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Separadas pela hanseníase, irmãs se reencontram 50 anos depois

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Elas venceram o tempo e a distancia. As irmãs Maria das Graças Conceição e Mira Conceição se reencontraram 50 anos depois. Histórias como esta, que teve um final feliz, aconteceram com centenas de famílias de hansenianos, cujos filhos foram arrancados dos pais e disponibilizados para adoção até a década de 80.


As irmãs nasceram no hospital Colônia Souza Araújo, que, pelo estigma da doença, também ficou por muitos anos conhecido como “Leprosário”.  “Éramos eu, ela, um irmão e outra que já morreu. Fomos deixados no Educandário Santa Margarida. “Foi uma época de muito sofrimento porque erámos pequenos, embora os mais velhos estivessem sempre de olhos nos mais novos”, disse Maria da Graças, em tom bastante emocionado.

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Para piorar a vida dos quatro irmãos, ainda segundo ela, o local também abrigava menores infratores. “Apanhei muito. Bateram tanto na minha cabeça que até hoje tomo remédios controlados”, lembrou. Para Mira, o sofrimento maior era a separação dos pais; “Todo criança quer ficar perto dos pais, principalmente da mãe. Até hoje sinto uma revolta grande e choro muito porque não fui criada por ela”, desabafou a mulher.


O reencontro das irmãs aconteceu em uma reunião do Movimento das Pessoas Atingidas pela Hanseníase (Mohan). Juscelino da Conceição, que é filho de Mira, percebeu as aparências entre as irmãs. “Quando eu voltava de um banheiro, vi a tia e pensei que fosse a minha mãe. Elas se reconheceram, abraçaram-se e choraram muito”, disse o rapaz, que, no dia seguinte, as levou para morar com ele. “Foi o dia mais feliz de nossas vidas”.


União vai pagar indenização


Impostas ao isolamento entre as décadas de 30 e 80 em hospitais-colônia espalhados pelo Brasil, em virtude do medo do contágio da doença, as pessoas com hanseníase eram separadas dos filhos nascidos naqueles locais e levados para orfanatos no intuito de não se contaminarem.


Uma lei federal de 1949 determinou que todo recém-nascido, filho de doente de hanseníase (lepra), seria compulsoriamente e imediatamente afastado da convivência dos pais. Muitos dos pacientes que entravam nos hospitais-colônia nunca mais viram seus filhos. Mais de duas décadas depois do fechamento desses estabelecimentos, surge a possibilidade de reencontros familiares.


“Os filhos também foram vítimas porque foram retirados dos pais violentamente, colocados em orfanatos anexos às colônias. E muitos deles eram dados como mortos para as famílias e adotados sem que a família soubesse. Alguns se perderam por esse mundo afora, com muitas sequelas físicas e psicológicas. O que estão fazendo é reconhecer uma dívida do Estado Brasileiro”, avaliou o coordenador do Mohan, Élson Dias.


Em agosto de 2013, a presidente Dilma Rousseff se comprometeu em assinar um ato normativo no qual pagaria aos filhos uma indenização que pode chegar a R$ 100 mil. uma comissão interministerial ficou de decidir, junto com representantes dos filhos de vítimas da hanseníase, o formato da norma (se será lei, decreto, medida provisória) e discutir valores e formas de pagamento. Para ter direito ao benefício, os filhos terão que ter nascido até 1990 e apresentar documentos que comprovem a internação dos pais ou responsáveis.


A hanseníase


É uma doença crônica, infecto-contagiosa, causada por uma bactéria denominada mycobacterium leprae. A doença afeta a pele e os nervos. Quase todo o corpo pode ser acometido, mas as regiões mais afetadas são as extremidades (braços, mãos, coxas, pernas, pés) e a face. Quando não tratada, a doença pode causar deformidades que incapacitam o indivíduo para o trabalho e socialmente. No momento atual, depois da introdução do tratamento poliquimioterápico, da Organização Mundial de Saúde (PQT-OMS), pode-se afirmar que a hanseníase tem cura. O diagnóstico precoce, o tratamento regular e o acompanhamento da equipe médica poderão impedir o aparecimento das deformidades incapacitantes, modificando a imagem da doença no Brasil e no mundo.


 


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