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Ok, FHC, você venceu!

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O juízo que conta é o da História, e a ele os personagens não assistem. Quando a grande mestra dos homens sentencia, o veredicto recai nos mortos”.


Fernando Henrique Cardoso, em A Arte da Política

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Quando Fernando Henrique Cardoso escreveu a frase acima em seu livro A Arte da Política, talvez não imaginasse que ela não se aplicaria ao próprio, conquanto chegado o vigésimo ano de aniversário do Plano Real, continua a receber o reconhecimento e as homenagens, justas e merecidas, pela inestimável contribuição legada ao país.


Há vinte anos, a grande luta – que se arrastava em décadas de desapontamentos – foi tenaz contra a inflação, os corporativismos e todo tipo de interesses contrários à modernização econômica e às reformas no tecido social e político para alçar o Brasil a uma nova ordem. Foram mudanças históricas que beneficiaram os extratos mais inferiores da população.


A consistência e os efeitos destas mudanças são de mais ampla percepção nas palavras do saudoso economista Roberto Campos, crítico mordaz dos planos econômicos das duas décadas anteriores, que um ano apenas após sua implantação, apontava que o Plano Real foi, ao mesmo tempo, uma transformação cultural (contribuição para a cultura de estabilidade monetária); um sucesso político (aceitação popular, reduzindo a taxa de ingovernabilidade); um avanço econômico (redução da inflação de cerca de 50% para apenas 2% ao mês), além de nos fazer sair do mercantilismo patrimonialista para a inevitável economia de mercado.


Em um brilhante aforismo, Campos sentenciou também um avanço psicológico: “aprendemos que não estávamos condenados à inflação por uma fatalidade atávica”.


A magnitude destas transformações ainda é sentida com enorme intensidade por aqueles cuja memória alcança mais de duas décadas e que vivenciaram as agruras do país com o processo hiperinflacionário.


Não obstante, conhecedor da ética weberiana da responsabilidade e da convicção, Fernando Henrique jamais caiu na mesquinharia de inculpar a outros a situação do país, todavia, preferiu reconhecer os avanços do passado e assumir a respectiva responsabilidade do percurso.


O juízo da história, felizmente, tem sido apressado em seus veredictos com relação à FHC, gratificando o homem público de dimensão global, que, para impaciência e ressentimento de seus opositores, permanece premiando a paisagem sociopolítica internacional com sua abrangente cultura e excepcional lucidez. Sua eleição, em junho de 2013, para a Academia Brasileira de Letras, nas palavras do acadêmico Marcos Vinicios Vilaça, “foi um ato de respeito à inteligência brasileira”.


A saga política de FHC está longe de permitir-lhe o descanso, e isto é facilmente observável quando, ainda em A Arte da Política, manifesta a preocupação se as mudanças ocorridas no período do seu governo alcançaram o ponto de não retorno, apreensão ressaltada mais recentemente no seu discurso de posse na ABL, quando externou novamente o “sentimento de incompletude” com relação à nossa democracia.


E por quê? As mentes atentas observam, com certa incredulidade, as ações do atual governo fomentando o conflito de classes e de raças, incentivando invasão de terras, desrespeitando a propriedade privada, concedendo subsídios aos amigos escolhidos, exercendo controles de preços, promovendo ataques às leis e instituições, patrocinando ditaduras sanguinárias, culpando os outros pelo resultado de seus desvios e eximindo-se das responsabilidades. Mandamentos propícios para desorganizar a sociedade e destruir a economia de um país.


Situação que nos faz recordar o que dissera Rui Barbosa, que “no Brasil, o senso comum é o menos comum dos sensos”. É um ponto perigoso de sinalização de retorno à velha ordem (ou desordem). E assim o fazem por puro fetichismo e falta de imaginação, apostando em receitas ideológicas que historicamente deram erradas, aqui e alhures.


Essa atmosfera em nada contribui para avançar nas reformas que o Brasil tanto precisa. Pelo contrário, nos coloca numa situação de tensão social e enseja a renovação da antiga luta pela afirmação dos valores democráticos em nosso país, na qual FHC é partícipe de mais de meio século.


Com seu ativo político, e naturalmente dotado da máxima de Konrad Adenauer de que “ter couro grosso é o maior dom que Deus pode dar a um estadista”, é ele ainda quem, com entusiasmo, clareza e obstinação, melhor expressa a perspectiva do tempo. Está na hora de novos rumos para o Brasil.


*Francisco Nazareno é Diretor do Instituto Teotônio Vilela – Seção Acre e Secretário de Planejamento da Prefeitura de Senador Guiomard (AC)

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