Menu

Cadeirante espera por casa popular há mais de cinco anos em Rio Branco

Receba notícias do Acre gratuitamente no WhatsApp do ac24horas.​

Ângela Rodrigues e João Renato Andrade | Rio Branco (AC)


005

Publicidade

O portador de necessidades especiais, Alexsandro da Silva Bezerra, de 34 anos, sonha em morar numa das casas do Programa Minha, Casa Minha Vida, do governo federal. Morador duma área de risco, o cadeirante teve que deixar a pequena casa onde reside, no mesmo quintal da mãe, Maria do Socorro da Silva Bezerra, situada no bairro São Francisco.


O cadeirante relata que vem repetindo, ano a ano, a cada nova cheia do rio Acre, o feito de deixar sua casa e, junto à esposa, filho e demais familiares, com destino a um dos abrigos públicos. Neste ano, ambos foram removidos para o Parque de Exposições Marechal Castelo Branco, no 2º Distrito de Rio Branco (AC), de onde foram reconduzidos ao lar – após a vazante do rio Acre – na última quarta-feira, 1º de abril.


A casa de Alexsandro está situada numa área de risco, localizada às margens do Igarapé São Francisco, no Conjunto Casa Nova. O retorno ao lar contou com o aval da equipe de vistoria da Defesa Civil que, segundo laudo, teria considerado o local apto a ser ocupado novamente.


Indignado com a posição do órgão, Alexsandro da Silva não pensou duas vezes. Do abrigo, seguiu de ônibus rumo à Secretaria de Estado de Habitação e Interesse Social do Acre (SEHAB), onde esperava reclamar dos cinco anos em que aguarda na fila de espera para ser contemplado com uma das casas  populares construídas na capital.002


“A minha casa já não estava boa por causa das últimas enchentes. Agora, com a desse ano, a situação piorou e muito. A casa tá torta e os barrotes tão velhos e entortando. O terreno, que fica próximo a um barranco, tem apresentado desníveis. Quando preciso me movimentar na cadeira de roda, dentro de casa, corro o risco de virar porque em vários locais o piso de madeira afundou. A sensação que tenho é que a casa vai afundar! Essa equipe [da Defesa Civil] foi lá e disse que eu podia voltar. Fui reclamar e eles disseram que a minha casa estava muito boa à vista de outras. Fiquei muito indignado com essa resposta, porque em momento nenhum eles levaram em consideração que eu sou um cadeirante! Se algo acontecer comigo, o que faço? Outros pulam, correm, se protegem e, eu? Até pra subir com a cadeira ficou difícil depois dessa enchente, que danificou a rampa improvisada de madeira que haviam feito pra mim subir. Eu vim aqui pedir mais atenção do poder público. Eu não tenho inscrição em meu nome, mas minha mãe se inscreveu em 2009, minha esposa também e até o momento nada”.


003


O local, segundo Alexsandro piorou muito com a cheia desse ano, que superou a marca histórica dos últimos anos no Estado.


“Não consigo entender. Não cabe na minha cabeça como permitem que a gente volte para um local desse. Não falo somente por mim, mas por todos. Eu escuto falar que o governo prioriza aquelas pessoas em situações de vulnerabilidade social e que dão atenção especial a quem tem deficiência física, mas até o momento a minha situação tem sido ignorada. Sinceramente, vejo muita injustiça. Tem muita gente que nem precisa sendo contemplado com casas enquanto que quem precisa mesmo fica nessa tal fila de espera, que parece num andar nunca!”, desabafa.


SEHAB PEDE PRAZO PARA AVERIGUAR SITUAÇÃO


A reportagem acompanhou a chegada do cadeirante à Secretaria de Habitação. Na recepção, Alexsandro Silva é atendido pelos servidores responsáveis pela triagem dos visitantes. Em seguida, o homem foi encaminhado para uma longa conversa com o subsecretário de Habitação, Rostênio Sousa e o Diretor Executivo do órgão, Daniel Gomes. O encontro durou quase uma hora.

Publicidade

Após expor a situação vivida aos gestores, o diretor Daniel Gomes solicitou, de imediato, que um levantamento detalhado da situação cadastral da esposa e da mãe do cadeirante foi apresentado. Em seguida, acordou prazo de uma semana para enviar ao local, um assistente social da Secretaria, para que fosse feita uma avaliação socioeconômica da família.


Após isso, se necessário, será solicitado, junto à Secretaria de Desenvolvimento Social, o cadastro da família no sistema de aluguel social.


O diretor disse ainda que enviará um engenheiro da SEHAB para avaliar as condições do terreno e do imóvel. Daniel também sugeriu que Alexssandro requisitasse, junto à Defesa Civil, novo laudo com justificativa técnica, para ser anexado ao processo habitacional. O gestor ressaltou que tentaria viabilizar um reparo na rampa de acesso à casa do cadeirante.004


O subsecretário Rostênio Sousa falou das questões técnico-administrativas como, por exemplo, avaliar a delimitação do entorno onde reside o cadeirante e os demais moradores. O objetivo é avaliar como foi realizada a divisão das áreas e identificar o por quê da família ainda não ter sido contemplada.


Rostênio Sousa pediu um prazo de 120 dias para avaliar o Mapa de Remoção das famílias em áreas de risco. O objetivo é identificar se o imóvel em questão está dentro ou fora da área de evacuação.


Concluído todo o levantamento e, em posse dos dados, o subsecretário assegura que “vamos revisar se houve falhas. Se houve algum erro, vamos corrigir! Não estamos aqui para cometer qualquer injustiça, mas agora precisamos desse tempo para descobrir o que aconteceu. Se não houve nenhum erro, ele com certeza será contemplado na próxima remessa de casas a serem entregues pelo governo”, pactuou o gestor.


A VISITA


A reportagem esteve na residência de Alexssando e pode averiguar, in loco, as condições insalubres em que vive a família do cadeirante e os demais vizinhos. Numa pequena casa, como pouco mais de 15m², construída no quintal da mãe, bem às margens do Igarapé São Francisco, e a poucos metros de um grande esgoto a céu aberto, Alexsandro da Silva mostra até onde chegou o nível da água.001


Se locomovendo com muito cuidado e insegurança, o cadeirante mostra os pontos críticos da casa, onde se escuta estalos da madeira velha e se pode ver e sentir o afundamento da casa. Do lado de fora do imóvel, ao analisarmos os pequenos troncos de madeira, que sustentam a casa, é possível observar que muitos deles estão tortos e outros em processo de deterioração, o que aumenta o risco àqueles que residem no local.


Outro fato notado na área da casa envolve as condições do solo, que apresenta considerável desnível e uma queda acidentada considerável, por estar a menos de 20 metros de um dos mananciais mais importantes da capital acreana.


INSCREVER-SE

Quero receber por e-mail as últimas notícias mais importantes do ac24horas.com.

* Campo requerido