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Pai de Alexandre acusa coronel da Polícia Militar de invadir delegacia para libertar sargento Mesaque “a força”

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Sem título-2Era 10h da manhã do último sábado, 14,  quando o mestre de obras Cleudes Pereira, 42 anos, recebeu a reportagem de ac24horas em sua residência, no bairro Estação Experimental, em Rio Branco. Abatido, demonstrando uma tristeza profunda, “o homem que trabalhou a vida inteira de sol a sol” teve que tocar num assunto delicado, que causa dor em toda a sua família: a morte do filho caçula Alexandre Pereira da Silva, de 21 anos,  atropelado por uma camionete modelo Hilux, conduzida pelo sargento da Polícia Militar Mesaque Souza de Castro, de 37 anos.


O acidente aconteceu na noite da última terça-feira, 10,  quando o jovem conduzia sua motocicleta em direção a um campo de futebol, próximo a rua Isaura Parente.  Ao ser atingido pela camionete desgovernada, Alexandre foi lançado na contramão da pista e logo em seguida foi atingido por um segundo veiculo.  Ele, ainda com vida, foi encaminhado ao Pronto Socorro de Rio Branco, mas não resistiu aos ferimentos e veio a óbito.


Até então, Alexandre poderia ser apenas mais uma vitima mortal do trânsito, dentre tantas, mas não foi. O jovem que ajudava o pai na construção de casas não recebeu apoio do Sargento da PM, que se evadiu do local, conduzindo a camionete cerca de 9km com a carcaça da motocicleta do rapaz presa na lataria.

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O pai de Alexandre, que tem mais dois filhos, revela a reportagem que a pouco menos de dois anos, a família sofreu um duro golpe ao perder a sua esposa Antônia, vitima de um infarto fulminante,  e agora, com a morte do filho, ele não teria mais motivos para viver.  Cleudes disse que Alexandre, por ser o mais novo, ainda não tinha superado a morte da mãe e, em vez por outra, chorava copiosamente por ela.


“Ele foi um filho criado com muito amor, com muito carinho, inclusive pela mãe dele, que meio que criou ele debaixo das asas. Ela faleceu no dia 19 de novembro de 2011 e o Alexandre ainda não tinha superado, chorava de vez em quando. Então, aqui nessa casa, morava só eu e ele. O meu outro filho é casado e a outra filha também. Ele era o meu único companheiro. Não é porque é meu filho, mas ele nunca me deu trabalho. Aliás, nenhum dos três. Ele era tranquilo, não bebia, não fumava. A única coisa que ele fazia era jogar bola, música sertaneja e de namorar. Ele não era de bagunça e trabalhava comigo na construção civil, já tinha uns três meses que trabalhava comigo, até então ele só estudava. Ele era um menino bem cuidado, de boa índole.”, relata Cleudes, informando que com o trabalho recente o filho havia adquirido a primeira motocicleta. “Eu o ajudei a ele ter esse bem. Ele se esforçou para ter isso”, disse.


CONFIRA – Video mostra momento em que Hilux de Sargento da PM arrasta motocicleta na BR


Cleudes afirmou que não se sentia culpado por ter ajudado o filho a comprar a motocicleta, “porque não foi a moto que trouxe o fim da vida dele, mas sim aquele individuo que estava embriagado, drogado, que apareceu lá do inferno para ceifar a vida do meu filho. Não mão dele, parado, com o pisca ligado, o individuo chegou e atropelou ele, levando a moto. Isso ai é uma coisa que a gente saber foi um dolo. Ele viu fogo, a faísca no carro, mas ele se negou, a parar, a socorrer o meu filho. Isso tá mais claro para as autoridades civis e militares que isso foi um dolo, o cara teve realmente a intenção de matar. Nada justifica ele ter arrastado a moto por 9km. Isso tá claro, qualquer juiz, qualquer promotor vai entender que ele fez. Nada que ele disser justifica que não tenha sido um dolo”, disse o pai, que mudou o semblante.


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O mestre de obras elogiou o delegado plantonista da policia civil Pedro Rezende, que segundo ele, “foi muito macho” por não ter cedido a pressão de militares que estavam no local. De acordo com o pai de Alexandre, a Coronel Margarete Oliveira, invadiu a delegacia e tentou tirar Mesaque “a força” da delegacia.


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“Eu peço justiça. Eu sei que nada vai trazer o meu filho de volta, mas eu quero justiça, porque logo, logo ele pode deixar outro pai chorando, outra família arrasada. Se ele ficar impune, ele vai se confiar que cada vez ele pode fazer o que quiser. E o pior, é que Coronel Margarete Oliveira, ainda acobertou o crime. Ela fez de tudo para que o delegado não prendesse ele. Ela foi uma pessoa que entrou no meio da briga para tirar ele de dentro da delegacia à força com outros policiais. O delegado da policia civil, responsável pelo caso, foi muito macho, ousado, eu queria que nesse Estado tivesse outros delegados desse jeito. Um jovem muito ousado, corajoso. Eu senti muita firmeza na atitude dele. Eu estive na delegacia e presenciei ela [Margarete] tentando tirar o policial à força junto com os comparsas dele, os policiais. Ela tentou tirar aquele marginal das mãos da justiça, mas aquele delegado foi muito ousado”, diz o pai.


Segundo Cleudes, Mesaque se negou a fazer o teste do bafômetro e o delegado, ao ver a situação do PM, resolveu classificar o crime como doloso. “Tiveram que utilizar força bruta para colocar o PM na cela e a Margarete tentando tomar ele das mãos do delegado. Eu estava lá e presenciei”.’


Sem título-2“Eu não sei o que aquela coronel foi fazer lá na delegacia, de madrugada, para tirar aquele cara, aquele marginal , tirar das mãos do delegado. Lá não é o lugar dela. O lugar dela é no Quartel durante o dia, no expediente, e não uma mulher, sem uniforme, resgatar com um bocado de comparsa”, revelou Cleudes, informando que havia uma viatura à disposição da Coronel com 5 homens.


Sobre as supostas denúncias que o Sargento da PM estaria recebendo regalias enquanto está detido no Quartel do Comando Geral da Policia Militar, Pereira foi enfático: “Ele não está sendo preso lá, ele está sendo guardado”.


Após a morte do filho, o homem de 42 anos disse que não recebeu nenhum contato da Policia Militar, do Governo  e nem dos Direitos Humanos. “Ninguém veio me procurar”, desabafou Pereira. “Esse governo fala muito em segurança pública, isso e aquilo, mas ele é zero para mim. Sempre eu vi isso e é assim que a sociedade ver. Essa segurança pública não é nada, ela só vale para pobre, para pessoas que vivem a margem da sociedade. Para esses coitados, a segurança serve”, criticou.


Depois de se exaltar, o pai de Alexandre voltou a ficar triste e começou a chorar com a situação. “Olha, a minha vida acabou, eu não tenho mais prazer de viver. A minha vida Deus me deu, só ele pode tirar; Eu já pensei em tanta coisa…tanta coisa…eu não tenho mais prazer de nada. Meu prazer acabou, mas minha vida é de Deus”, disse Cleudes, que logo após a conversa mostrou à reportagem as roupas que o filho usava no dia do acidente. A família estuda uma maneira de ingressar com uma ação contra o Sargento e o Estado do Acre.


“A PM não resgata policiais de delegacias; nós queremos que a lei seja cumprida”, diz coronel Margarete


image8370928010632229843Procurada pela reportagem, a coronel Margarete Oliveira disse que tudo não passou de um mal entendido. A militar afirma que em momento nenhum os policiais militares tentaram resgatar o sargento Mesaque. Ela esclarece ainda que esteve na delegacia para tomar conhecimento dos fatos, já que o militar envolvido era seu subordinado.


“Quando eu soube do acidente fui à delegacia para saber o que aconteceu e prestar apoio ao militar que era meu subordinado. Quem fez toda confusão foi um agente de Polícia Civil. O sargento pediu para ir ao banheiro, mas o agente foi intransigente e queria conduzi-lo à cela. A PM não tinha entregue o preso. Ele ainda estava sob custódia dos militares”, diz Margarete.


Segundo a militar, o capitão responsável pela prisão questionou o policial civil que estava muito agitado. “O capitão me repassou, que ele explicou ao policial civil que não havia possibilidade de levar Mesaque para cela, já que o delegado teria ido ao hospital para verificar o estado de saúde do jovem atropelado e não teria recebido o preso”.

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A coronel Margete esclarece ainda que chegou à delegacia após toda confusão. “Nunca a PM resgatou nenhum policial. Nunca passou isso pela nossa cabeça. Foi apenas um mal entendido do agente que passou um rádio para o delegado e deu informações equivocadas. O capitão encarregado esclareceu toda situação com o delegado”, enfatiza.


A militar destaca ainda que foi a própria PM quem efetuou a prisão e apresentou o sargento Mesaque ao delegado plantonista. “A PM não resgata policiais de delegacias; nós queremos que a lei seja cumprida. Fui ao local, apenas para dar apoio como todo comandante faz com seu subordinado. Somos agentes cumpridores da lei”.


Durante a conversa com a reportagem, Margarete Oliveira informou que “nem sabia que o Mesaque bebia. Toda família está arrasada. Tanto o sargento como sua esposa. A tenente-coronel Socorro, esposa de Mesaque, diz que ele vai ter que responder pelos seus atos, mesmo que isso signifique dor para ela e seus filhos”.


Ela finaliza afirmando que “em momento nenhum a PM está querendo proteger ninguém. Nós entendemos a dor de quem quer Justiça. O sargento Mesaque está preso e vai responder pelo inquérito que já foi instaurado. A corporação também sentiu, mas somos agentes da lei, temos que zelar pelo cumprimento das leis vigentes”.


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