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Minha primeira vez

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Minha irmã mais nova, psicóloga, uma vez me disse que uma das coisas mais fascinantes do ser humano é a memória. É algo que modela o ser, limita e define a sociabilidade, transformando o homem em um agente capaz de criar conscientemente.


Segundo o que ouvi dela, a memória é a pura e fenomenal capacidade de registrar, armazenar e chamar para si as informações colhidas e processadas pelo organismo. Entendi que essa capacidade humana é uma das funções mentais mais estudadas pela psicologia cognitiva, juntamente com a linguagem e a inteligência. Uma proeza que enche os olhos dessa extraordinária ciência que nasceu na Grécia Antiga e que tem por objetivo semântico estudar a própria alma humana.

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Gosto de conversar com ela, tirando as palavras difíceis que ela usa, bem como o seu aparente desprezo pela minha ignorância na área, sempre peço auxílio para entender como se faz uma torta de carambola ou um ensopado de morcego frito.


Mas ela sabe que brinco! Sabe também que dou um valor enorme à ciência que ela trafega. Digo isso porque quando tive uma porcaria chamada síndrome do pânico, seguida de uma depressão profunda, consegui vencer isso com a grande ajuda de um psicólogo. Jamais desejaria isso a ninguém. Nem ao meu pior inimigo que ainda existirá.


Voltando à questão da memória, na vida, posso confirmar que algumas coisas nós nunca esquecemos, nunca se dispuseram a sair de minha mente. Não porque se repetiram, ou se desgastaram. Não esqueço por ter sido a primeira vez, por ter acontecido a primeira vez. É um assunto bem delicado, particular e íntimo. Peço licença para poder contá-lo.


– Tá nervoso?


– Demais! Nunca fiz isso! É a primeira vez! Tô com medo!


– Relaxa meu amor. Na vida tudo tem um começo. Relaxa, vai dar certo. Todo mundo passa por isso.


– Sou inexperiente! Não sei nem como agir aqui. Olha, “to” me tremendo. Não vou mentir pra você, Lúcia.


– Ai Francisco. Para! Você tá tenso! Assim vou me sentir desconfortável. Eu também preciso ficar calma.


– Mais está muito apertado! Não imaginava que fosse assim! Meus amigos me diziam diferente. Os mais experientes, os mais vividos me falaram que era super simples. Tudo mentira né?


– Vai, tenta mais uma vez! Vai, devagar para não estragar nada. Vai devagar. Isso. Tá conseguindo! Nossa, muito bem, vai, vai.

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– E agora? O que eu faço?


– Droga! Não para não, continua por favor. Continua! Você tá indo muito bem.  Não, assim não! Aí não! Tá errado.


– Viu só. Não vou conseguir. Vamos deixar para outro dia. É muito difícil. Por que é que tem que ser dessa maneira? Não tinha um modo mais fácil?


– Vem cá! Calma. Eu confio em você! Respira fundo. Vamos tentar mais uma vez. Francisco você precisa romper com esse trauma. O problema é comigo? Não gostou de mim? É isso? Com uma outra pessoa você conseguiria?


– Não meu amor, você foi maravilhosa! Está sendo super atenciosa. Sou eu mesmo que não tenho capacidade de realizar o que queremos. Melhor parar!


– Se você acha melhor, não tem problema. É uma pena, estava super ansiosa por isso. Foram várias semanas pensando em nós. Eu tenho esse problema, eu me entrego mesmo. Puxa vida! Eu queria tanto! Você não sabe o quanto eu queria.


– “Me desculpa tá!


– Não, não, eu entendo.


Próximo! Quem é agora? É você Sebastião?


– Sim, sou eu instrutora.


Ok! Francisco, você terá de remarcar o teste de baliza. Será daqui a quinze dias. Tem de pagar uma taxa no Detran. Não é caro não. Aconselho-te a fazer mais umas aulas de auto-escola, pra aprimorar seu estacionamento. Aquele espaço ali não é tão pequeno quanto você imaginou não.


FRANCISCO RODRIGUES PEDROSA   f-r-p@bol.com.br


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