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As pedras jogadas no lago

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Era domingo. Um sol radiante nascia mais uma vez na cidade de Nova York, o centro econômico do mundo.  Depois de fumaças, barulhos, gentes apressadas e outros tipos de loucos, a luminosidade do astro rei naquela paisagem descomunal era uma prova de que viver é bom.


Trezentos e quarenta e um hectares, cento e cinquenta anos de existência e vinte cinco milhões de visitantes anualmente, davam provas de que a natureza plácida daquela pequena floresta era o alvo dos que pretendiam fugir da superficialidade do mundo de concreto. Mergulhar na paz e na tranquilidade. Paz eterna!

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Sim, era verão no hemisfério norte, cedo da manhã já se encontravam milhares de pessoas apreciando a natureza. Caminhando e levados pelo sussurrar dos pássaros, alguns se detinham a mirar os verdes jardins, enquanto outros ensaiavam mergulhos em um dos lagos de águas azuis do Central Park. Mergulhos eternos!


Após uma discussão sobre os acontecimentos da noite passada, Amy, tentando evitar maiores consequências, bem como esconder as lágrimas que visitavam seu rosto, afastou-se um pouco de Clark Manisott. Desceu alguns metros uma pequena colina e sentou-se perto de um homem que, jogando pequenas pedras no lago, também chorava. Choro eterno!


– Posso sentar aqui perto?


– Sim senhorita! Fique à vontade. Espero que não se importe com meu estado. Meu coração pesa e minha alma sangra por todo o caminho. Preciso lavar meu rosto.


– Porque chora, senhor? Algo grave aconteceu? Posso ajudar?


– Se lhe fizer a mesma pergunta você me responderia? Não sei se a situação é a mesma, mas as consequências nos evidenciam. Você também chora.


– É… meu namorado… ele não aceita que ninguém se aproxime de mim. Comporta-se, às vezes, de maneira estranha. Quer que eu me isole de todos os meus amigos e das pessoas que conheci antes de ele entrar na minha vida. Não sei quais razões o fazem agir assim. Até onde pode ir alguém com tanto sentimento de posse?


– Entendo! Por favor, não chore! O amor é maior que isso. O amor é o maior dos sentimentos. É uma oração em um templo grande e limpo. É uma planta que brota, mesmo presa entre pedras de uma fria montanha.


– Suas versões são bonitas. Oh Deus! Queria tanto que ele soubesse que ele é a única pessoa para quem meu coração responde. Não queria que ele duvidasse de mim, nem ficasse me fazendo cárcere de um sentimento tão ruim. A posse doentia estraga qualquer relação. Queria tê-lo ao meu lado pra sempre. Mergulhar na imensidão desse sentimento tão formidável.


– Que bom que sabe disso. Perdoe-lhe. Pode ser apenas devaneios de um homem que tem por você as melhores pretensões. Conversem, debatam, exponham os pontos que estão atrapalhando a vida de vocês. O diálogo abre portas. O dialogo fecha portas que trazem os males de um casal. Retirando os telhados do sofrimento, choverá flores de sentimentos bons, pétalas que os levarão a felicidade eterna.


– Nossa! O senhor tem palavras certas. Não aparenta muita idade que demonstre ter vivido muitas coisas na vida. Prontamente, suas palavras são sábias. E eu não sei por que chora, nem por que não desiste de jogar essas pequenas pedras no lago. Nunca irá feri-lo.


– É estranho dizer, mas muito cedo eu percebi que amar e ser feliz são duas coisas diferentes. O sofrimento decorre dessa falsa ilusão de que um necessariamente anda de mãos dadas com o outro. Aqui neste lago, me sinto como o homem que espera o trem que passou no dia anterior. Você entende o que quero dizer? Sinto-me como o resto de doce deixado pela família no piquenique de domingo, como a agua do mar para quem padece na sede de um navio perdido.


– Qual o nome de sua amada? Vocês ainda estão juntos? Os problemas levaram vocês para longe um do outro? É por isso que chora?

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– Ela se chama Grace. Não estamos mais juntos. O destino nos montou surpresas, e meu coração frio não correspondeu ao amor que ela tinha por mim. Não estamos longe. E por isso que choro. Sou a porta da morte. A sala que a levou para perto de mim. Minha forma de vida a feriu. Sim, foi isso que fiz e faço até hoje.


– Os conselhos que deu a mim não servem para o senhor? Reconciliações existem. Estou triste. Muito triste, mas sei que ele e eu iremos fazer as pazes. Qual casal não tem problemas? Não tenho sua experiência, nem sua fina sensibilidade, demonstra ser um homem inteligente, mas deixe-me dizer: reconheça seus defeitos e diga a ela que não quer mais machucá-la. Nós, mulheres, adoramos ter nos braços um homem verdadeiramente arrependido. Ao contrário de vocês que querem, além de nosso arrependimento, que sejamos capazes de apagar nosso passado.


– Entendo. E devo dizer que você tem razão. Mas…


– Mas… por favor pare de jogar essas pedras e olhe-me. Gostaria de ajudar. Eu já nem choro mais. Gostaria que também tivesse razões para não prosseguir no seu pranto.


– Aquele que se aproxima é seu namorado?


– É sim!


– Volte pra ele. Sejam felizes e saibam que a vida é suave como o sentir de uma ave ao ver que um filho seu caiu do ninho. Amem-se! Aproveitem essa única chance de ter nas mãos a possibilidade de definir o amor da maneira que façam vocês felizes. Não se magoem, e quando errarem, não procurem ferir o outro para que possa ter maiores dimensões de seus equívocos. A dor é um encontro entre a fera e a débil presa.


Deixando o homem que atirava pedra na lago, Amy se encanta com aquelas palavras, enche seu coração de ternura e, ao se encontrar com seu amado, abraça-o forte.


Numa mistura de arrependimento e espanto, Clark aperta-a e cerra os olhos fortemente, para que as lágrimas não sejam mais que as que caiam. Sabia que tinha errado, sabia que precisava mudar. Tinha que dar valor ao amor de sua vida.


Na beira do lago, sozinho, percebendo que suas pedras tinham acabado. O homem, que atirava pedra, levanta-se e diz: espero que ao menos uma dessas possam ter ferido você, Amy Grace. Como almejo que o verão passe logo e que sinta a frieza desse belo lago.


– Por favor!


– Sim!


– Um taxi. Preciso chegar ao aeroporto em duas horas.


– Quem solicita? E onde está?


– Oh perdoe-me! Sou Clark Manissot. Estou no Central Park.


Pedras e perdas jogadas no lago.


{Fecha os teus olhos bem! Não vejas nada! Empalidece mais! E, resignada, Prende os teus braços a uma cruz maior! Gela ainda a mortalha que te encerra! Enche a boca de cinzas e de terra Ó minha mocidade toda em flor!} (FLOR BELA ESPANCA)


Por FRANCISCO RODRIGUES PEDROSA   f-r-p@bol.com.br


 


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