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Alta do dólar no Brasil aumenta o custo de vida e estudos na Bolívia

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A cotação do Dólar Americano atingiu, nas últimas duas semanas, níveis jamais vistos. Num período de três dias, a venda da moeda surpreendeu a todos e acabou sendo fechada acima dos R$ 4,00 para cada 1 US$. O Brasil, na análise de especialistas, passa por uma das maiores crises econômicas já enfrentadas em toda a história recente do país, mesmo assim, contrariando o que muitos dizem, não seria essa a maior.


A alta do dólar influencia diretamente na vida do brasileiro. E os acreanos conhecem bem essa história. Esse fator é predominante para quem vive na região de fronteira do Acre. Viajar para fazer compras também ficou mais caro, e, muitas vezes, acaba não valendo a pena.

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Parece ter passado o tempo em que aquela ida à cidade de Cobija, na Bolívia, só para comprar roupas ou objetos diversos era um passeio vantajoso. Na cidade, o comércio tem ficado vazio nas últimas semanas e a reclamação está por todos os lados, seja entre cliente, ou mesmo entre os empresários.


A situação se complica muito mais quando o foco são os estudantes brasileiros que buscaram as faculdades bolivianas para estudar. Seja na fronteira, ou mesmo nas grandes cidades, como Santa Cruz de La Sierra, ou Cochabamba [bastante procuradas], o custo de vida subiu exorbitantemente para os brasileiros. A hora agora é de “apertar o cinco e segurar a onda”.


O estudante de medicina, Jhonata Silva de Souza, de 20 anos, é um dos que tem acompanhado os episódios de dificuldade de muitos brasileiros no território boliviano. Segundo ele, muitos estão “deixando de almoçar, para pagar a janta”, brinca ao tentar demonstrar o quão forte está sendo o impacto da alta do dólar.


“Realmente, a situação não tem sido fácil para muitos. Tem gente aqui passando muito aperto. Quando iniciamos o curso, em 2012, a realidade era outra, totalmente diferente. Agora, quem gastava uns 250 por semana, tá gastando mais que o dobro disso. Realmente, não está fácil. Eu, particularmente, gasto um pouco mais porque tenho veículo, mas a realidade não é nada confortável, qualquer uma aqui sabe. O negócio é segurar a onda mesmo e focar no essencial”, comenta o acadêmico.


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A história relatada pelo estudante é similar à contada por Núcia Medeiros, que também estuda medicina e, prestes a finalizar o curso, se vê preocupada com os próximos meses de faculdade. “Na verdade, o que acontece é que do início do curso para cá, tudo subiu. Meus pais me ajudam, então recebo cerca de quatrocentos dólares todo mês, isso dava para viver bem aqui, mas agora já não dá mais. Sempre preciso optar: ou pago a faculdade, ou pago a condução para o local do internato”, conta.


Núcia, que já cursa o último semestre de Medicina, disse estar preocupada, pois a partir do próximo mês terá de ir para uma das províncias o país boliviano. Com isso, ela terá que pagar dois alugueis, sendo um onde reside atualmente, e outro, na cidade em que terá que fazer a residência, pois o tempo médio de viagem entre as cidades é de seis horas.


“Estou meio endividada. Não posso desistir agora, no fim do curso. Vou ter que pagar dois alugueis e isso tem me deixado apreensiva. Já pedi ajuda a muitas pessoas, mas ela nunca vem; no máximo recebo promessas, mas depois todo mundo some e nem dão notícias, e eu nem os encontro mais. O jeito é levantar a cabeça, e segurar a situação até onde dá mesmo. Eu preciso!”, lembra a brasileira.


Alta que traz baixa


O comerciante Andrias Corrêa Porto, que tem uma loja no comércio de Cobija, diz que o dólar está alto, mas os preços das mercadorias não subiram muito. Para ele, é o Brasil quem está com a moeda desvalorizada, o que dificulta as compras. Sobre os custos de produtos, explica, subiram muito pouco, o que não justifica a baixa procura.


“Na verdade, o que está acontecendo é que o real não está valendo muito. Com o dólar alto, e aqui nos baseamos pelo dólar sempre, acabamos elevando um pouco os nossos preços, mas os aumentos não foram tão altos e não conseguimos entender os motivos de os brasileiros não estarem comprando como antes”, questiona o boliviano.


Segundo Porto, ele percebeu que as vendas diminuíram substancialmente desde o início de 2015, entre janeiro e maio, principalmente, tendo nova elevação desde agosto. O movimento começou a parar quando o dólar começou a subir gradativamente e, segundo ele, as compras no comércio já não estão mais compensando para alguns compradores.


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O comerciante afirma que a situação em outras áreas da Bolívia são muito piores. “Eu viajo pelo meu país e lhe garanto que tem outros Departamentos que estão numa situação ainda pior. Esses dias o noticiário mostrou que até no Paraguai as vendas caíram drasticamente”, completa o empresário.


Para Antonio Dias, morador do município acreano de Senador Guiomard, nada melhor que ir às compras na Bolívia, contudo, nos últimos tempo, diz, é melhor comprar no Brasil, que viajar até a fronteira e tentar conseguir produtos com preços mais vantajosos.


“Para comprar nesses preços aqui, é melhor passar o cartão no Brasil e parcelar. Aqui tem que ser à vista, e nem sempre é a melhor opção. Tem que pesquisar bem entes de comprar, ainda mais agora que tá chegando o dia da criança. Com o dólar nesse situação aqui no Brasil, tudo subiu, e não tem condições de comprar muito na Bolívia”, analisa.


Dinâmica informal

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O presidente da Associação Comercial e Empresarial de Brasileia e Epitaciolândia, José Soares Pacheco, chegou a falar à imprensa que a baixa nas vendas de Cobija, por exemplo, “ao menos empata” as vendas bolivianas às dos brasileiros. Para ele, o comércio da fronteira “não está bom”, mas isso seria, ainda, consequência da cheia que assolou a cidade no início do ano.


“Não é que o comércio aqui esteja bom. Não é isso. Em Epitaciolândia e Brasileia, passa-se por uma crise medonha, ainda em consequência da cheia e pela situação econômica do país. A coisa não está boa. Quando o dólar está alto, o que acontece? Vêm muitos bolivianos lá de Cobija comprar aqui, sobretudo gêneros de primeira necessidade, com destaque para os alimentos”, analisa.


Como todo empresário, José Pacheco fez a conta na ponta do lápis. E arrisca um palpite sobre a realidade do comércio dos municípios fronteiriços do Acre. Para ele, “é provável que essa alta do dólar acarrete um aumento nas vendas em 20%”, calcula.


A análise feita pelo representante dos empresários ainda é prematura, mas pode dar certa tranquilidade aos brasileiros que tem realmente recebido muitos bolivianos no comércio de Brasileia ou de Epitaciolândia. Ao todo, diz Pacheco, a Associação dos municípios tem 150 associados, e a realidade econômica do país pode ser classificada como “morna”, o que evidencia o dinamismo do comércio de fronteira.


O olhar realista de Pacheco se fundamenta no cenário de baixo consumo. É o drama da temperatura da economia brasileira, tendendo ao morno. Mas, a alta do dólar é responsável por um fenômeno que mostra a dinâmica do comércio de fronteira.


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Turismo prejudicado


O tempo do dólar abaixo de R$ 2 passou e não volta mais, segundo o economista-chefe da Confederação Nacional das Indústrias, Flávio Castelo Branco. O mundo mudou, o ritmo de crescimento econômico diminuiu e há menos dólar disponível no mercado. Por esse motivo, a moeda vale mais.


A política e a economia interferem muito. Quando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva assumiu em 2003, o dólar estava mais alto que hoje em dia. Depois, o valor da moeda caiu. Foram cinco anos seguidos de dólar baixo – entre 2003 e 2008, e depois mais três anos, entre 2009 e 2012.


No meio do caminho, houve a crise financeira de 2008, que começou nos Estados Unidos e atingiu principalmente a Europa, mas o mundo todo sentiu o impacto. Foi quando o dólar no Brasil subiu até chegar a R$ 2,50. Levou um ano para a crise financeira arrefecer e a cotação do dólar diminuir novamente. Há dois anos o dólar subiu de novo e passou de R$ 3 nos últimos meses.


Mesmo quem não vai viajar para o exterior paga mais caro por vários produtos quando o dólar sobe. É o caso de produtos que têm preço no mercado internacional, como o trigo, a soja, o petróleo e os eletrônicos importados ou com peças trazidas de países asiáticos, por exemplo.


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Boliviano se aproxima do Real


O grande causador dessa baixa nas vendas em Cobija é a aproximação do Peso Boliviano frente ao Real. Na quinta-feira, 24 de setembro, para se ter uma noção, o câmbio chegou a menos de dois por um, cerca de B$ 1,75, variando até B$ 1,90, para cada R$ 1,00. Esse nível não era esperado nem pelos empresários, nem por consumidores.


A desvalorização do Real perante o Boliviano e o aumento do Dólar, veiculou o site O Alto Acre, espantou os turistas que, há menos de um ano, lotavam lojas com a proximidades de datas festivas, por exemplo. Nesta época, a moeda boliviana chegou a valer quase quatro vezes menos, ou seja, o Real valia mais que o Boliviano, quatro vezes, situação que hoje ocorre com o Dólar americano.


Com a desvalorização do real, e o sumiço dos turistas, os proprietários estão fazendo promoções que chegam a 40%, além de segurar o câmbio do dólar em $3,94. Dependendo da loja, ainda se pode encontrar o Dólar a $3,75. É uma das estratégias que os bolivianos têm usado para alavancar as vendas.


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