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Acre não titula doutores desde 2014, apontam dados do Governo Federal

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Cinco planos de pós-graduação já se passaram no Brasil e o fenômeno continua o mesmo: enquanto a região Sudeste forma quase todos os pós-graduandos do país, o Norte, especialmente, patina.


A situação de desigualdade é gritante. De acordo com dados da Capes, órgão do governo federal responsável pela pós-graduação acadêmica no país, os estados Acre e Roraima não tiveram nenhum doutor formado em 2014 –último ano com dados disponíveis pelo governo. Nenhum único doutor formado.

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Para se ter uma ideia do que isso significa, São Paulo, sozinho, titulou 6.130 doutores no mesmo ano. O fato foi noticiado pelo Jornal Estado de São Paulo, há alguns dias.


Juntos, Acre e Roraima tinham 24 alunos de doutorado matriculados em 2014 –praticamente uma única turma de doutorandos. Todos, atenção, na área agrícola. Isso significa que as instituições estaduais e federais desses estados, em plena floresta amazônica, não têm doutores debruçados em assuntos como biodiversidade, saúde pública ou questões indígenas.


A formação de doutores é importante para o desenvolvimento da pesquisa científica no país. Os alunos de doutorado estão no nível máximo de aprendizado acadêmico. Quando formados, podem atuar em diversas áreas da pesquisa científica e tecnológica do país.


O problema é que sem doutores formados localmente, muitos temas de pesquisa com interesse regional podem estar subestimados na ciência nacional. É o caso de questões sociais locais, de doenças de incidência tropical ou de novos fármacos na região amazônica.


JÁ FOI PIOR


Ok, vamos lá: dez anos antes, em 2004, a situação de desigualdade na titulação de doutores no país era ainda pior: sete dos 26 estados brasileiros não tinham novos doutores formados em instituições locais. Além dos dois estados nortistas que seguem sem doutores formados, Acre e Roraima, os estados de Rondônia, Mato Grosso, Mato Grosso do Sul, Amapá e Piauí também não tinham titulações de doutorado nessa época.


Hoje em dia, ainda de acordo com a Capes, a maioria desses estados titulou até 35 doutores cada um em 2014. É a menor taxa nacional de formação de pesquisadores nesse nível de titulação.


Uma das principais metas do sexto PNPG (Plano Nacional de Pós-Graduação), que está em andamento, é aumentar a quantidade de mestres e de doutores formados pelo país. A proposta é passar de 15.544 novos doutores/ano em 2013 para 19.000 novos doutores/ano em 2020 (veja os números e as metas ao final deste post).


Não vai adiantar nada, no entanto, se a maioria dos 19.000 doutores supostamente formados por ano em 2020 continuar concentrada no Sudeste. Para ter doutores, é preciso ter programas de doutorado com bons docentes, pesquisa consolidada e, claro, recursos.


Capes e o CNPq, outra agência nacional de fomento à ciência, têm se esforçado para aumentar a igualdade “a fórceps”, por exemplo, estabelecendo cotas de dinheiro para pesquisa científica para Norte, Nordeste e Centro-Oeste. Mas isso não tem sido suficiente.

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As políticas públicas de educação e de ciência do país deveriam caminhar juntas no sentido de promover polos de excelência regionais espalhados pelo país. Isso não é difícil e já acontece pontualmente, por exemplo em Minas Gerais –Viçosa é referência internacional na área agrícola.


Não deveríamos ter centros de excelência em fármacos, biotecnologia e desenvolvimento sustentável na Amazônia? Ou de arqueologia e de história no Piauí, onde fica a maior concentração de pintura rupestre do mundo, na Serra da Capivara? Não deveríamos estar nos debruçando, no Nordeste, nos estudos de inclusão e de educação para driblar o analfabetismo adulto? Sim, deveríamos.


Enquanto a produção intelectual do país estiver concentrada numa pequena fatia geográfica –que segue ilhada recebendo dinheiro, formando gente e desenvolvendo programas de pesquisa– o país inteiro perde.


Número de 2013 e metas para 2020 do Plano Nacional de Pós-Graduação:


2013
45.356 novos mestres/ano
15.544 novos doutores/ano
87.324 bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado
2,74 doutores por mil habitantes


2020
57.000 novos mestres/ano
19.000 novos doutores/ano
188.286 bolsas de mestrado, doutorado e pós-doutorado
4,54 doutores por mil habitantes


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