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Uma viagem ao mundo meu

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Formei em História em 2002 na UFAC. Tinha na cabeça que aqueles longos cinco anos poderiam ter sido resumidos em um pouco mais de um. Cursei também, depois, Direito lá, e sempre quis saber se há algum curso na UFAC que tem uma carga de disciplinas tão “besterenta” como as de História, somados com alguns professores com ideologias tão novas quanto a invenção da roda ou o suicídio de Judas.


Tenho fé que tenham mudado e que o graduado desse curso, que amo tanto, saiba dispor sobre coisas mais concretas e reais para a vida dele (como saber por que o dólar sobe e desce, por exemplo).

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Bom, o certo é que, concluído História, resolvi conhecer a África. Saber de suas particularidades, seus problemas; ver e sentir de perto os traumas históricos que esse grande continente sofre.


Para os que não a conhece, a África não é somente miséria, desnutrição e dor. Há uma pequena elite que ganha com o nada do povo. Uma espécie de clã que, por gerações e gerações, vivem alojados no poder e se fortalecem cada vez mais com a pobreza aguda e extrema da população.


Na África, a corrupção é, para mim, o maior de todos os males. Andando certo dia, um senhor de idade me disse, em um dialeto forte, quase incompreensível, que mamãe corrupção é que gera todos os outros males, inclusive a fome que lhe assolava naquela quente e poeirenta tarde.


Política na África é algo sagrado: somente os sacerdotes podem versar sobre elas. Religiosos cínicos que apontam para o céu as soluções dos males do povo, enquanto guardam no bolso a riqueza que falta para resolver as questões gritantes porque passa a África.


As casas da maioria dos africanos são, na verdade, indigna de serem chamadas por esse nome. Amontoados de lonas pretas, em madeiras delirantes e frágeis, que não escondem a terra batida e as valas que escorrem o objeto cujo nome traduz a característica de como eles vivem: merda.


À noite, não encontramos energia elétrica nem paz, a violência é algo marcante nessas regiões. Segundo os depoimentos de alguns moradores de lá, a polícia não tem acesso por causa da pouca trafegabilidade. Tive coragem de perguntar quando foi que o poder público tinha ido lá. Percebi a indelicadeza da pergunta na resposta que me deram: apenas quando quiseram nos expulsar.


A África é banhada por vários rios, mas o conceito de água potável é algo distante de se materializar. Deprimi-me quando vi aquelas mulheres e meninos magros com latas furadas e enferrujadas buscando, em fontes duvidosas, o pouco recurso que lhes garantem a existência.


Perto de uma árvore queimada, onde pessoas limitavam futuros terrenos com marcos de sacolas rasgadas, ouvi de um homem que jogava pedras para o vento que eu não deveria estar ali. A minha curiosidade poderia pagar um preço muito alto, pois eu tinha em mim sinais claros de que não era de lá, não era um deles.


Voltei para o meu país triste. Quando escrevi essas poucas linhas, decidi não chamar aquele local pelo nome que já lhe era comum. Caladinho era um nome muito romântico para uma região tão difícil e precária.


Minha tristeza ficou mais completa, no instante em que eu soube que a pobreza alarmada já ensaiava a versão numero dois desse bairro. Se alguém, na época passava a chamar de Caladinho II, eu preferia, em lágrimas nomeá-la de Ásia Meridional.

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Por Francisco Rodrigues Pedrosa       f-r-p@bol.com.br


 


 


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