidores políticos do Acre foi a demissão de Osmir Lima, do cargo que ocupava no governo de Sebastião Viana. O político foi demitido por telefone. Osmir acredita que Sebastião Viana não teve consideração por ele ao exonerá-lo. Não pela exoneração em si, mas por não ter chamado ele para conversar sobre o assunto. “Acho que merecia uma conversa”, diz. O ex-deputado informa que foi avisado pelo porta-voz do governo. Pediram a ele para que fosse à Casa Rosada tratar do ato com a assessoria do governador, mas Osmir Lima disse que não trataria do assunto com assessor. “Isso não foi para economizar gasto. Até porque eu já não era mais assessor especial do governador. O meu salário já tinha sido rebaixado, era um salário pequeno. E eu tava no governo muito mais por gostar de fazer política. Não vai fazer falta a ponto de abalar financeiramente”.


Sobre a polêmica com o porta-voz do governo, Osmir Lima disse que “não polemiza com porta-voz nem com assessor. Se eu tiver de dar um recado eu dou ao dono da voz. A minha história me permite isso. Eu não vou tá trocando farpa com quem quer que seja. Uma vez eu queria conversar com o governador, aí o Dudé disse: e aí. Aí eu disse a ele: sim, e quem disse que eu quero conversar contigo?! Não, o governador disse para eu conversar, ele disse. Eu falei: contigo?! Quem disse que eu vim aqui para conversar contigo?! Dudé, rapaz, vai! E sai… Por que eu tenho que discutir com assessor?  Não é o cargo de assessor. É que eu não acho qualificado para uma discussão. Eles são comandados”.


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O ex-deputado revela uma “mágoa pessoal e partidária” com Flaviano Melo. Para ele, Flaviano sempre usou o PMDB como um trampolim político individual sem permitir o surgimento de novas lideranças. Osmir não esquece o que considera “boicote” arquitetado por Flaviano para prejudicá-los nas eleições em 1994, quando ele foi candidato a deputado federal.  O ex-constituinte achava que sua história seria levada em consideração dentro do partido, mas aconteceu o contrário. “Me fizeram um boicote tremendo comandado pelo seu Flaviano Melo, que onde eu cheguei nos municípios tinha um candidato do partido indicado pelo seu Flaviano Melo. Eu achei que o PMDB não agiu com correção comigo”, lembra.


Mesmo com as decepções, diz que seu partido de coração ainda é o PMDB. Perguntado se pensa um dia em retornar ao partido diz que “prefere mantê-lo no coração”. “Meu partido de coração ainda é o PMDB. Ele (Flaviano) não contribuiu e fez um projeto pessoal para ele que deu certo tanto que ele é deputado até hoje. Ele acabou com o partido e a mim pessoalmente”.

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Osmir relembra que o ex-governador Orleir Cameli quis ser candidato pelo PMDB. Ocorre que Flaviano ameaçou publicamente se rebelar e apoiar o candidato do PT na época, o hoje governador Sebastião Viana, caso os peemedebistas lançassem Orleir. Na eleição anterior, a de 1990, quando Edmundo Pinto fora eleito governador, Osmir esteve na disputada majoritária pelo comando do Palácio, porém com o PMDB dividido foi derrotado. “Perdi a eleição porque o PMDB dividiu. Em seguida o próprio Edmundo me chamou dizendo que precisava de aliados. E eu disse que não porque o meu partido havia tomado uma decisão de que seria adversário dele. Passei quatro anos me dedicando de manhã, de tarde, de noite às vezes de madrugada à reorganização do PMDB, como secretário-geral, todos os dias no diretório, fiquei me sentindo um tanto quanto responsável também pela derrota”.


osmir_05As diferenças entre Jorge e Sebastião Viana


O ex-assessor palaciano enxerga uma diferença entre os irmãos Viana: Jorge tem perfil de executivo e Sebastião se encaixa melhor no legislativo.  Perguntado pela reportagem de ac24horas se ele acha então que ambos estão em postos errados, Osmir Lima apenas riu, não respondeu. “A diferença que eu vejo é a que todo mundo vê: o Jorge é mais executivo, o Tião é mais legislativo. Um estaria mais afeito ao parlamento, outro mais afeito ao executivo”


Osmir faz críticas ao segundo mandato de Sebastião Viana, que para ele está sendo bem diferente do primeiro. “Politicamente, em termo de gestão, as idéias, eu achei positivo o primeiro. No segundo, eu não sei se por causa da crise ou porque ele não será candidato a mais nada isso levou a um completo desinteresse e deixou esse pessoal comandar políticas de PT. O grande problema é que não se respeita os partidos que compõem a Frente Popular. Eles são chamados apenas para referendar ações já tomadas. Os partidos pequenos só se reúnem para bater a foto, pra referendar. Não tem poder de decisão nenhuma”.


“Carioca é um incompetente e o Conselho da FPA é uma ficção”


O ex-deputado afirma que a relação entre ele e o governo estava ha algum tempo arranhada. Um dos motivos seria o tratamento de Francisco Nepomuceno, o Carioca, atual secretário de Articulação do Estado, com os membros dos partidos nanicos da FPA. Se para a maioria, Carioca é um ser iluminado e inquestionável, para Osmir Lima ele não passa de “um incompetente absoluto. O seu Carioca, que eu disse e fui obrigado a dizer para o governador, é um desastre como articulador político da Frente Popular. Maior desastre que eu já vi, um incompetente absoluto. Agora, um excelente articulador do PT. Ele não consegue agregar os partidos, agora para o PT sim”, dispara.


“Há uma massificação do PT dentro da Frente Popular. O PT tem 80% dos cargos dentro do governo, deram 10% ao PC do B, 5% ao PSB, eu to falando valores estimativos, e para outros partidos todos, os 12 partidos restantes deram também 5%. Que governo de coalizão é esse? Isso não é uma coalizão, isso é uma subordinação. O PT tem uma política que é feita por eles e eles não abrem mão deles. Esse grupo que eu divergia é quem impõe as regras. É como uma célula. O governador está cercado de áulicos. Ninguém tem coragem de dizer sim ou não. Não é o melhor caminho. E parece que não tem ninguém que diga que tá havendo erros. São assessores que só servem para avisar ao governador que estão falando mal do governo. Um homem de Estado não é pra tá preocupado com essas coisas. Tem processos maiores”, acrescenta.


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Ele conta como é o tratamento de Carioca aos aliados menores da FPA ao lembrar a recusa do articulador do governo em conversar com o ex-presidente do PSDC, Afonso Fernandes. “Eu vou só dar uma ideia de quem o seu Carioca: uma vez o Afonso Fernandes, que era presidente do PSDC, marcou uma audiência com ele. Aí me convidou pra ir com ele. Era 10h da manhã. Nós esperamos até 11h da manhã. Ele não compareceu. Depois mandou dizer pro secretário que aparecesse no outro dia. Eu disse pro Afonso que não iria mais. O Afonso foi e ele também não recebeu. Era presidente de um partido. Esse tipo de tratamento eu questionei. E na discussão que nós tivemos foi isso que eu falei, que ele não tinha a menor capacidade para fazer a articulação política da Frente Popular. Houve troca de palavras ríspidas. E o governo não vai trocar o Carioca e seus áulicos por mim, não teria sentido nenhum”.


“O Conselho da FPA só serve para juntar os partidos para tirar foto. As decisões não passam pelos partidos menores. O PT é quem decide tudo e leva ao Conselho: “o Conselho da Frente Popular é uma ficção. As coisas já vêm todas prontas. Recebem o apoio como se fosse uma decisão do conselho. Mas o conselho é ficção. Eu sempre me opus a isso. A Frente Popular do Acre teria que convidar Freud pra explicar aquilo ali. Porque na realidade é só o PT. Os outros partidos, notadamente os partidos pequenos, com todo respeito que eu tenho por quem o dirigem com honrosas exceções são pessoas que dependem de cargos do governo. Eles não têm uma liberdade de se posicionarem. E isso eu vivi. Eles faziam um discurso na frente do governador e outro completamente diferente fora, e crítica a condução”.


osmir_06PT mantém fidelidade de partidos com cargos


Criada em setembro do ano passado, a Frente Alternativa formada pelo PSDC, PDT, PTN, PPL, PRB e PRP, rebeldes ao projeto do PT e da FPA, não durou uma semana e foi desmontada por pressão do governo e medo dos dirigentes das dos partidos do bloco. Osmir Lima foi um dos idealizadores do bloco, mas diz que percebeu que o grupo não passava de um blefe. Na primeira pressão da Casa Rosada, a tal frente se desfez. “Depois eu falei para o Afonso (então presidente do PSDC) isso é um blefe. Eu acreditei na Frente Alternativa, sinceramente estava acreditando, mas vi que era um blefe. O sentido da Frente Alternativa era a gente buscar um espaço. Eu dizia sempre o seguinte: se eu fosse candidato eu jamais estaria na Frente Popular. Por nenhum partido da Frente Popular. Por quê? Porque eles têm os seus. O Jogo é muito bruto em favor do PT. Aí você me pergunta por que esses caras tão aí. Eles são masoquistas? Acreditam num projeto? Não é nada disso. Primeiro, os dirigentes têm um emprego. Família, amigos. Segundo, na hora da eleição é que tem condição de dar alguma ajuda a esses partidos são eles. A oposição não tem nada”, comenta.


A foto com Eduardo Cunha foi a gota d’água de sua exoneração


Osmir Lima acredita que uma foto divulgada em seu Facebook ao lado do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB), considerado o principal inimigo do PT na atualidade, teria sido a gota d’água para sua exoneração. Ele explica que a foto foi tirada pela assessoria do parlamentar durante uma série de homenagens que a Câmara estava fazendo aos ex-deputados constituintes.  Osmir foi chamado para receber a medalha de prata depositada num cofre há 25 anos pelo então presidente da Assembleia Nacional Constituinte, Ulysses Guimarães. “Eu estava ali recebendo a homenagem do presidente da Câmara dos Deputados. Quando eu cheguei lá pra receber, pensei que era só uma entrega simples, mas a assessoria avisou o presidente (Eduardo Cunha) fazia questão de entregar”.


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Osmir estava sozinho. Ficou poucos minutos com Eduardo Cunha no gabinete da presidência da Câmara.  Afirma que percebeu em Cunha “um homem altamente resistente por tudo que tá passando, mas um homem profundamente abatido. Eu acho que ele prevê o que virá pela frente pra ele. É inevitável uma cassação”. Em uma rápida conversa diz que desejou ao peemedebista sucesso e o deputado respondeu que a situação está difícil. “É, vamos ver. A situação está difícil, mas vamos ver”, respondeu Cunha a Osmir.


“Eu nunca entendi esse sentido de florestania”


Para Osmir Lima o conceito de florestania pregado pelos governos da Frente Popular é mais uma “questão de marketing político como imagem positiva externa. Eu nunca entendi esse sentido de florestania. Nunca entendi o que isso significa. Acho que é uma questão muito mais de marketing político.  Osmir Lima lembra, por exemplo, da Zona de Processamento de Exportação, a ZPE, que foi criada no governo de Binho Marques com a promessa de erguer a economia local por meio da implantação de empresas, inclusive multinacionais, que nunca deu certo. Ficou só no papel. “Eu comecei até a botar muita fé na ZPE, que foi criada pelo governo, mas à medida que eu vi que você teria que destinar tanto pra exportação tanto pro mercado interno, algumas dificuldades criadas, a própria infraestrutura precária que nós temos, ainda, isso não atrai investidor, não atrai as grandes empresas. A ZPE nasceu com boas intenções, mas não cumpriu com sua finalidade até agora. Qual é a empresa que está instalada lá? Tem projetos que ainda está amadurecendo… Eu acredito possa dar certo, mas no futuro”.


Osmir_09Para o ex-deputado, o Acre sofre de um sério problema que é o “sentimento de tudo proibir, o que acaba atrasando o desenvolvimento do Estado. A política de preservação do Estado ela é equivocada. Ela atrapalha. Aqui no Acre tem um sentimento de tudo proibir. Por exemplo: proibiram o jacaré. Isso não tem sentido, deveriam ter como tem em qualquer outro lugar a captura de animais e depois para. O jacaré poderia ser útil pra vender o couro. E aí chegaria um determinado tempo para pra não permitir a extinção. Na Amazônia é muito fácil tudo proibir. Não pode ter desmatamento, não pode cair uma folha de uma árvore. Talvez seja mais fácil você compra madeira lá no Paraná pra construir aqui do que adquirir aqui. Nós não queremos desmatar tudo. Fizeram o zoneamento ecológico e econômico, mas não colocam em prática. O zoneamento vai dizer se mexer numa área ela vira deserto, vai dizer qual é a boa pra agricultura, pra soja. Na medida em que eles dizem que 80% não pode mexer isso é uma loucura.”


Ele compara o Acre com o vizinho Estado de Rondônia, que já teve, por exemplo, um rebanho bovino menor, mas que hoje desponta em crescimento. “Por que nós ficamos pra trás de Rondônia? Nossa pecuária era  muito maior que a deles. A circulação de recurso é muito maior por lá. A política de desenvolvimento sustentável. Eu acho lindo esse termo, me arrepio todo quando falo. Mas o que isso tá trazendo de prático pra nós. A geração dos meus filhos e dos meus netos estão com problemas sérios de empregos. Todos querendo ir embora”.


Criticando a “esquerda de botequim”


Osmir Lima se define como um “centrista de esquerda”.  Ele lembra que “grandes políticos foram e são de centro-esquerda: o próprio Ulysses Guimarães, o FHC, o Serra. Temos e tivemos grandes nomes de centro-esquerda e na esquerda. Mas não é essa esquerda de botequim, não. Essa esquerda caviar. Tipo Chico Buarque. Chico Buarque não tem nenhum apartamento lá em Cuba. Mas se for em Paris ele tem. Essas utopias de igualdade não existem. É inviável. As várias experiências não deram certo. A esquerda morreu com a queda do muro de Berlim. Claro que tentar fazer um mundo feliz é um sonho de todos nós”. Ele lembra ainda a contradição de membros de movimentos políticos defensores do atual governo que possuem uma prática diferente do discurso esquerdista”.


Osmir pondera, entretanto sobre o capitalismo opressor: “claro que o regime capitalista precisa ser aperfeiçoado, porque ele tem os seus malefícios. E isso tenho dito muitas vezes que eu não acho justo que o cidadão faça um aniversário e gaste um milhão enquanto o seu concidadão, o seu vizinho passa fome.  Aos críticos, Osmir afirma que vive de uma aposentadoria do Banco do Brasil, onde ingressou via concurso público. Ele desmente boatos de que possui bens como fazenda, posto de gasolina e prédio. “Eu sou aposentado do Banco do Brasil. E foi por concurso público. Disseram tanta coisa de mim, isso e aquilo. Eu não tenho uma fazenda, eu não tenho posto de gasolina, eu não tenho prédio, eu tenho essa casa pra morar, meu único pra morar”.


Várias candidaturas atrapalham a oposição


O Movimento Democrático Acreano foi formado por seis partidos e tinha como cabeça o PMDB. Nas eleições do ano 2000, para prefeito de Rio Branco, conseguiu impor uma derrota ao então candidato do PT, Raimundo Angelim, atualmente deputado federal. Flaviano Melo foi o prefeito eleito. Osmir Lima explica que o MDA obteve sucesso contra um PT que ainda estava no auge porque discutia primeiro projetos depois o nome do candidato. Outra: apenas um candidato da oposição disputaria as eleições e qualquer sinal de simpatia ao PT era motivo para expulsão do grupo. O regimento era bem claro. O movimento parecia partido único, embora fosse sustentado por seis legendas diferentes.


OSMIR_10“O MDA foi o único movimento correto feito para derrotar o PT e nós derrotamos o PT no auge. Nós criamos o MDA, mas nós evitamos um nome. O nome é papel secundário. Primeiro nós organizamos um regimento de como iria funcionar. Todo mundo concordou e assinou. Como se fosse um partido único. Eram cinco ou seis partidos, mas não se permitia lançar mais de um candidato. Só podia sair um por essa frente. Quem tinha qualquer simpatia do PT estava afastado com foi o caso dos prefeitos de Mancio Lima e Rodrigues Alves. Houve um primeiro um comportamento de idéia. Nós nos juntamos por uma idéia. Mostramos onde o PT não funciona. Nos unimos por idéias. A partir daí encontramos um nome, que foi o de Flaviano aqui em Rio Branco de outros companheiros em cada município. O nome foi a última coisa que nós escolhemos”.


Para Osmir, o MDA deve servir de exemplo para a atual oposição. Ele é contra o lançamento de várias candidaturas. “Eu acho que primeiro as oposições devem se unir, mas não como tá hoje. Várias candidaturas a prefeito pra mim é uma loucura. Quando você lança várias candidaturas fica a mágoa porque é um tentando ocupar, contrariando a lei da física, tentando ocupar o ao mesmo tempo o mesmo lugar no espaço. Aí um tem que se afastar e ficam os cabos eleitorais se defrontando.”


O ex-deputado analisa que Marcus Viana no segundo turno nas eleições, pela estrutura de campanha que deve apresentar, é muito mais forte que um candidato da oposição. Ele cita o erro da oposição em Cruzeiro do Sul. “Vamos pegar Cruzeiro do Sul. Lá tem dois candidatos fortes da oposição: o candidato apoiado pelo Vagner, que é o Iderlei Cordeiro, e o Henrique Afonso. Você tem um candidato do PT, da Frente Popular, que não tem nenhuma chance, se, no entanto, os dois da oposição tiverem altamente fortalecidos, um chegar a 26% e o outro 28%, o do PT pode ganhar com 29%, apenas. Em caso de derrota da Frente Popular, a oposição terá uma enorme responsabilidade de conduzir bem e corretamente a capital Rio Branco, caso contrário a FPA retorna ao poder”.


A conta Flávio Nogueira enfraqueceu o Banacre, mas não a ponto de fechá-lo, garante Osmir


Osmir Lima foi presidente do extinto Banacre (Banco do Estado do Acre) durante o governo Nabor (1983-1986), época das vacas gordas da instituição financeira. O ex-deputado revela que a falência do Banacre em 1998 se deu por diversos motivos, sendo o principal deles a decisão do governo FHC de fechar os bancos estaduais. Mas a queda do banco começou com o Plano Cruzado, quando a instituição passou a liberar créditos a juros mais baixos. Osmir refuta as informações de que o fechamento do banco estadual teria começado por causa da famosa conta Flávio Nogueira no governo do peemedebista Flaviano Melo. Ele salienta, porém, que a conta fantasma colaborou para o enfraquecimento da instituição, mas não a ponto de gerar sua falência.


“A conta Flávio Nogueira enfraqueceu o banco, mas não a ponto de fechá-lo. No governo do Flaviano Melo ele faz o que eu mais temia: ele retira o recurso do Banacre pra aplicar no Banco do Brasil, de onde surgiu a famosa conta Flávio Nogueira. E eu disse ao presidente da época: olha não permita isso que quebra esse banco. No Banco do Brasil eles faziam aplicações e o rendimento ia para as contas fantasmas. E foi o que aconteceu, o passivo ficou descoberto e houve uma intervenção do Banco Central. Lá na frente o governo Cadaxo, ele fez uma injeção de recursos de R$ 600 milhões para capitalizar o banco, normalizou o banco. Quando no governo Orleir estava no auge da pressão do governo FHC aí ele resolveu ceder.”


“O banco fechou depois de 12 anos da minha administração. O que levou o banco à queda foram alguns motivos, o primeiro deles a vontade do governo FHC de que era um contrassenso do sistema liberal haver tantos estatais. O segundo motivo foi uma questão de ordem interna. Na minha época sobrava dinheiro. O banco nunca deu um centavo de prejuízo, só dava lucro. Nós não fazíamos a correção da carteira cambial. Nós tínhamos em dólar. O lucro é muito grande porque o momento era  como de hoje é propício aos bancos. Nós tínhamos na época que eu entrei todos os recurso de Rondônia e do Acre à disposição do banco. Imagina a quantidade de dinheiro que  nós tínhamos. Depois que criaram o Beron e nós perdemos 52% dos nossos recursos. Com a aplicação do Estado nós fazíamos o maior pagamento da despesa do banco que era o pessoal. Nós pagávamos com uma semana de aplicação dos recursos do Estado. O Nabor ainda tentou tirar esse recurso pra aplicar no Estado e eu disse pra ele que o banco estava maior do que o Estado. A economia do Acre não permitia manter um banco. E eu disse a ele que se ele fizesse isso ele me devolvesse ao Banco do Brasil que eu não ia dar prejuízo ao Banacre. Aí ele esqueceu o assunto”.


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Não vai haver impeachment por causa do “toma lá, da cá”


Osmir Lima parece ainda em cima do muro, quando o assunto é o impeachment da presidente Dilma Rousseff (PT). Ele não responde se é a favor ou contra, mas pondera que Dilma não tem mais condições de governar o Brasil e acrescenta que apesar disso a presidente não será afastada. “Não acredito que passe o impeachment por causa do toma lá, dá cá. O governo que tá pegando esses cargos do PMDB, ele vai chamar todos esses pequenos partidos. Aí no dia da votação um vai adoecer, outro que a sogra morreu… Então, eu não acredito que esse Congresso que tá aí escute as ruas”.


“Há um crime. Há grupo de juristas dizendo que há sim um crime. Porque à medida que ela pegou dinheiro de bancos públicos, o que é proibido o controlador pegar dinheiro dos seus controlados, a pergunta seguinte que eu faço é: é um crime suficiente para tirar a mandatária da Presidência da República? Essa é uma outra pergunta que precisa ser feita com muito juízo, com muito cuidado. Mas há um outro aspecto a ser considerado: o governo Dilma acabou. Ela não tem mais credibilidade quer da opinião pública, quer do Congresso Nacional porque perdeu a maioria e vai ser difícil ela governar. Ela perdeu a maioria no Congresso pra tomar as medidas de ajustes necessários. Aí eu pergunto: como é que fica o país?”


Perguntado se o atual momento pode ser comparado ao golpe de 64, como pregam os defensores da manutenção do PT no Planalto, o ex-deputado que vivenciou aquele período afirma que as épocas são diferentes, as causas também. “Minha família apoiou o golpe de 64, porque éramos do PSD, como todos os líderes apoiaram. O Tancredo Neves apoiou, Ulysses Guimarães apoiou. Por quê? Porque naquela época era guerra fria. Você tinha que fazer opção entre o comunismo e o capitalismo. Eu tenho uma família de liberais. Minha família sempre foi liberal, tinha seus pequenos negócios. Todo mundo não queria saber de comunismo. Ali era a regra do jogo. E o velho PSD defendia o liberalismo que tanta falta faz hoje ao país, sabe. Nós vamos inclusive fundar clube do liberalismo pra discutir com alguns amigos.


Osmir vai mais fundo no tema e diz que o Brasil precisa de mudanças em sua estrutura política e em seu sistema de governo. “O presidencialismo não deu certo. Os 30 países mais civilizados do mundo são parlamentaristas com exceção dos Estados Unidos. Se fosse num regime parlamentarista nessa crise que estamos vivendo o governo já tinha caído. Não resistiria ao sistema. Ele caia automaticamente. Não há governo num regime parlamentar que se sustente com mais de 80% de desaprovação. No presidencialismo é isso que e nós estamos vendo. É dolorido, é complicado pra você tirar alguém que não tá dando certo. No parlamentarismo a pessoa continua votando pra presidente só que ele é o chefe de Estado, não é chefe de governo. Passa a ser chefe de Estado eleito pelo povo, que ele é a fonte de estabilidade, mas quem governa é o primeiro ministro.”


OSMIR_12Sugestão que o Acre fosse separado do Brasil


Era a véspera da Assembleia Nacional Constituinte. Cansado do descaso do governo federal com o Acre, a falta de estradas, repasses mínimos, isolamento quase total com o resto do país, o então deputado federal, um dos vice-líderes do PMDB na proposta da Constituinte, apresenta uma ousada emenda: a anulação do Tratado de Petrópolis e a consequente separação do Acre do Brasil. “A gozação foi geral”, diz Osmir. Mas o objetivo era protestar contra um governo seletivo, que ampliava seus programas de desenvolvimento em várias partes do país, mas continuava esquecendo o Acre.


Aconselhado por Ulysses Guimarães, Osmir Lima retirou a emenda, mas mesmo assim aproveitou para proferir um discurso em defesa do Acre e em protesto contra o governo brasileiro. “Tinha inclusive uma emenda polêmica que tentaram me ridicularizar, que foi a que eu propus a separação do Acre do Brasil. Eu pedi a anulação do Tratado de Petrópolis. O doutor Ulysses me chamou lá pra pedir pra eu retirar essa emenda que ele achava que eu estava, digamos assim, esculhambando com a Constituinte. Mas eu disse: não, doutor Ulysses. Essa emenda é uma emenda de protesto. O Acre foi incorporado ao Brasil por uma decisão dos que lá moravam, da sua gente. O país não reconheceu isso. Nós tivemos toda aquela luta para que nos tornássemos brasileiros e a nação foi extremamente ingrata. O Brasil apresentou uma série de projetos para as regiões mais pobres, pra combater a desigualdade regional. Nenhuma para o Acre. Naquela época nós não tínhamos nenhuma estrada ligando do Acre ao resto do país. Eu não esqueço. Nenhuma estrada. Só podia vir por avião ou no verão por uma estrada de barro terrível de Porto Velho pra cá”.


Osmir acreditada que se o Acre se tornasse uma república seria mais viável que um Estado pertencente ao Brasil porque passaria a receber recursos do exterior. “Nas várias entrevistas que eu dei me perguntavam: mas como fazer uma república daquilo que não existe? Aí eu respondia: não, pior do que está não fica. Porque se ali fosse transformado numa república, nas condições miseráveis em que estávamos, nós íamos receber muitos recursos externos de entidades, do primeiro mundo, montar estradas, nós seríamos olhados com um carinho imenso que não é o mesmo olhar que o Brasil tem ainda hoje. Eu diria que o Acre seria uma excelente nação porque nós íamos obter muitos recursos externos. Uma nação é sempre vista de forma diferenciada do que um estado. No Brasil hoje as desigualdades regionais são muito gritantes”


E quem seria o presidente do Acre? À época, apesar das brincadeiras em torno do assunto, Osmir chegou a ser abordado por alguns colegas, entre eles o então senador constituinte Jarbas Passarinho que o indagou sobre seu destino político caso o Estado virasse um país. Osmir respondeu: “você será nosso embaixador no Brasil”. Jarbas Passarinho caiu na risada. “Separa o Acre, transforma numa república e vamos ter eleições, era a proposta. O senador Jarbas Passarinho encontrou-se comigo no aeroporto e disse: rapaz, que história é essa que você tá propondo aí. E como é que vai ficar minha situação? Já pensei nela, senador: o senhor vai ser nosso embaixador. Ele riu”.


 A ligação e admiração a Ulysses Guimarães


Num pequeno quarto de sua residência, o ex-deputado federal constituinte guarda com carinho diversas fotografias, quadros e homenagens que recebeu quando era parlamentar. Na entrada, Osmir aponta orgulhoso para a fotografia em que está lado de Ulysses Guimarães. “Ulysses foi um grande homem. Ele era presidente da Constituinte e eu era um dos vice-líderes do PMDB na Constituinte. Tenho não só a saudade, mas uma gratidão muito grande a ele”, lembra.


Como era ativo no processo de construção da Constituição Nacional, Osmir Lima sempre estava com Ulysses Guimarães, presidente Assembleia Nacional Constituinte. Para Osmir, um político impar, grande tribuno, que deixa saudades. “Na Constituinte eu fui o vice-líder do PMDB, um dos vice-líderes. Nós nos reuníamos todos os dias com o Mário Covas, que era o líder. A Constituinte foi dividida em comissões. E pra cada comissão dessa tinha um vice-líder pra representar o partido. Nós nos reuníamos todos os dias pra dizer qual era a posição dos partidos. Depois foram criadas várias comissões, a sistematização e o plenário final. E eu tive uma participação muito ativa”, lembra.


A prisão do filho Osmir Neto


Desde o dia 03 de julho de 2013, a família Lima convive com o drama da prisão de Osmir Neto. O empresário foi preso durante a Operação Glamour, da Polícia Civil do Acre, por suspeita de estupro de vulnerável e posse sexual mediante fraude. Segundo a Polícia, ele usava uma agência de modelos para praticar os crimes. Neto é um dos quatro filhos de Osmir com Elisabeth. Fruto de um casamento de 52 anos. É descrito por todos da casa como o mais talentoso da família, um autodidata.  Mas que se perdeu pelas escolhas que fez.  “Ele toca, canta, é bom fotógrafo, escreve bem, memoriza com facilidade, entende português como poucos, tem um QI acima da média”, diz o irmão George, que é um dos advogados de Osmir Neto.


Ao tratar sobre a prisão do filho, Osmir Lima lamenta, se diz “extremamente aborrecido, condoído e penalizado. Nós somos responsáveis até certo ponto pela formação dos filhos, mas os caminhos futuros deles eles é que tomam. Aquilo foi um troço que abalou toda família. Ele quando voltou do Rio de Janeiro, que já tinha cometido esse fato, nós aqui tentamos de todas as formas de todas as maneiras aconselhá-lo a ponto de ele sair da minha casa, de achar que eu o estava aborrecendo demais. O que nós podemos fazer é lamentar muito tudo isso”.


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Por outro lado, ele acredita que a Justiça precisa rever o processo do filho, pois há muita “vigarice” de pessoas que supostamente se envolveram com Osmir Neto. “Que ele tem culpa deve ter, mas há muita vigarice ali pelo meio. Houve um monte de gente que quando viu a penalidade e se aproveitou. Teve uma moça que namorou com ele, viajaram pra todo canto, que era amante dele, ele gostava dela e ela dele, mas ela foi uma das denunciantes. Houve erro, deve ter havido sim. Agora, colocaram gente demais entrando. Eu espero que nosso Tribunal (Justiça) corrija os erros. Nós olhamos com os advogados e tem muita coisa que não procede, muita coisa. Gente no afã de buscar dinheiro. Também tá provado no inquérito que ele não forçou nunca ninguém. Tá provado no inquérito que ele não forçou nunca ninguém. Ele podia até prometer, não sei se prometeu. Todas se entregaram espontaneamente”.


Osmir Neto vive amargurado em uma cela na Papudinha em Rio Branco. Até hoje se considera inocente. Em sua rotina diária, costuma ler livros, o que sempre gostou de fazer. Recebe sempre a visita de familiares, principalmente de suas duas filhas, uma médica e outra pequena empresária, que mora em Brasília. “É um homem amargurado que acha que não cometeu nada. Ele continua achando que não cometeu nada, nada, nada errado. Que todas as pessoas que ele teve relação foram consentidas, foram permitidas, que tem muita invenção nessa história. Eu espero muito que o Tribunal refaça essa sentença”.


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