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Empresa peruana instalada no Acre anuncia fim da rota internacional Brasil-Peru

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Numa terça-feira, 10 de maio de 2009, foi inaugurada a primeira rota internacional terrestre de turismo saindo de Rio Branco (Acre) com destino a Porto Maldonado (Peru) sob o comando da empresa de turismo peruana Movil Tours.


Cinco anos, cinco meses e seis dias depois do tão falado sonho de integração, a empresa anuncia o fim da rota que une o Acre com Peru. A notícia foi confirmada pelo gerente de vendas e representante da Movil Tours no Acre, Leodir Alves, em entrevista a reportagem do ac24horas.

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Segundo Leodir Alves a última viagem será realizada na quarta-feira, 04 de novembro de 2014. Questionado quanto aos motivos que levaram a empresa a decidir pela suspensão da rota, Leodir Alves atribui uma série de fatores, entre os principais ele cita: transporte irregular praticado por taxistas, a pouca procura por parte de brasileiros e peruanos e o excesso de multas aplicadas pela Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT).


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Segundo Leodir Alves, a rota tem se tornado inviável a algum tempo. Ele ressalta que embora algumas articulações tenham sido realizadas nada avançou para amenizar os prejuízos por parte da empresa.


“Participei de algumas reuniões com representantes do RBTrans e da Setul, onde foi exposto essas e outras dificuldades que temos enfrentado, mas até o momento nada aconteceu. A burocracia e a demora nos obriga a tomar essa decisão. Hoje essa rota representa prejuízo a empresa. Temos ai, debaixo do nosso nariz, uma concorrência desleal praticada aqui dentro da Rodoviária Internacional, que é o aliciamento de passageiros por parte de taxistas credenciados”,denunciou.


Revoltado, Leodir Alves destacou ainda o fato da empresa cumprir todas as normas internacionais, pagar impostos e funcionários, enquanto que os taxistas atuam de forma irregular sem sofrer sequer uma fiscalização por parte dos órgãos competentes.


Em posse de uma série de multas, o representante da empresa critica ainda as péssimas condições das estradas a partir do trecho Assis Brasil – Brasileia, que tem provocado a frequente quebra de para-brisas do ônibus, o que acarreta também a aplicação de multas pela ANTT.


“Não é segredo as péssimas condições das estradas quando cruzamos a fronteira para entrar em território brasileiro. A recuperação da BR quando feita de maneira equivocada (remendos de asfalto frio e brita) e a presença de pedreiras acaba trazendo prejuízos como a quebra de para-brisas e retrovisores. Cada troca de para-brisa custa pelo menos R$ 1 mil. Aqui em Rio Branco não podemos sanar problemas envolvendo troca de peças e reposição porque não existe no mercado local, já que o ônibus veio do Peru. Daí, isso nos gera multas altas de R$ 2 a 2,5 mil e o que é pior na entrada e na saída, ou seja, multa dobrada. Todos esses fatores somados nos obriga a parar”, relata.


Os preços das passagens custam por pessoa R$ 102, 00 (Rio Branco a Porto Maldonado), R$ 152, 00 (Rio Branco a Cusco) e R$ 252, 00 (Rio Branco a Lima). O representante da empresa relatou que já foram demitidos três funcionários e que outros quatros que atuam no Terminal Rodoviário também devem ser demitidos até que seja concluída a última viagem terrestre.


Reportagem provoca reação

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Quando a reportagem concluía a edição da matéria, recebemos a ligação do representante da empresa, Leonir Alves, que temendo represarias alegou que a data divulgada anteriormente, 04 de novembro, poderá não ser efetivada, já que ele havia sido informado a poucas horas que uma intervenção diplomática por parte do cônsul peruano em Rio Branco, Félix Vasquez, estaria sendo colocada em pratica para revogar a decisão da empresa.


Além disso, o representante alegou ainda que havia chegado ao seu conhecimento, também recentemente, que para efetivar a interrupção definitiva da rota precisaria de uma autorização da Agência Nacional de Transporte Terrestre (ANTT), que poderá demorar até 60 dias para expedição do documento, o que poderá prorrogar a decisão por mais 60 dias ou até mesmo por tempo indeterminado.


Fiscais da ANTT não podem conceder entrevistas


Para esclarecer quantos aos procedimentos adotados pela agência fiscalizadora quanto à aplicação de multas, a reportagem buscou também ouvir o representante da Agência Nacional de Transporte Terrestre no Acre (ANTT), que possuem um escritório funcionando no Terminal Rodoviário de Rio Branco, mas infelizmente não foi possível averiguar os fatos, já que um servidor, que pediu para ter sua identidade revelada, explicou que somente a ANTT em Brasília está autorizada a conceder entrevistas a imprensa.


Saiba como ocorre o aliciamento e o esquema de transporte irregular


Sem que fossemos identificados, a reportagem do ac24horas foi aliciada ao chegar ao Terminal Rodoviário, o que comprova a declaração da empresa peruana.


“Senhora, taxi saindo agora para Brasiléia, vamos?!”, abordou um dos taxistas que atuam na plataforma da Rodoviária Internacional de Rio Branco.


Para disfarçar, nossa reportagem perguntou quanto seria para ir até a fronteira de Assis Brasil (Acre) com Iñapari (Peru). Um dos homens respondeu afirmando que para chegar até a fronteira a viagem sairia a R$ 60, 00 por pessoa com lotação de 04 passageiros. Caso esteja apressado, a viagem sairia um pouco mais cara, em torno de R$ 350,00 até Assis Brasil ou R$ 260,00 até Brasiléia (transporte individual).


O taxista completa ainda explicando que ao chegar a Brasiléia outro taxista realiza o transporte até a fronteira por mais R$ 80,00. Já em solo peruano, o passageiro pode embarcar em vans que cobram entre R$ 60 a 80, 00 por pessoa até a cidade de Porto Maldonado, explicou o taxista que não teve o nome revelado.


RBTrans diz desconhecer pratica de aliciamento e promete apurar denuncia


Para entender quais os procedimentos a serem obedecidos para o credenciamento de taxistas, a reportagem do ac24horas se dirigiu ao RBTrans, órgão responsável pela fiscalização na capital.


O superintendente do RBTrans, Ricardo Torres, explicou que o correto é um táxi credenciado para mil pessoas. Em relação ao credenciamento especial para rodoviária, ele afirmou que não existe um limite ‘territorial’ estabelecido para atuação desses profissionais.


Ricardo Torres disse que o exercício da atividade não pode, portanto, configurar transporte irregular ou clandestino, pois, segundo ele, um passageiro pode contratar o serviço de um taxista e se deslocar até para outra cidade, desde que acordado entre as partes.


Questionado quanto ao aliciamento de passageiros dentro do Terminal Rodoviário por parte de taxistas e uma possível omissão por parte do órgão, já que no local possui uma unidade da RBTrans, Ricardo Torres disse desconhecer a pratica.


“Não chegou ao nosso conhecimento esse tipo de pratica, agora que estamos sabendo vamos atuar, já que toda denuncia é passível de apuração, investigação e se constatado o ato inflacionário, o caso será encaminhado a Corregedoria do órgão para que sejam adotadas as medidas cabíveis”, ressaltou.


Para encerrar, Ricardo Torres explicou que fica caracterizado, sim, transporte irregular de passageiros quando ocorrem idas e vindas entre o estado e municípios. Ele destacou ainda que não é correto o aliciamento de passageiros, pois o mesmo configura ato inflacionário.


“Se constatado o ato inflacionário, o profissional estará passível a aplicação de multa e até a suspensão do credenciamento em caso de reincidência”, concluiu.


Secretária de Turismo promete unir esforços para manter rota internacional


Por meio da Assessoria de Comunicação da Secretaria de Turismo e Lazer (Setul), a secretária Rachel Moreira informou que ‘está ciente da situação e que o Governo do Acre, por meio da Setul e Secretaria de Desenvolvimento Florestal, da Indústria, Comércio e dos Serviços Sustentáveis (Sedic) está negociando diretamente com o dono da empresa, sediada em Lima, para tentar reverter à situação. A conversa estaria sendo intermediada com a colaboração do consultado peruano’.


Rachel Moreira disse que reconhece o fato de muitos acreanos preferirem utilizar outros meios, como vans e até seus próprios veículos para viajar ao Peru. “O governo estuda quais são as formas legais de incentivo, mas aguarda que a empresa declare que tipo de apoio espera. O Acre tem interesse que esta linha seja mantida, para fortalecer a Rota Pantanal-Amazônia-Andes-Pacífico. O governo fará o que for possível para mantê-la dentro das vias legais, é claro”, destacou a secretária.


Cônsul peruano encontra-se de férias em Lima


Em contato com o consulado peruano, a reportagem foi informada que o cônsul general, Felix Vasquez, está de férias em Lima (Peru) e que só retornará as atividades a partir do dia 25 de outubro. Por telefone, tentamos contato com o Cônsul Geral Adjunto, Sandro Baldárrago Silva, mas até o fechamento desta matéria não conseguimos falar, tampouco obtivemos retorno das ligações efetuadas.


O sonho de integração


Quando inaugurada a rota internacional, por meio da empresa Movil Tour, a então secretaria de Esporte e Turismo e Lazer, Suely Melo, afirmava que o fato representava um “sonho que começou ainda no governo de Jorge Viana e se concretizou no governo de Binho Marques. A nova rota será estratégica para solidificar o turismo do Acre”, afirmou durante a viagem inaugural realizada em 24 de maio de 2009 que tinha como objetivo promover as rotas turísticas. Na oportunidade, participaram da viagem secretários, empresários, parlamentares e jornalistas.


Na época foi firmado um protocolo de intenções ‘por meio do qual autoridades brasileiras e peruanas se comprometem com o estabelecimento de um cronograma comum para intensificar o turismo entre os dois países. Como primeiro compromisso, foi firmado um plano de marketing para a rota, que inclui apoio à comercialização, divulgação e promoção no continente sul-americano e em outros países com potencial de emissão de turistas para a região’, relatava trecho de uma das reportagens.


Não vingou! Integração aérea não durou um ano


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Foto: Luciano Pontes

Em 2010, novamente a imprensa acreana divulgou aquilo que seria um ‘fato histórico importante para o turismo do Acre’ com o voo inaugural da empresa Star Perú realizado na segunda-feira, dia 20 de setembro de 2010.


A companhia prometia operar com voos regulares Rio Branco, Cusco e Lima, ligando Acre e Peru. Mas, os voos que saiam as segunda e sexta-feira, tiveram fim antes mesmo de completar um ano.


Em junho de 2011, as empresas de turismo que operam em Rio Branco já anunciavam o fim dos vôos internacionais regulares: Lima, Cusco, Porto Maldonado, Acre, Brasil. Sem muita explicação por parte das autoridades locais e tampouco peruanas, as agências de turismo alegavam aos clientes que ‘os vôos teriam sido cancelados devido problemas alfandegários e burocráticos por ambos os países.


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