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Sobras da manhã seguinte

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A felicidade para mim é igual ao nosso passado: sempre será uma história mal contada. Eu, que não bebo, solicitei sempre da vida um excesso de miragens distorcidas e infinitamente frias para me livrar de minhas maiores dores.


A verdade está nos livros. A mentira, em que os guardam.  Há um que eu li na adolescência que dizia: “Não precisa correr tanto; o que tiver de ser seu às mãos lhe há de ir”.

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Eu acreditava nisso. No bar que nos recebia após as aulas, eu declarava meus amores ao que o álcool me revelava. Ouvia canções de guerra, e antes de ir para casa, eu me convencia mais uma vez de que a esperança era algo acessível somente aos fracos inacessíveis.


O curso de História é rico em sua produção: doidos, professores e agora, puxa-sacos dos governantes. Antes, quando as esquerdas mentirosas não tinham assumido o poder, o curso de história produzia uma leva de radicais ateus, que sonhavam com a coca cola e com a revolução armada.


Quem acreditaria que éramos obrigados a estudar as cartilhas do estúpido e cruel Stalin, assassino escroto de grandeza maior que fazia chorar os professores defasados que tínhamos? Sabíamos porque a fumaça subia, mas não entendíamos porque o dólar também fazia isso. Bom, não tínhamos dinheiro, não tínhamos futuro, não tínhamos muito.


Hoje, depois de tudo, antes de nada, posso dizer: ouçam! Os reis perderam o passeio da manhã. Os caçadores, perdidos, tem os cães como troféu de caça. Eu me refaço em cada lágrima que ironiza meu cantar esconso. Eu sou o velho de noventa anos que se olha no espelho.


“O homem que não tem vício é um fraco”. Repetia isso com um profundo olhar, buscando identidade e segurança no mundo que inexplicavelmente girava. Minha vez tinha passado. Roleta russa líquida! Na minha boca a certeza de que era preciso parar.


Na vida somos livros! Livros sem numeração, faltando páginas. Livros de vários formatos e cores, livros de letras bordada a ouro ou de brochuras que se despedaçam ao abrir. Livros de receita de como fazer serpentes e escorpiões e livros que sugerem o caminho do sol.


Quem nos lerá? Quem nos guardará com carinho depois de um abraço apertado no peito? Quem nos esconderá no meio de tantos outros, que não tem mais outra importância que a de escorar a porta, a proteger do vento que arranha a dobradiça?


Viver é bom. No fundo, sabemos disso. É que a tristeza portuguesa nos fez ávidos por dramas, por remorsos e fantasias nostálgicas. Já ouvi um antropólogo dizendo que somos alegres, mas não somos um povo feliz. Sabemos disso com a certeza de que, longe da terra mãe, desenvolveu-se em nós essa sátira pelo acaso, pelo o que não podemos medir nem tocar, como o sonho de ar tropical quente. Um sonho de ar tropical quente.


No universo do “quem trai distrai”, o amor e ódio são os dois braços do relacionamento honesto. Amar é uma sensação mais lida que praticada. Odiar é mais verdadeiro que as palavras que servem para definir esse verbo.


Nas Avenidas da vida, que eu chamo de espaço vago e frio, sensores me informavam que os ventos mudam a direção do cabelo, não a da mente. Era preciso seguir. Sim era preciso seguir. Todos nós temos nossas senhas. Todos fazemos caretas no espelho: um ensaio contrário a representação.

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Papai Noel Dirceu nos desejou um feliz natal. Um dos mentores do maior escândalo do Brasil Moderno, deve imaginar que sou tolo. Faço preces para que esse condenado como criminoso pelo STF, se engasgue na chaminé das masmorras e que não posse descer a cada pública tão cedo. E que as grades não sejam velas.


Ah, mas o que rola é o sentimento. Os olhos chorando e vendo o que as mãos não alcançaram.  Meu nariz se sente cansado de tudo. Meus dentes mordem meus dedos levemente. Antes de eu ir embora, insatisfeito pelo que não quis ter, eles me disseram que amar é gastar com cartelas o suficiente para comprar o galinheiro todo, só para ter o prazer de ganhar a galinha do bingo.


Que os anjos morram na próxima noite. E que eu viva para mostrar minha morte. Testemunha fiel de um espirito que vaga à sorte.


Ouçam! Ouçam! Os reis perderam o passeio da manhã. Os caçadores, perdidos, tem os cães como troféu de caça. Eu me refaço em cada lágrima que ironiza meu cantar esconso. Eu sou o velho de noventa anos que se olha no espelho.


Eu sou o velho de noventa anos que não perdeu o sonho! Eu sou teu amor eterno! Eu sou teu amor profundo!


Por FRANCISCO RODRIGUES PEDROSA    f-r-p@bol.com.br


 


 


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