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Roger Pinto Molina, líder da oposição ao presidente Evo Morales, passa festas de final de ano ao lado da família, em cidade do interior do Acre

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Ainda estava escuro quando adentramos a estrada de terra que nos levaria ao “esconderijo” do senador boliviano Roger Pinto Molina, líder da oposição ao presidente Evo Morales, exilado no Brasil. Ele e a família estão desde o dia 20 de dezembro em uma cidadezinha do interior do Acre e a primeira das três senhas para passar pelas barreiras improvisadas é “grande amigo”. Depois de passar por um bosque numa pequena cabana a beira da estrada, homens a paisana da segurança pessoal de Molina fazem uma revista no carro, pedem identificação dos ocupantes e perguntam o que queremos. A resposta é “comitiva do El cabecion”, uma menção ao senador brasileiro Sérgio Petecão. De pronto os homens batem continência e a reportagem acompanhada do senador do Acre segue viagem, até a margem de um rio, onde está a casa da família Molina. Na chegada uma revista geral e ao pronunciar a última senha – ele pediu para não mencioná-la – somos levados até  uma área de uma bonita casa, onde Molina já nos aguarda.


Nos últimos meses, o senador boliviano está á espera de asilo no Brasil. Roger Molina mora de favor num quarto de empregada, desde que buscou a proteção da bandeira brasileira. Ele pediu socorro à embaixada do Brasil em La Paz e endereçou uma carta a Dilma Rousseff. Onze dias depois, em 8 de junho de 2012, recebeu uma boa notícia: a presidente brasileira concedera-lhe o asilo político. Evangélico da igreja Batista, Roger Molina dirigiu palavras de agradecimento a Deus. Desde então, mastiga o pão que Satanás amassou.

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A princípio o líder da oposição ao presidente Evo Morales pede reserva e só depois de quase duas horas permite a entrada da reportagem. Ele prefere não gravar entrevista, mas faz revelações de quão mal acompanhado está o presidente boliviano. “Ele se acompanha do que de pior tem na Bolívia. Quintana – ministro da casa civil e o todo poderoso de Evo Morales é um assassino. Foi ele quem mandou matar seringueiros brasileiros e bolivianos que ocupavam as margens do rio em Povenir. Ele queria liberdade para os traficantes e tomou aquelas terras para o cultivo de cocaína”, garante.


Contando com a cumplicidade de diplomatas brasileiros, Roger Molina passou 452 dias numa sala da embaixada brasileira à espera de um salvo-conduto que o governo de Evo Morales se negou a emitir. Desovado clandestinamente no Brasil em agosto passado pelo diplomata Eduardo Saboia, que organizou uma fuga cinematográfica de 22 horas, o senador boliviano aguarda há quatro meses pela confirmação do asilo que o fizera dar graças a Deus há um ano e meio. Sem resposta, ele mora de favor em Brasília, num quarto de empregada do apartamento funcional do senador Sérgio Petecão (PSD-AC).


De olho na ajuda financeira que pode receber de empresários simpatizantes de Molina, para sua campanha ao governo do Acre, Petecão chegou a receber, no meio do ano o senador na Chácara Boi Cagão. “Nem sei se é legal dar abrigo a ele. Tomei a iniciativa porque o cara não conhece ninguém”, afirma Petecão. “Além disso, o governo brasileiro não legalizou a situação dele, mas também não expulsou o Roger do país. Em algum lugar ele tinha que ficar!” Até quando? No momento, essa resposta depende do posicionamento do Comitê Nacional para os Refugiados, o Conare, órgão do Ministério da Justiça.


Molina 700


Roger Pinto Molina chora ao falar que não pode voltar a sua pátria-mãe. Diz que vive trocando de local de dormida temendo por supostos ataques que possam ocorrer na residência que escolheu para passar o final de ano com a família. “Espero que um dia tudo isso possa acabar e que eu e minha família possamos voltar para a Bolívia”. Molina diz que hoje a Bolívia vive em uma ditadura “cubana” modernizada, onde a vontade de Evo Molares é imposta às custas de intimidações, perseguições e mortes.


Há uma semana, o advogado brasileiro que zela gratuitamente pelos interesses de Roger Molina, Fernando Tibúrcio Peña, encontrou-se por acaso com o ministro José Eduardo Cardozo (Justiça). Trombou com ele no Rio, na festa de casamento da filha de um amigo comum, o advogado e ex-deputado petista Sigmaringa Seixas. Rogou que desse atenção ao caso do seu cliente. O ministro limitou-se a dizer que o Conare julgará o pedido “em breve”.


Durante as quatro horas que passamos no “esconderijo” no Acre, Roger Pinto Molina, em nenhum momento deixou a sala que funciona como escritório. A grande área da Casa da Mata é ocupada por homens fortemente armados disfarçados de jardineiros, agricultores e operários. Na casa só entra quem é autorizado por um irmão do senador. Até mesmo os netos de Molina só podem brincar na área externa uma hora por dia e mesmo assim depois de uma demorada varredura num raio de 500 metros.


Desde que chegou ao Brasil, há quatro meses, Roger Molina engordou cerca de cinco quilos. A convite de Petecão passou a acompanhá-lo em caminhadas matinais ao redor da quadra onde está assentado o edifício de apartamentos funcionais do Senado. No mais, só deixa o apartamento de raro em raro. “Ele dorme mal no quarto de empregada, mas usufrui de todo o imóvel de dia”, Petecão esclarece. “Passa horas na internet, acompanhando o noticiário sobre a Bolívia num tablete.”


 


Para evitar localização do líder da oposição ao presidente Evo Morales, a cada duas horas é feito a troca de chips dos telefones usados na residência do


Acre. Molina não fala com ninguém. Seu quartel general cuida de pegar os recados e repassá-los e de acordo com a importância do assunto, horas depois retorna a ligação com o posicionamento do senador exilado. “É uma tortura psicológica muito grande”, diz Molina, que não revela o dia que retornará à Brasília, onde aguarda uma decisão governo brasileiro sobre o seu pedido de exílio.


Roger Molina teria contrariado os conselhos de Sérgio Petecão. O senador do Acre que atua como um verdadeiro anjo da guarda para o político boliviano era contrário a vinda de Molina ao Estado. O senador boliviano teria ganhado a passagem de presente, para passar o Natal com a família. A mulher, Blanca Inez Pinto, três filhas e dois netos se autoexilaram numa cidade acreana, próximo da fronteira.


“Fui contra a ida dele para o Acre porque tenho informações que me chegam dos amigos”, diz Petecão, em timbre enigmático. “A vida do Roger corre risco.” Foi para atenuar os supostos riscos que o anfitrião de Roger Molina achou melhor trazer os familiares para a capital, Rio Branco. Alojou-os num sítio, para que Roger Molina pudesse usufruir-lhes a companhia sem o risco de ser capturado na fronteira e arrastado para o lado boliviano.


A demora na análise do pedido de asilo fez de Roger Pinto um personagem envergonhado. “Quando ele saiu para viajar, me disse que estava com vergonha de estar aqui no apartamento”, confidencia Petecão. “Eu disse: da minha parte, não tenha cerimônia, você vai ficar aqui quanto tempo precisar. Ele me disse que volta depois do Ano Novo”. Que, no seu caso, chega enganchado a uma velha interrogação: até quando o governo companheiro vai tremer diante de Evo Morales?


Santo Petecão


Na edição da folha de S. Paulo do ultimo dia 21, o jornalista Josias de Souza diz que Roger mora de favor no Brasil.

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