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Primeiro astronauta brasileiro deixa mensagem aos acreanos

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20150829072041No Acre pela terceira vez, duas delas em missões de interceptações aéreas no combate ao narcotráfico na fronteira, Marcos Cesar Pontes – o primeiro brasileiro a ir ao espaço -, conta que à época (2008) levou uma boa impressão do Estado, especialmente da cidade de Cruzeiro do Sul. No dia, ele lembra que chegou a conhecer a base do Batalhão de Engenharia e Selva no município, que realizava uma solenidade de formatura de soldados e elogiou a participação e interação do Exército com a comunidade.


Seis anos depois, ele regressa ao Acre, dessa vez à capital Rio Branco, onde ministrou no final da tarde desta sexta-feira, 28, uma palestra motivacional aos empresários, que participavam do XII Encontro de Revendedores de Combustíveis da Região Norte realizado no auditório da Fecomércio. Marcos Cesar Pontes tem muito a falar quando o assunto é superação. Ele lembra que ainda menino passava horas olhando para o céu e sonhava ser piloto de aviões. Mas pra esse sonho se tornar realidade, ele precisou encarar o desdém daqueles que o cercavam e os obstáculos sociais, já que era um menino da periferia de Barueri (SP) e filho de trabalhadores de classe baixa.

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Em entrevista ao ac24horas, o astronauta fala de política, da falta de investimentos por parte do governo brasileiro em ciência, tecnologia e educação e dispara críticas contra a alta carga tributária no país e a burocracia que impedem os investimentos internacionais e, por fim, deixa uma mensagem otimista aos jovens acreanos. O menino sonhador chegou a uma das mais altas batentes da Força Aérea Brasileira, tenente-coronel, e tornou-se ainda o primeiro brasileiro, sul-americano e lusófono a ir ao espaço. A receita do sucesso é simples: “nunca parei de estudar”, diz Marcos.


ac24horas: Marcos Cesar Pontes como você resumiria sua trajetória pessoal e profissional?


 Marcos Cesar Pontes (MCP): Sabe, as pessoas tendem a julgar pela aparência, não acreditavam que um filho de servente, da periferia de São Paulo, fosse se tornar um piloto de avião, muito menos um astronauta. Por isso, a importância de acreditar em si mesmo. Eu comecei a trabalhar com 14 anos, paralelamente estudava e, inicialmente, fui eletricista aprendiz, depois ingressei na Academia da Força Aérea, sendo classificado como o segundo colocado no país, me formei em engenharia aeronáutica no Instituto Tecnológico de Aeronáutica (ITA), sou também piloto de caça, de segurança de voo, resolvi estudar mais: tenho ainda dois mestrados e um doutorado. Em 1998, fui selecionado para o programa espacial da NASA, após dois anos de treinamento fui declarado “astronauta da NASA”. Em 30 de março de 2006, eu e outros três astronautas, partimos da base de Baikonur, no Cazaquistão, a bordo da nave russa Soyuz TMA-8, com destino ao espaço”.


 ac24horas: Marcos Cesar a que você atribui essa carreira profissional bem sucedida e tão bonita?


MCP: Minha mãe! Porque no começo, lá em Bauru (SP), as pessoas não acreditavam, elas não te dão nenhum crédito. Daí, a importância de se acreditar em você. Eu lembro que eu tava estudando pra fazer a prova da academia e os meus amigos perguntaram: você está estudando pra que? Eu disse que era pra fazer a prova da academia! E eles disseram você é louco? você nunca vai conseguir! Isso é coisa pra filho de rico. Para com isso, senão você vai se tornar um adulto frustrado.


Num desses dias, cheguei em casa muito triste e, eu estava decidido a parar, cheguei a pensar que eles tinham razão. Mas minha mãe percebeu que algo errado havia acontecido. Ela era brava, me obrigou a falar e disse: ‘Meu filho, eles (amigos) têm a vida deles, você tem a sua. Você consegue o que você quiser da sua, desde que estude, trabalhe, persista e sempre faça mais do que esperam de você’. Eu guardei aquelas palavras e as segui à risca e devo o que sou hoje as sábias palavras de minha mãe, dona Zuleika. É isso que eu repito hoje, especialmente para os jovens, inclusive eu gravei, por meio da fundação, no canal interativo de vídeo chamado Conexão Interativa, que tem uma série de programas: mistério da ciência, da astronomia.


ac24horas:  Qual a mensagem que você deixaria aos jovens acreanos?


MCP: Sem dúvida a mesma que minha mãe disse: estude, trabalhe, persista e faça sempre mais do que esperam de você. Especialmente nos dias de hoje. Se você olhar, o Brasil acabou de entrar numa recessão econômica. Mas o problema não é a recessão e, sim, essa ‘depressão coletiva emocional’. A sensação que se dá é que as pessoas pararam de acreditar no país. As pessoas precisam acreditar que é possível, toda essa situação causa um retorno negativo e acabam entraram num ciclo descendente. Então é preciso sair disso, tem que passar a acreditar, estudar, buscar, lutar. A hora é de olhar pra cima, de olhar pra frente.


ac24horas: Qual sua impressão sobre a economia e a política do Acre?

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MCP: Eu tenho pouco fatos pra me apoiar, acho a cidade muito bonita, o estado fica numa localização geográfica excelente. Agora em comparação a outros estados, por exemplo, como Roraima a gente tem um projeto de transformá-lo em o primeiro EcoEstado. Esse projeto está estagnado por causa da política, isso porque a Assembleia Legislativa engavetou o projeto e o engraçado é que nós precisávamos somente de uma luz verde, mas eles acabaram engavetando e o recurso de 90 bilhões de Euros que seria investido, por ano, acabou sendo devolvido porque passou três anos parados, sem ser utilizado. Por isso, a ONU acabou retirando os recursos. Os estados da Região Norte têm um potencial gigantesco economicamente usando esse carimbo do desenvolvimento sustentável, mas desde que façam isso na prática…pensando desde a educação básica até a profissionalizante pra formar mão de obra local para trabalhar. Tendo também uma legislação adequada porque nenhuma empresa vem se instalar aqui se não tem mão de obra qualificada. Esses estados podiam ser os estados mais ricos do pais, mas a realidade é outra.


ac24horas: Existe a possibilidade de ser executado algum projeto tecnológico e de ciência voltado para o Acre?


MCP: Projeto não tem, mas isso não quer dizer que não possa existir, basta que haja um diálogo sobre essas possibilidades entre as entidades locais e internacionais. Com relação a parte técnica quando se fala do Sistema “S” e das Universidades tudo, meio que, funciona bem, mas quando bate na parte política tende a entrar areia na engrenagem e os projetos param. A gente precisa achar uma maneira pra resolver isso. O país tem um sério problema com relação a isso, tanto do ponto de vista interno, como externo. Pra uma empresa pensar em investir aqui, uma das primeiras perguntas que ela faz: como é a legislação de imposto¿ a legislação local para criar a empresa, como é? eu consigo com facilidade? a questão trabalhista como funciona? Então essas questão são tão enroladas no Brasil que o pessoal desisti. É mais fácil pra eles aplicarem em outros lugares, essa é a realidade.


ac24horas:  Qual a nota o senhor daria para o governo brasileiro quando o assunto é investimento em tecnologia, desenvolvimento e ciência?


MCP:_Eu daria uma nota abaixo de três (3). Olha, eu tô muito triste com isso. Triste demais com o governo de uma forma geral. Não somente pela situação que se encontra o país, mas de ver tanta coisa errada, isso é muito chato. O que eu vejo atualmente… é como se tivesse todo mundo andando meio apavorado e ninguém andando pra frente. Eu tô falando em termo de governo. Eu sou piloto! você não pode pilotar um caça, por exemplo, olhando para os lados. Você tem que olhar pra frente, pra onde quer chegar. É preciso pensar no futuro e, pensar no futuro, inclui educação, ciência e tecnologia pra formar cidadãos capacitados, que possam desenvolver ideias para o país, pra transformar essas ideais em produtos, serviços, empresas, empregos e assim por diante. Dá uma olhada nesse ciclo e veja quantos buracos existem! Nas campanhas eleitorais os discursos funcionam muito bem, mas na prática não o que vemos acontecer. Eu gostaria de ver todos os jovens do pais com formação técnica, nem que para isso fosse acrescentado um ano a mais nos seus estudos. O Brasil está indo pra trás, tá encolhendo e esquecem que a saída para o desenvolvimento e também para a preservação do meio ambiente está na tecnologia.


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Marcos Cesar Pontes, que também é Embaixador da Organização das Nações Unidas (ONU) para Desenvolvimento Industrial, atualmente dedica-se a sua Fundação Astronauta Marcos Pontes, ou “Astropontes”, criada para promover ciência e tecnologia, promover o ensino profissionalizantes e estimular a inovação, a pesquisa aeroespacial e o desenvolvimento sustentável. Paralelamente, ele realiza palestras, cursos, coaching e se dedica ao canal interativo na internet intitulado: Conexão Espacial, o canal é voltado para divulgação cientifica e tem como principal missão inspirar jovens para carreiras de ciência e tecnologia.


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