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Coveiro que enterrou mais de 25 mil mortos, diz que já viu “coisas estranhas no cemitério”

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Você já pensou em viver a maior parte de sua vida ao lado dos mortos? Parece assustador, não é? Para quem está acostumado é normal. É o caso do coveiro Davi Rodrigues Oliveira, 51 anos. Há 31 ele é a principal companhia dos mais de 35 mil mortos do cemitério Jardim da Saudade, o maior de Rio Branco. Desses mais de 35 mil, o coveiro já enterrou mais de 25 mil.


 

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No Acre, coveiro que enterrou mais de 25 mil mortos, diz que já viu “coisas estranhas no cemitério”

Foi ele o coveiro a cavar a cova da primeira pessoa sepultada no cemitério, uma senhora chamada Nazaré, que morava no bairro Estação Experimental, diz. “Foi no dia 08 de julho de 85. Essa foi a primeira cova”, conta.


Os mais de 30 anos do senhor Davi dentro do cemitério deram a ele experiência com os mortos e com os vivos. Basta dez minutos de diálogo com o coveiro, um homem que nunca sentou num banco de escola, para ouvir frases reais, sem efeitos, de uma profundidade que não se adquire numa academia, mas no dia a dia, num ambiente que torna qualquer pessoa reflexiva.


“Eu só enterro aqui gente pobre. Porque ainda que ele seja rico quando ele chegar aqui já chega pobre. Chegou aqui, vem sem dinheiro. Deixa tudo no banco para confusão.”


O coveiro garante que os mortos não fazem mal para ninguém. O maior problema para quem trabalha no cemitério são os vivos. Marginais costumam se esconder no local para usar drogas, roubar e assaltar quem visita o cemitério.


“Aqui já vi muita cena de violência. De assaltos, mulheres sendo agredidas, assaltadas. Dentro desse cemitério gente não pode entrar de bolsa, principalmente nessa época. Mas só tem uma coisa: eu nunca vi um morto fazer mal pra ninguém, ele já chega aqui calado, não diz nada. Mas os vivos roubam os vasos, trocam e vendem.”


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Ele garante que já ouviu e viu coisas estranhas no lugar que trabalha. Conta que certa vez, junto com outro companheiro seu de trabalho, acompanhava uma visitante a uma sepultura, quando viu uma mulher com os cabelos embaraçados sentada em cima de um túmulo. Porém, acostumado, não se assustou e continuou caminhando normalmente. Seu auxiliar, o também coveiro Wuilder Rodrigues de Souza, que estava com ele nesse dia, também viu o fantasma.


“Já ouvi gente batendo porrada dentro lá da capela, já vi uma mulher sentada em cima da sepultura, vi umas coisas. Não tenho medo da morte. Eu já pedi a morte por causa de uma doença tão terrível que eu tive, uma apendicite que estourou, que eu pedi a morte.”


Como em qualquer profissão, a pessoa se acostuma com o ofício diário. O coveiro também fica acostumado a enterrar pessoas todos os dias. “A gente se acostuma a sepultar, a enterrar. Porque é uma profissão. Então isso pra mim é normal. Aqui tanto é normal fazer sepultamento como já fiz muita exumação. Trabalhando com médicos cortando cadáver, lavando pedaço. Isso é normal. Faço o trabalho e quando termina lavo as mãos e vou comer. Normal” diz.

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A única vez que Davi Rodrigues chorou dentro do cemitério foi no enterro de seu amigo, o coveiro Luiz Izidoro, que morreu no local de trabalho vítima de um infarto. Foi Davi o encarregado de cavar a cova do próprio amigo. “Foi o dia mais triste da minha vida aqui dentro”, se emociona. “Só teve uma vez que chorei mesmo junto com família foi no enterro de um amigo que trabalhava junto com a gente aqui, seu Luiz, que morreu aqui dentro de infarto. Esse era meu amigo, mais que um amigo. Nesse dia foi muito triste. Foi o dia mais triste da minha vida. O dia que eu cavei a cova para o meu amigo e chorei com a família.”


A vida diária no cemitério transformou o experiente coveiro num homem cético com a vida após a morte. Para ele, não há existência além da sepultura.


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“Não acredito que alguém morre e vá para algum lugar. Morreu, acabou aqui. Eu acredito que existe um Todo-Poderoso, um céu, mas esse negócio de gente subir e ir pra lá, não. Não tem isso. E o inferno é aqui mesmo na terra. Eu aprendi muito nesses meus 31 anos vivendo aqui dentro”, acrescenta.


O coveiro, que afirma não ter medo da morte por estar acostumada com ela, só teme que um dia tenha que sepultar um filho: “Deus me livre, jamais eu quero sepultar um filho meu”, conclui.


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