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Rua Valdomiro Lopes tem o maior número de Igreja por metro quadrado na capital

Vende-se Jesus_abre


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A rua Valdomiro Lopes, no bairro da Conquista, é considerada por muitos como o local na em Rio Branco com o maior número de igrejas por metro quadrado – um total de 22 prédios. São tantas as denominações diferentes que não é raro encontrarmos uma igreja em frente da outra, ou mesmo ao lado, divididas apenas por um muro, compartilhando a mesma parede, mas disputando decibéis e membros infiéis. Todo mundo que passa pela rua fica impressionado com a quantidade de denominações. São Templos, pontos de pregação, salas e até portinhas, onde o nome “Jesus” é exaltado e o “Povo de Deus” reúne-se para exercer a sua fé.


Calcula-se com base nos dados disponibilizados pela Secretaria de Articulação Comunitária do município de Rio Branco, que para cada 113 habitantes do entorno da Rua Valdomiro Lopes, exista uma Igreja. O que para muitos é o avivamento, para outros é a banalização da religião. Se por um lado essa proliferação possibilita a disseminação da Palavra de Deus, por outro, gera situações curiosas.

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A primeira delas diz respeito aos horários de funcionamentos de cultos e eventos, na maioria das vezes, no mesmo horário e mesmo dia. Os pastores afirmam que não existe nenhuma concorrência ou disputa por membros. Mais alguns moradores, como dona Elizabeth Albuquerque, se impressionam com a quantidade de Festivais, Congressos, Louvorzões e até Virgílias.


“Tem noite que nem dormimos direito com tanto barulho”, comentou a dona de casa.


Eventos que para o escritor Wayne Meeks, revelam de maneira discreta, a disputa que acontece entre as denominações, porque a Igreja acaba sendo avaliada – na opinião do escritor – pela popularidade e quantidade de eventos. Um ex-seguidor da Igreja Evangélica, que pediu sigilo de sua identidade, afirma que tais eventos carregam uma leve maquiagem cristã. Ele cita a publicidade como uma cortina que esconde as reais intenções de cada dirigente.


“Os pregadores, os cantores e as bandas são pagos com altos cachês para atrair multidões”, diz o desviado.


O Padre e Reitor da Catedral Nossa Senhora de Nazaré, Massimo Lombardi, ouviu história semelhante de outro Pastor que lhe confidenciou a preocupação com o teatro, show e mercado dentro das Igrejas.


“São pistas para entendermos esse processo de crescimento de tantas placas novas de ministérios”, comentou o sacerdote.


A Igreja Católica tem três templos na região, mas que segundo o padre Massimo seguem orientações do Bispo. Ele cita a Assembleia de Deus, que tem como referência o Pastor Presidente, avaliando o crescimento de segmentos evangélicos que não são espontâneos, “e que surgem apenas por causa da divergência entre dirigentes”, explicou.


Sem querer conflitos e afirmando que “vivemos em um estado democrático”, o Padre diz que a Igreja Católica tem três balizas: a leitura bíblica, a palavra de Deus e a caridade. O estudioso Meeks, vai além em sua análise, para ele, as várias denominações e a publicidade em torno de Jesus Cristo, transformam o filho de Deus como uma nova marca comercializada.


“Como uma marca de xampu promete uma solução para o cabelo crespo, uma marca de detergente uma solução para uma roupa amarelada, um novo modelo de carro a resposta para a solidão, Jesus é a resposta para qualquer coisa que você deseje”, diz o estudioso.


O teólogo e reitor da Faculdade Ebenezer, Paulo Machado, prefere uma análise mais profunda [que veremos na íntegra neste domingo], para ele, a questão da Rua Valdomiro Lopes não pode ser analisada isoladamente, o fenômeno do crescimento de evangélicos no Brasil e no Estado do Acre, depende da compreensão de um estudo Antropológico e Sociológico relacionado ao século 21.


“Partindo da premissa que o ser humano é naturalmente religioso, isto é, no conceito da psicologia da religião, ele nasce religioso, por isso, considerando sua natureza espiritual e mística, ele organiza seus conceitos de religião na medida de seu desenvolvimento sócio cultural. Resumimos esse entendimento analisando 3 períodos específicos: Idade média; modernidade; e pós modernidade”, diz o Pastor.


Ainda segundo Paulo Machado, nos tempos atuais, ao que chamamos de pós – modernidade, o homem enfrenta uma crise de identidade, que é própria dos períodos de transição. Essas crises são provocadas pela necessidade de autoafirmação do homem em sociedade.


Igreja x violência

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A segunda situação curiosa diz respeito a saída dos nomes bíblicos dos prédios das Igrejas para as fachadas comerciais. Andando pelas ruas dos bairros Conquista e bairro da Paz, observa-se que essa influência. Restaurante e Mercearia Unção II, empreendimento Imobiliário Shalon, não é difícil encontrar estabelecimentos com esses nomes. Seria uma tentativa de proteção?


Nem sempre isso não significa total proteção. A Mercearia Bom Jesus, por exemplo, já foi assaltada duas vezes somente este ano. Segundo o presidente da Associação de Bairro, Pedro Barbosa da Silva, o número de roubos e assaltos, os chamados crimes contra o patrimônio, não diminuíram. Mas nessa guerra que ele chama de pacificação, pelo menos uma vitória existe: a redução dos números de bares e casas noturnas.


“Graças as Igrejas se reduziu quase que 80% o número de bares. Algumas alugaram ou compraram prédios onde funcionavam esses ‘inferninhos’”, disse o presidente.


De fato, existem apenas dois grandes bares entre a Conquista e o Bairro da Paz. E quando a relação é Igreja x Violência, outro fator, a presença do Estado, é citada por um dos moradores mais antigos, Ivonaldo Rebolsas, como influenciador na diminuição da violência. Pelo menos o número reduzido de homicídios nos últimos anos é comemorado.


“Era um dos bairros mais violentos da capital, hoje depois da urbanização, da Fameta, os casos são pontuais, os crimes são cometidos por pessoas de outras regiões e o trabalho social das Igrejas tem sido fundamental”, opinou Rebolsas.


Os dados batem com os números apresentados pela Policia Militar do Acre. Segundo o Major Messias, comandante do 4º Batalhão, em 2013 foi registrado apenas um homicídio na região. Ele também cita a infraestrutura como divisor entre o antes e o depois.


“Em 2002 e 2003 quando tinha a Base Comunitária da Conquista não existiam ruas asfaltadas, então, tinha a presença da Policia, mas não tinha acesso à comunidade, os índices de crime e violência eram bem maiores”, comentou o comandante.


O Padre Massimo ilustrou o trabalho das policias afirmando que no presídio Francisco de Oliveira Conde, somente da Rua Valdomiro Lopes, existem 15 jovens presos. Ele informa que as Festividades Sociais, a Escola de Alfabetização, Escola de Música e a distribuição de alimentos, trabalhos sociais feitos pelas Igrejas Católicas, ajudam na redução da violência.


“Uma das alternativas para um Estado mais seguro é evitar que a juventude seja recrutada pelo crime”, concluiu o Padre.


Diante das frequentes críticas ao Governo do Estado pela falta de um plano de segurança claro, esse é um modelo que deve ser seguido. Mas com relação à venda ou não do nome de Jesus Cristo, é bom ficar atento ao que o teólogo Paulo Machado abordará amanhã:


“Cabe a cada pessoa, ser temperante no que busca. Fé e Razão devem caminhar juntas. Examinar as Escrituras é o caminho mais seguro para não ser enganado, e ao mesmo tempo, encontrar a tão desejada resposta para o espírito,  e a solução para os problemas materiais da alma”.


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