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Transmissão do Carnaval é antijornalística

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Cada fim de desfile, a Globo levava para o seu estúdio na Sapucaí as principais atrações da escola e passava a entrevistá-las. E deixava de transmitir o principal: a entrada da outra escola no Sambódromo.


O ingresso de uma escola na avenida é o acontecimento mais emblemático do Carnaval. É o momento de maior tensão e emoção dos foliões comuns, que ansiaram o ano inteiro em estar ali.

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Não há alguém que tenha desfilado em uma escola de samba, que não diga ser um dos ápices daquele evento participar dos minutos antecedentes ou iniciais do desfile.


O grito de exaltação da escola antes da entrada na avenida é uma mensagem, saudação e agradecimento àqueles que deram seu esforço para levar a agremiação ao seu instante máximo. Choro e alegria se misturam em meio às lembranças das dificuldades vividas em mais um ano de trabalho – esqueçam os destaques globais.


Porém, esse estágio foi ignorado solenemente pela TV Globo nas transmissões, que centrou em seu lugar entrevistas de dentro de seu estúdio, com carnavalescos, porta-bandeiras, mestres-salas, mestres de bateria da escola que acabara de desfilar – eles têm seu valor, merecem ser lembrados, mas a diminuta cobertura da concentração tira a possibilidade de mostrar ao público um pouco mais de realismo do carnaval, em meio ao mundo da fantasia ali apresentado.


É a priorização do espetáculo e o fim da centelha jornalística que esse tipo de transmissão poderia ter. Quem não se lembra de nervosos e emocionados compositores, passistas, ritmistas, empurradores de carros alegóricos, antes de a escola tomar o rumo da avenida? Esse é o fato, o clima, a notícia maior.


Mas o máximo que fizeram foi uma transmissão atrasada de quando os puxadores da escola começavam a cantar o samba-enredo. E antes?


Tem o aquecimento, as palavras de ordem, a emoção da rainha da bateria (sim, aquele que nasceu no bairro da sede da escola), os foliões que compraram um dos ingressos mais baratos do Sambódromo, no setor da concentração – na verdade, eles são, em boa parte, membros de comunidades que não puderam pisar na avenida.


Não vale uma entrevista ali outra acolá na concentração para justificar a presença. Aquele momento poderia ter sido muito mais explorado.


Sem isso, o telespectador tem a impressão de estar assistindo novela. Mas o carnaval é real. Queiram ou não, transmiti-lo é fazer jornalismo – e não forjá-lo.


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