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Refletindo sobre a Encíclica Laudato Sì

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Jorge Viana*


Quanto tempo mais nós vamos ter que esperar para entender que a vida no planeta Terra está em risco? Os cientistas que compõem o Painel Intergovernamental de Mudanças Climáticas (IPCC) já adotaram a palavra risco para ver se comunicam melhor quando tratam das consequências das mudanças climáticas para a vida no planeta. O presidente norte-americano Barack Obama tem afirmado que a nossa geração é a primeira a sentir os efeitos das mudanças do clima e a última que pode fazer alguma coisa.

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É claro que o modelo de produção e consumo e a relação homem-natureza estabelecidos no nosso planeta hoje são insustentáveis. Temos escassez de água e de alimentos para bilhões de pessoas. Se quiséssemos suprir a todos que têm necessidades com o padrão que uma minoria alcançou, o mundo não resistiria.


Não sei se estamos vivendo uma crise civilizatória. A ação terrorista; o drama dos refugiados; os conflitos usando a religião como pano de fundo; as desigualdades entre continentes, países e pessoas; a intolerância e o ódio nos apontam que temos grandes desafios. Num mundo de poucas lideranças, o Papa Francisco, com seu ativismo e seus corajosos posicionamentos, tem nos trazido esperança de que é possível encontrar um caminho para a vida sustentável no planeta.


A sua última grande contribuição foi a Encíclica Laudato Sì. É um documento extraordinário com muito realismo sobre os problemas que vivemos e nos traz com otimismo o que podemos e o que devemos fazer.


Tão logo foi publicada a Encíclica papal, nós realizamos um encontro no Senado Federal brasileiro para debater este importante documento. Tivemos a participação do ministro do Superior Tribunal de Justiça do país, Herman Benjamin – um jurista comprometido e um dos maiores especialistas em legislação ambiental no Brasil; da Confederação Nacional dos Bispos do Brasil (CNBB) e do jornalista Washington Novaes, que é uma referência na imprensa brasileira sobre este tema.


Temos a convicção de que a Encíclica é um chamamento fundamental para que atitudes concretas e pragmáticas sejam adotadas não só pelos mais de 1 bilhão de católicos do mundo, mas por todos os habitantes do planeta.


Em meu país, temos entendido que essa publicação, mais que um documento construído a partir de sólidas bases científicas, é uma importante referência moral e espiritual às políticas de combate à mudança climática e de estímulo a um desenvolvimento mais sustentável e mais inclusivo.


Na expectativa de termos um novo acordo ambiental que possa suceder e ir além do Protocolo de Kyoto, a Ladauto Sì é providencial. Propõe uma visão sistêmica e traz considerações acerca da chamada “ecologia integral” que, assim como defendida pelo Papa, começa com o reconhecimento de que a humanidade, hoje, enfrenta uma crise existencial em múltiplas frentes: a disparidade econômica, a competição por recursos, a degradação do mundo natural, nações falidas.


No documento, Papa Francisco reforça a posição do relatório do IPCC em uma das suas mais importantes conclusões: a de que a degradação ambiental, a degradação humana, os riscos da mudança do clima e o desequilíbrio do planeta são decorrência da ação do homem.


Mesmo assim, ainda prevalece no mundo uma perigosa visão de que nós temos outras questões mais urgentes a tratar, como a econômica, por exemplo. Não podemos aceitar que alguns tentem adiar uma tomada de posição em relação às emissões com a consequente mudança do clima no planeta. Essa tem que ser a prioridade!


O Brasil é o G-1 da Biodiversidade. Temos 20% das espécies animais e vegetais, 12% da água doce e uma das mais extensas áreas para agricultura do mundo. Nos últimos anos, experimentamos extraordinárias conquistas no nosso país. Tivemos crescimento econômico, saímos de um PIB de US$ 500 bilhões para US$ 2,3 trilhões; reduzimos em 80% o desmatamento na Amazônia brasileira e conseguimos fazer a inclusão social de mais de 40 milhões de pessoas. Isso tudo como resultado de boas políticas públicas.

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Também somos pioneiros na busca por substituição de combustíveis fósseis e temos uma matriz energética invejável. Atualmente, 76% da nossa matriz é de energia renovável e agora, quando o mundo tenta estabelecer limites de emissões para impedir o aumento da temperatura acima de dois graus Celsius, o Brasil apresenta uma ousada proposta de redução de emissões.


Entre os principais objetivos da Contribuição Nacionalmente Determinada do Brasil para a COP-21 destacam-se o compromisso de redução das emissões de gases de efeito estufa em 37%, até 2025, em comparação a 2005. Outra meta é a diminuição em 43% das emissões de carbono, até 2030. O Brasil também atuará para o fim do desmatamento ilegal, o reflorestamento de 12 milhões de hectares, a recuperação de 15 milhões de hectares de pastagens degradadas e a integração de cinco milhões de hectares de lavoura, pecuária e florestas. E diferente de outros países, a meta brasileira é expressa em números absolutos. O Brasil está dando sua contribuição, mas como a Encíclica do Papa Francisco propõe, para superarmos os desafios deste século, a lógica deve ser a de “um só mundo, um só projeto comum”. Diversas linhas de ação são apontadas no documento, a exemplo da necessidade de um novo arranjo global de governança ambiental.


O Papa conclama a todos os indivíduos para que tenham uma nova postura, uma nova compreensão, uma nova relação com o meio ambiente e com o próximo, abandonando essa cultura dominante da depredação, do descartável e do consumismo.


No plano internacional, no momento em que caminhamos para a COP 21, tenho a convicção de que a Encíclica chegou em tempo de contribuir para o avanço dos debates ambientais, tanto no Brasil como no mundo.


Inspirado no exemplo do Papa Francisco, tenho confiança que os líderes mundiais apresentarão também seus compromissos verdes. Como disse Ban Ki-moon: nós não temos “Plano B” porque não temos um “Planeta B”. O momento de decisão é agora!


 


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