Um golpe de sorte. Foi assim que a reportagem de ac24horas descobriu uma ação da Polícia Civil na tarde de desta sexta feira, 27. O que começou como um relato fantasioso de um dependente químico, daqueles que perambulam pela cracolândia, no centro da capital do Acre, fez com que uma de nossas equipes montasse acampamento próximos a antiga dependência da Polícia Federal, na rua Floriano Peixoto. E tinha tudo a ver. A batida policial pode revelar uma grande rede de embalagem e distribuição de entorpecentes em Rio Branco. Hoje, o local não é mais utilizado pela PF, o prédio foi devolvido ao Estado e vem sendo utilizado pela Secretaria de Segurança Pública – SESP, como estacionamento, e ainda conta com a guarda do Exército Brasileiro que patrulha todo o quarteirão.

Ao ver a movimentação no prédio desativado, os agentes agiram por oficio e ao entrarem na antiga superintendência se depararam com um grupo de usuários, que assustados contaram que estavam só consumindo “drogas achadas no local”.

Ao que parece, o prédio mesmo sendo utilizado como estacionamento para o alto escalão da pasta da Secretaria de Segurança Pública do Estado do Acre pode ser um dos principais pontos de distribuição da capital. Com o intuito de proteger o local que constantemente era vandalizado e frequentado por dependentes químicos, o Exército Brasileiro, que tem uma vila com casas de militares que fica próximo ao local, passou o vigiar o local.

No relato do dependente químico, ele fala em rede de túneis que interligava a antiga sede da Polícia Federal ao colégio São José; à Catedral e ao antigo prédio do Partido dos Trabalhadores. Fatos esses que não foram confirmados pelos agentes da polícia.

Ele conta que ficou três dias perdido no que chamou de “labirintos”. “Só consegui escapar usando o meu isqueiro. É muito escuro lá embaixo. Pude ver por um alçapão o Hotel do Papai [em frente ao local] e o Partido dos Trabalhadores”, afirmou o dependente.

“Quando tentava sair, achei uma sala secreta embaixo da antiga quadra de futebol. Lá vi uma parede com um reboco novo. Fui cutucando até que os tijolos caíram e pude ver uma escada. Desci e dentre tantas salas, achei uma com uma parede falsa. Quebrei e lá tinha um tesouro. Tinha muita droga embalada com fita gomada”, contou ele.

Material seria de traficantes

Uma suspeita levantada pelos agentes é que o material, achado curiosamente no mesmo local em que a Polícia Federal armazenava as drogas apreendidas em missões, seria de traficantes da região e que estariam utilizando o local como centro de distribuição e embalagem, já que o espaço não levantaria nenhuma suspeita da polícia.

No local foram encontrados, além indícios de depósito de drogas, sofisticado material de embalagem. “Coisa de profissional mesmo”, informou um dos envolvidos na ação policial.

As poucas informações dão conta de que os consumidores que estavam no local não portavam nenhuma quantidade no momento da batida policial, mas que “sabem muito sobre os caminhos e esconderijos que foram construídos na área subterrânea da ex-carceragem da Policia Federal no Acre”.

Todos estão correndo risco de vida (usuários) pelo excesso de consumo de drogas encontrado por eles no local ou pela possível descoberta de um esconderijo de drogas como foi constatado. Os próprios traficantes, que podem se sentir ameaçados, podem reprimir os frequentadores do local, relatou um dos participantes da batida policial.

A reportagem conseguiu apurar que ainda hoje o setor de inteligência da Policia Federal tentará um encontro com o governador e com o comando do Exército para debater a questão.

Para quem conhece bem o mundo do crime, sabe que a área próxima ao bairro Preventório é famosa por ser muito usada pelo tráfico. No local, segundo os consumidores de droga, existem tuneis subterrâneos que liga várias ruas na área central da cidade.

“O caso é muito sério e perigoso”, disse um agente que pediu para não ser identificado.

Secretaria de Segurança nega que antiga Sede da PF seja usada por traficantes

Ao tomar conhecimento da notícia publicada em ac24horas, a Secretaria de Segurança Pública (SESP), explicou que a antiga Sede da Polícia Federal foi desocupada no final do ano de 2013 e repassada ao Estado , que de imediato determinou a elaboração de projeto de reforma, com a finalidade de instalar no local serviços de atendimento ao público.

“Porém, em razão da escassez de recursos, o referido projeto teve sua execução adiada. A partir de então, foi intensificado o policiamento ostensivo no local, juntamente com um conjunto de ações de monitoramento e presença de servidores da área de segurança pública, visando inibir a atuação de dependentes químicos que, apesar dos esforços realizados pela rede de segurança e assistência social, ainda utilizam áreas desabitadas. Os quais, certamente, serão atendidos por programas e políticas públicas voltadas ao atendimento de pessoas em situação de vulnerabilidade”, informa a nota confeccionada pela Sesp.

Sobre a informação do local ser utilizado por traficante como ponto de deposito e distribuição de drogas, a SESP esclarece que isso não procede, “pois o local é constantemente acompanhado por integrantes do sistema de Segurança Pública. A estória relatada é fantasiosa e típica de um ser em estado de delírio”., destacando que irá melhorar a segurança no prédio com o desencadeamento de novas ações no local.

NOTA DA REDAÇÃO – Os administradores da Sesp estão tentando amenizar os fatos. Tudo que aqui foi escrito é verdade e os nomes dos usuários de drogas foram preservados por questão de segurança. A redação não considera uma inverdade a reportagem e pede que a Secretaria de Segurança Pública apresente os nomes das pessoas que fizeram a varredura no local e permita suas declarações, assim como a declaração da chefe de inteligência da Polícia Federal. Não é uma questão política é uma questão de polícia e de segurança da população, coisa que este governo teima em desconhecer.