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Cientista político da Ufac suspeita de manipulação
de resultados para induzir o eleitor


Cerca de 30 mil eleitores foram consultados sobre suas intenções de votos no primeiro turno, mas após a abertura das urnas os resultados foram surpreendentes. Cientistas políticos aconselham institutos e políticos mudarem suas metodologias, mas a guerra dos números continua. TRE diz que se for provocado abre processo contra instituto que errou além da margem prevista.

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Há oito dias do segundo turno das eleições para governador do Acre, o gasto com pesquisas eleitorais já ultrapassa a cifra de R$ 1 milhão. A prevalência das pesquisas qualitativas sobre a intuição politica se torna a cada ano uma das ferramentas mais poderosas das eleições e à medida que vai se aproximando o dia “D”, os debates em torno dos levantamentos estatísticos ficam cada vez mais acirrados e os investimentos também. Entre os dias 08 e 18 de outubro, partidos políticos, sites e uma rede de televisão, estão desembolsando R$ 212.837. Um total de 4.712 pessoas foram ouvidas com o único objetivo: conhecer qual a sua intenção de voto.


Se recorrermos aos dados declarados através do registro de pesquisas disponibilizado pelo Tribunal Regional Eleitoral do Acre (TRE), em 2014, por 24 vezes,  uma parcela do povo acreano foi interrogada sobre em quem votaria aos cargos de presidente, governo, senado, deputado federal e deputado federal. Do universo de 506.723 eleitores, 33.504 (6,5%) foi entrevistado por cinco institutos diferentes que se revezaram na tabulação dos dados. Esse número não foi maior porque o TRE impugnou 8 pesquisas.


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O Instituto Delta, conhecido como o que melhor se aproxima dos resultados das urnas, foi quem mais ouviu eleitores, um total de 13.200 no primeiro turno. O Phoênix, estranhamente contratado por empresas do estado de Rondônia, colocou seus pesquisadores nas ruas 9 vezes e ouviu 8.768 eleitores. O Vox Populi, contratado 5 vezes no primeiro turno, 4 delas pelo Partido dos Trabalhadores, ouviu 6.100 eleitores. O Instituto Data Control, em uma única pesquisa registrada, a pedido do site Contilnet, ouviu 3.000 eleitores. Quem menos ouviu eleitores no primeiro turno através de sua metodologia foi o Ibope, contratado pela Rede Amazônica de Televisão, um total de 2.436 pessoas ouvidas em três pesquisas de campo.


Com relação às eleições anteriores, esse é o maior volume de pesquisas já registrado. Talvez por isso os candidatos a cargos majoritários reclamaram tanto dos números divulgados, contribuindo com uma verdadeira guerra digital pelas redes sociais, onde cada militante ou simpatizante puxou para sua sardinha seguindo a teoria de que as pesquisas acabam influenciando no resultado das eleições.


Embora não exista nenhum estudo sobre a influência das pesquisas no voto dos eleitores, a Associação Mundial de Pesquisa de Opinião Pública chegou a resultados “inconclusivos” sobre a questão e afirmou à Revista Veja semana passada, que quando ocorre essa influência, o efeito mais comum é levar os indecisos ou sem voto definido (os chamados volúveis) a optar pelo candidato que tem mais probabilidade de vencer ou que está na frente nas pesquisas. Mas nem sempre isso é regra.


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Instituto Phoenix foi quem mais andou e mais errou na eleição de 2014


No Acre, a exemplo do que aconteceu no cenário nacional, foram registrados erros nos resultados das pesquisas acima dos percentuais permitidos (2 pontos para cima ou para baixo).


No dia 2 de outubro a empresa J.J. Coelho, mais conhecida como Instituto Phoênix, publicou em um site de notícias do interior uma pesquisa que apontava a vitória no primeiro turno do candidato Tião Bocalom (DEM) sobre o candidato à reeleição pelo PT, Sebastião Viana, com uma diferença de 9,2 pontos percentuais, algo em torno de 46 mil votos de diferença.

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O resultado que só Tião Bocalom acreditava – ele chegou a defender o Instituto várias vezes durante a campanha – foi o erro mais grosseiro cometido por um instituto nas eleições deste ano. E justamente com o candidato Tião Bocalom, um matemático que em todas as suas candidaturas reclamou ter sido prejudicado com a divulgação de pesquisas pelo Ibope.


Com a abertura das urnas, além de não vencer as eleições, Bocalom ficou em terceiro lugar, atrás de Marcio Bittar, com 19,6% de pontos percentuais, obtendo a pior votação desde quando concorreu a primeira vez como candidato ao governo do Acre, em 2006.


OUTROS INSTITUTOS TAMBÉM ERRARAM – Se nas eleições anteriores o Ibope foi apontado negativamente por Bocalom, em 2014, o instituto sempre o trouxe à frente de seu colega de oposição, Marcio Bittar. Horas antes do dia 5 de outubro, esse mesmo instituto colocava Tião Bocalom (DEM) e Marcio Bittar (PSDB) empatados tecnicamente com 23% das intenções de votos. Com 95% das urnas apuradas, além do erro grosseiro já apontado em desfavor de Tião Bocalom, dois pontos chamaram a atenção de cientistas políticos.


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O primeiro registou a decaída do candidato à reeleição Sebastião Viana (PT), contrariando a possibilidade de o petista ganhar as eleições no primeiro turno, fato que foi amplamente divulgado principalmente pelo Instituto Vox Populi. O candidato da Frente Popular terminou com 49,7% dos votos.


O segundo foi o desempenho não apontado nas pesquisas do Ibope e Vox Populi do candidato tucano Marcio Bittar que cresceu entre os dias 3 e 5 de outubro, 6,9% pontos. Se relacionado o resultado das urnas com os apontados pelo instituto Phoênix, o desempenho de Bittar foi ainda mais surpreendente, atingiu à casa dos 11% de crescimento. O tucano foi para o Segundo Turno com 30,1% dos votos válidos.


Nem o Instituto Delta escapou dos erros nestas eleições. Ele apontava a vitória de Sebastião Viana nas 22 cidades do Acre. Bocalom ganhou as eleições em Acrelândia – terra onde foi prefeito – e no município de Plácido de Castro, no Abunã, onde também tem forte influência principalmente na zona rural.


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Para cientistas políticos o eleitor não erra; os institutos e os políticos precisam rever metodologias


A reportagem ouviu dois doutores em ciências politicas da Universidade Federal do Acre na tentativa de entender o fenômeno das urnas que ocorreu nas eleições de 2014. Com relação aos erros de pesquisa no estado, o professor Helder alertou para o que chama de clara instrumentalização como forma de indução da vontade do eleitorado.


“Não se justifica os erros dos institutos, o que dá para suspeitar é de uma manipulação desse negócio”, acrescentou.


Analisando o comportamento das pessoas horas antes da votação, o cientista descarta o que alguns colunistas políticos apontaram como ‘chilique eleitoral’, condenando o modelo de eleição onde o marketing prevalece acima do discurso e do conteúdo programático. Para ele, o Acre registra uma das campanhas mais pobres em termos de plataforma de governo.


“Estamos diante de um cenário pobre de conteúdo”, concluiu.


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O professor Nilson Euclides, do Centro de Filosofia e Ciências Humanas, afirma que não houve, principalmente em nível nacional, nenhuma força sobrenatural, “o eleitor não erra, vota no candidato que ele acha que vai trazer benefícios para ele”, comentou.


Com relação ao fenômeno Aécio, Euclides vê como um fato que precisa ser estudado e defende que os institutos se preparem para as reações que ocorrem mais perto do pleito, citando o tempo de copilação de dados como fator desfavorável, principalmente na divulgação dos resultados de pesquisas na semana final de uma eleição.


“O eleitor foi dormir pensando em votar na Marina e amanheceu votando em Aécio Neves, isso pesquisa nenhuma registra. É um fato que precisa ser estudado”, afirmou.


Regionalizando sua análise, o professor afirma que dificilmente o candidato tucano Marcio Bittar tivesse esse aproveitamento sem pelo menos um estreitamento do que está acontecendo em nível nacional. Ele lembra que candidatos tucanos à presidência da republica sempre se deram bem no colégio eleitoral acreano.


“Essa onda do Aécio ainda não foi contabilizada totalmente nas eleições do Acre, mas ela pode ser inserida nesse processo. O eleitor começa a fazer essa conexão, um governo de 12 anos a nível nacional e um de 16 anos aqui. Ambos com a máquina nas mãos, fortes, com militância, mas que entram num natural processo de desgaste,” analisou .


Com jogo embolado, guerra das pesquisas continua no Segundo Turno


Mesmo com os resultados surpreendentes do primeiro turno, a contratação dos institutos de pesquisas para o segundo turno das eleições no Acre não cessou. O Instituto Delta, patrocinado pelo site Contilnet foi o primeiro a divulgar abordagem apontando um empate técnico entre os candidatos Sebastião Viana (47.5%) e Marcio Bittar (46,8%).


A leitura das estatísticas aponta para uma transferência de 80% dos votos de Tião Bocalom para o candidato tucano Marcio Bittar – única explicação para a subida crescente do tucano desde o encerramento da apuração de primeiro turno no dia 5 de outubro. Diz ainda, que 12% dos entrevistados podem mudar seu voto.


Em ato contínuo, dois institutos de pesquisas, o Ibope e o Vox Populi, registraram abordagens no TRE dia 12. A Vox Populi mais uma vez contratada pelo Partido dos Trabalhadores – o que mais gastou com questionários de intenções de votos – apontou sua vitória com 52% das intenções de votos no Segundo Turno, praticamente 9 pontos à frente do tucano Marcio Bittar. O Ibope deu 53% para Sebastião Viana contra 47% de Marcio Bittar. Nessa abordagem da empresa contratada pela Rede Amazônica, Bittar está apenas 6 pontos atrás do atual governador.


Mais duas divulgações estão sendo aguardadas para essa semana, entre os dias 23 e 25. Qual será o real resultado das urnas, isso somente o TRE apontará próximo das 20 horas do domingo, dia 26.


PT foi o partido que mais contratou pesquisas eleitorais no Acre


Entre as contratações registradas pelo TRE do Acre, o partido dos trabalhadores foi o que mais dissipou seu poderio econômico. Somente para a amostragem divulgada ontem (17) em que o candidato à reeleição Sebastião Viana aparece acima dos 52% das intenções de votos, o PT desembolsou R$ 97.500.


Somados as transferências feitas no primeiro turno para o Instituto Vox Populi, a cifra de investimento em pesquisa eleitoral pelo Partido dos Trabalhadores chega a mais de R$ 400 mil (R$ 413.700).


A enxurrada de dinheiro gasto no primeiro turno não foi capaz de reconduzir Sebatião Viana ao Palácio Rio Branco no dia 5 de outubro. Pela primeira vez um candidato petista disputa o Palácio Rio Branco no segundo turno.


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